Alegre e comunicativa, gerente de farmácia morreu de covid-19 após semanas de UTI

Fátima Regina Donato, 61 anos, morava em Passo Fundo e foi uma das primeiras vítimas do coronavírus no Estado.

Moradora de Passo Fundo, Fátima Regina Donato, 61 anos, era sinônimo de alegria nos ambientes em que chegava. Risonha, cheia de vida, sempre disposta a um abraço caloroso, descrevem amigos. Era também cheia de sonhos, mãe zelosa e avó amorosa, relatam familiares. Amava muito a família e a vida. Em 9 de abril, após 20 dias de uma virose que não conseguiu vencer, morreu em decorrência da covid-19.

 

Formada em Administração de Empresas, Fátima atuou por 15 anos como gestora numa rede de farmácias de Passo Fundo. Gostava de viajar, passear, adorava brincar com os bichos de estimação e os netos. Adorava churrasco e ir à praia, em Balneário Camboriú ou Bombinhas, em Santa Catarina. Mas desde que fosse viagem, qualquer lugar servia, comenta a filha Thayse. Este ano, numa exceção, Fátima não saiu de Passo Fundo. É que a filha Gabriella, grávida, estava por ganhar o bebê.

Foi no dia 21 de março que a habitual alegria deu lugar a um incômodo. Sentiu-se gripada, com uma leve dor de garganta e febre. Tomou antitérmico, mas os sintomas não passaram e, no dia seguinte, ela foi até a uma clínica. Fez raio-X e o pulmão estava limpo. Médico prescreveu antibiótico e antitérmico. Passados três dias, ela continuava com febre de 38,5°C e teve episódios de diarreia. Consultou novamente, pediram que continuasse com os medicamentos.

No domingo, 29 de março, ela ligou para a filha mais velha, Thayse, e disse que não estava bem. Voltou com o marido até a clínica e, de lá, foi encaminhada ao Hospital São Vicente de Paulo, o maior da região. Após realização de raio-X, tomografia de tórax e exame de covid-19, ela ingressou direto na UTI. Já no dia 31, precisou ser entubada e colocada em coma induzido. Só então começou a se confirmar que estava com o coronavírus.

Thayse disse que todos os dias via a mãe. Mesmo sabendo que ela estava em coma induzido, a filha conversava com ela, pegava na mão, falava palavras de consolo. A família enviada áudios, que eram colocados para ela ouvir também.

Mas o estado de saúde de Fátima se agravou. Após três dias de internação, precisou fazer diálise. Virou um procedimento diário, noturno. No início, Fátima reagiu bem, apesar do incômodo de ficar horas ligada a uma máquina. Aí, numa noite, ela piorou, descreve Thayse.

— A febre não cedia e a pressão arterial baixou muito. Aí, era 9 de abril, ela teve uma PCR (Parada Cardiorrespiratória) e não resistiu. Me ligaram às 4h30min para a pior notícia que já recebi na vida. Precisei ser forte e ligar para meus irmãos e meu pai.

Thayse ressalta que o marido de Fátima, Luiz Alberto, também já estava hospitalizado, com covid-19, e por isso não pode se despedir da mulher. No hospital, a filha recebeu os óculos da mãe. Não pode mais vê-la, tocá-la, dar um último beijo.

A filha Gabriella recorda que, no mesmo dia, às 16h, quando chegou Otávio (filho de Fátima que mora em Santa Catarina), foi realizada uma breve cerimônia de despedida, somente com a família presente. Todos estavam muito abalados com a situação e ainda tentando assimilar a repentina partida da mãe.

— O momento em si já é triste, mas não poder nos despedir dela e ver o caixão totalmente lacrado nos deixou completamente arrasados. Nossa mãe foi cremada, opção dela, e partiu nos deixando um legado de muito amor, garra e otimismo, características inerentes a ela, mas também uma saudade e um vazio impossíveis de serem preenchidos, justamente por ela ter sido uma pessoa sensacional — descreve Gabriella.

Otávio diz que a viagem desde Santa Catarina foi a mais difícil que fez na vida.

— Ao cruzar a ponte da divisa com o Rio Grande do Sul, precisei estacionar. As lágrimas não paravam, sabia o que estava à minha espera.

A cerimônia, muito breve, foi feita com caixão lacrado.

— Minha mãe, essa pessoa maravilhosa, ali… e eu não pude abraçá-la uma última vez. Alguém da família precisava falar algo. Falei meus sentimentos, que a nossa mãe sempre foi uma pessoa feliz, com um sorriso contagiante, um abraço amoroso, e sempre nos dando bons conselhos e ensinamentos. Deus a quis do Seu lado. Ela está cuidando de nós, até o dia do nosso reencontro, onde vai levar um abraço, ah… este será um baita abraço – desabafa o filho Otávio.

Fátima foi casada com Otávio Menin Bastos por 33 anos. Desta união, ela teve os filhos Thayse (40), Otávio Filho (35) e Gabriella (34). Deixou também três netos: Júlia (nove), Arthur (três) e Carolina (um mês). Estava divorciada há nove anos e em união estável com Luiz Alberto Jugel, há sete anos.

Fonte: Gaúcha/ZH