Alegretense, residente na França, descreve o caos que se aproxima com a segunda onda da Covid

Desde o início da pandemia da Covid-19,  o PAT realizou algumas entrevistas de alegretenses que moram em países distantes. São conterrâneos que estão fora da cidade e compartilham suas experiências com os leitores.

Nesta edição, a narrativa é de  Lúcio Silveira Aurélio de 41 anos. Ele é natural de Alegrete e atualmente reside em Avignon – região de Vaucluse no sul da França. Com um relato minucioso, Lúcio sintetiza a situação no País desde o início até essa segunda onde, que o país atualmente vivencia. O alegretense ressaltou o tempo todo a importância de seguir as regras e o quanto é rígido o cumprimento de todas elas.

 

O alegretense que está no exterior desde o ano de 2007, foi realizar o sonho de servir na Legião Estrangeira (Exército Francês). Lúcio ressalta que serviu com muito orgulho e muita garra. Ele participou de varias missões no exterior, vivenciando muitas realidades, até então, só vistas na televisão. “Na Legião Estrangeira tive a oportunidade de ver com meus próprios olhos a realidade. Hoje, não sou mais militar, mas continuo trabalhando e contribuindo com a sociedade que me recebeu e acolheu muito bem” – comenta.

A gratidão é sempre um gesto nobre que engrandece quem reconhece e quem recebe

 

Sobre a situação atual, relacionada à Covid-19, ele pondera que jamais pensou fazer parte desta guerra que hoje o mundo inteiro está lutando, contra um único inimigo, este inimigo invisível, o novo coronavírus.

Desta forma, realizou uma breve retrospectiva para que os leitores possam entender como as coisas aconteceram por lá:

No dia 24 de Janeiro foram relatados os dois primeiros casos de pacientes com Covid-19 na França, um terceiro caso foi anunciado em 25 de janeiro, e um quarto no dia 28.

Em 29 de fevereiro a França ultrapassa os cem casos diagnosticados. Sendo assim medidas são tomadas, incluindo a proibição de reuniões de mais de 5.000 pessoas em espaços confinados, vários jogos adiados e shows cancelados.

No dia 12 de março, enquanto a França registra mais de 2.800 casos e 61 mortes, o Chefe de Estado(Presidente da República) anuncia o fechamento de todas as creches, escolas e universidades a partir de 16 de março e até novo aviso.

Pessoas com mais de 70 anos foram convidadas a ficar em casa e todos os franceses a limitarem suas viagens ao estritamente necessário em face da “mais grave crise de saúde na França em um século”- citou.

Gratidão retribuída com carinho e torta de bombons

O Presidente anunciou ainda o prolongamento das férias escolares de inverno por mais dois meses, bem como medidas de apoio às empresas e ajuda aos trabalhadores. Já, no dia 14 de março, aconteceu o encerramento das atividades “até segunda ordem” de todos os “espaços abertos ao público não essenciais à vida do país”. Restaurantes, bares, boates, cinemas fecharam suas portas. Os negócios também foram afetados, com exceção de lojas de alimentos, farmácias, bancos, tabacarias e postos de gasolina.

Depois de uma campanha de saúde para recomendar “gestos de barreira” higiênicos e distanciamento físico, a decisão de confinamento em nível nacional foi anunciada na noite de segunda-feira, 16 de março de 2020.

À partir daquele momento, tiveram que se adaptar à mais uma nova medida tomada pelo governo e as únicas saídas permitidas eram essas listadas abaixo:

deslocamento entre casa e trabalho;

 para aquisição de suprimentos necessários à atividade profissional;

 compras essenciais em estabelecimentos autorizados a permanecer abertos (compras de alimentos, etc.);

 por motivos de saúde;

 por motivos familiares imperiosos (assistência a pessoas vulneráveis, creches, por exemplo);

deslocamentos curtos,no Maximo 1KM perto de casa, para atividade física individual ou para as necessidades de animais de estimação (passear com o cachorro…).

A gratidão que inspira fazer o bem

“Caso fossemos sair de casa, tínhamos que levar conosco individualmente  um atestado especificando o motivo do deslocamento listado acima, para casos de controle, estarmos de acordo com as regras. Caso não apresentássemos era aplicada uma multa de 135 Euros. Sendo  que, se fossemos flagrados uma segunda vez  no período de 15 dias a multa era de 1.500.00 euros e se a pessoas fosse verbalizada 4 vezes no mesmo mês esta multa chegaria até 3.750,00 euros, podendo ter uma punição de até 6 meses de prisão por descumprimento da lei.”- descreveu.

Lucio disse que o Exército Francês foi acionado e montou hospitais em diferentes regiões para ajudar na saúde do país. Além de helicópteros do exército que foram transformados em hospitais, navios militares também se transformaram em hospitais assim com um trem TGV(trem de grande velocidade, famoso trem bala nome popular). Tudo para ajudar nas transferências de pessoas contaminadas de uma região para outra onde havia vagas nos leitos dos hospitais.

“Foram solicitados voluntários, estudantes das universidades da área da saúde para auxiliar no atendimento de vítimas da Covid-19 para, desta forma, aliviar um pouco o stress e o trabalho dos profissionais da saúde cujo alguns ficavam dias sem ir em casa.

As pessoas se uniram para ajudar quem precisava, foi criado um site na internet para que voluntários pudessem se inscrever para ajudar as pessoas como: ir ao mercado para os idosos ; ficar com crianças cujos os pais teriam que ir trabalhar, como no caso de  enfermeiros, bombeiros e médicos. Ficamos nessa situação até o dia 11 de maio, dia em que a França começou o “desconfinamento” por regiões”- cita.

Nos 56 dias de confinamento, Lúcio disse que deixou de trabalhar apenas 7 dias. A empresa que atua possibilitava todas as medidas de segurança e distanciamento.

“Realmente após esse tempo de confinamento, os números anunciados pelo governo em relação a novos casos de contaminação, entradas nos hospitais e mortes diminuíram.  Após o desconfinamento, três medidas continuam a ser aplicadas cotidianamente: uso de máscara; uso de álcool em gel (comércio em geral tem que disponibilizar na entrada dos seus estabelecimentos), além do distanciamento de 1 metro entre pessoas (nem sempre seguido)” -completa.

Ele acrescenta que as estações do ano, na França, são contrárias do Brasil. Nos meses de junho, julho e agosto é verão, o que quer dizer que logo após o desconfinamento aconteceram as férias de verão, como a grande maioria das  fronteiras não estavam fechadas, pessoas entravam e saiam do território Francês, se deslocavam de uma região a outra e, com isso, o vírus começou a circular novamente.

“Estamos nesse momento enfrentando a segunda onda, os números estão aumentando dia a dia. A situação epidêmica no dia 28 de outubro de 2020 no país era de 36.437  novos casos registrados nas últimas 24 horas, além de  58% de leitos de reanimação ocupados, 527 mortes nas últimas 24 horas e 35.785 mortes desde o início da pandemia.

Na quarta-feira (28), o presidente anunciou na TV que, à partir de hoje (29) quinta-feira, novamente eles entraram em confinamento com as seguintes regras, até o dia 01/12/2020 à princípio, atestado para se deslocar ao trabalho, visita médica, dar assistência a uma pessoa necessitada, levar crianças à escola, compras de primeiras necessidades e atividade esportiva de no máximo 1 hora em até 1 km longe de casa. Também foi determinado interdição de reuniões particulares em casas, interdição de aglomeração pública, fechamento de estabelecimentos que recebem público, como: bares, restaurantes, academias, piscinas, entre outros.

Lúcio continua dizendo que, às empresas deverão fechar suas portas podem ter uma ajuda governamental de até 10.000 euros mensais para tentar compensar as perdas financeiras e administrativas, como por exemplo o aluguel e taxas · Assim como, seguro desemprego parcial para os empregados e empregadores, desta forma o funcionário continuará a receber 84% do salário ficando em casa sem trabalhar. As  creches, escolas e colégios ficarão abertos com protocolo sanitário reforçado e às universidades terão cursos à distância.

Já às empresas que não vão fechar, as pessoas poderão continuar trabalhando normalmente desde que respeitem os protocolos sanitários, porém, também foi solicitado para privilegiar o teletrabalho quando possível.

“Entretanto, às fronteiras do país serão fechadas para todas as pessoas que se deslocarem de fora da união europeia, caso alguém vá para o país terá que passar por alguns exames da covid-19 e talvez ficar em isolamento por um período. O confinamento será reavaliado dentro de 15 dias. Novas medidas poderão ser tomadas a favor (retirar algumas das restrições) ou ao contrário (endurecer as regras). O meu sentimento é que devemos fazer a nossa parte. Eu como cidadão residente aqui tenho o dever e obrigação de cumprir as regras impostas, para proteger eu e minha família, assim como para proteger o próximo, pois infelizmente não sabemos exatamente quem tem o vírus ou não” – concluiu.

 

Flaviane Antolini Favero