Formado em Ciências Contábeis, ele atua como funcionário público na Prefeitura de Alegrete há 15 anos. Apesar do compromisso com a profissão, Brayam sempre nutriu uma conexão com o artesanato, um interesse que começou na infância e que tem evoluído ao longo dos anos.
Desde cedo, o fazer manual esteve presente em sua vida. Quando tinha apenas 10 anos, a mãe, Patrícia Saldanha, lhe ensinou a técnica do macramé, mais especificamente o nó quadrado. A partir de então, ele passou a praticar com qualquer tipo de fio que encontrava. Na mesma época, Brayam já demonstrava inclinações comerciais, produzindo e vendendo tornozeleiras para amigos, vizinhos e familiares, uma prática que ele afirma ter lhe proporcionado uma interação valiosa com os clientes.
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Durante a adolescência, Brayam expandiu suas habilidades no artesanato. Junto com sua avó materna, Terezinha Saldanha, ele começou a bordar chinelos utilizando a técnica do macramé. Apesar de se sentir envergonhado em admitir que era ele quem fazia os bordados, a autoria de seus trabalhos era atribuída à avó, com quem ele trabalhava para entender as preferências das clientes e atender as encomendas.
Além do macramé, Brayam aprendeu outras técnicas artesanais ao longo dos anos. Com sua prima, Mariele Brasil, ele desenvolveu habilidades no tricô, iniciando com peças simples, como roupinhas para bonecas, e depois avançando para itens maiores, como toucas, mantas, palas e capas. Essas peças também eram comercializadas, sempre em parceria com sua avó. Mais tarde, ele aprendeu ponto cruz com a irmã, Liana Saldanha, embora não tenha comercializado nenhum trabalho dessa técnica.
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Por fim, o crochê entrou na vida de Brayam, uma técnica que ele admirava há tempos. Inspirado pelo crochê moderno, especialmente o uso de fio de malha para criar itens como cachepôs, ele decidiu aprender a técnica assistindo tutoriais no YouTube. Ele conseguiu dominar os pontos e produziu diversos itens, uma habilidade que, como o macramé, acabou se transformando em uma fonte de renda complementar.
Ao longo dos anos, Brayam manteve o artesanato como um hobby, que variava em intensidade dependendo das demandas de sua vida profissional e acadêmica. Recentemente, com a vida mais organizada e tempo disponível, ele voltou a se dedicar ao artesanato de forma mais consistente, produzindo chaveiros em macramé e, posteriormente, se aventurando na confecção de bolsas com fio de malha e barbante 24 fios. Em 2021, incentivado por familiares e amigos, ele decidiu expor seus trabalhos no Brique da Praça, um evento local que havia sido retomado após a pandemia. Junto com sua mãe, Brayam levou seus chaveiros, porta-vasos de folhagens e pulseiras, e desde então, em cada edição do Brique, ele busca inovar com diferentes modelos e materiais.
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Atualmente, Brayam trabalha exclusivamente com crochê, oferecendo uma variedade de produtos. Embora ainda não tenha começado a produzir roupas para venda, ele já criou um colete para uso pessoal, uma peça que ele sempre quis fazer.
O artesanato faz parte da família de Brayam há gerações. Sua avó frequentemente lembra que ele herdou o talento da bisavó, que também fazia crochê em uma época de escassez de materiais. Segundo a avó, a bisavó esculpiu sua própria agulha de crochê a partir de um galho de pitangueira e utilizava fios feitos de sacolas plásticas para tecer suas peças.
Brayam sente orgulho de sua trajetória e do caminho que trilha no artesanato, que já se estende por mais de 20 anos. Recentemente, em conversa com uma comerciante local, ele confessou que, durante a adolescência, tinha vergonha de admitir que era ele quem produzia as peças de artesanato, o que levou a uma risada compartilhada ao relembrar a situação. Apesar desse receio inicial, ele nunca vivenciou preconceito direto e sempre recebeu apoio de sua família, que o incentivou desde o início. Hoje, seus principais clientes são amigos e familiares.
No entanto, houve um momento em que Brayam sentiu o preconceito de forma indireta. Durante a adolescência, ao procurar um curso de aperfeiçoamento em macramé em um centro profissionalizante da cidade, ele foi desencorajado pela diretora da escola, que sugeriu que “macramé não era para homens” e indicou que ele fizesse outro curso, como pintura em tecido. Irritado, Brayam desistiu de fazer a inscrição, e esse episódio marcou uma das poucas vezes em que ele enfrentou algum tipo de discriminação por confeccionar artesanato.
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Hoje, Brayam acredita que não há mais distinção de gênero no artesanato, e ele percebe que seus clientes e interessados se aproximam de seu trabalho de maneira natural, sem qualquer surpresa por ele ser um homem que faz crochê. Para ele, o artesanato é mais do que um hobby; é uma forma de terapia que lhe permite se desligar das preocupações cotidianas e focar inteiramente no que está produzindo. Além disso, o artesanato se tornou uma fonte alternativa de renda, e ele já vislumbra metas para o futuro.
Uma de suas ambições é ter sua própria loja, com uma linha de produção e uma marca registrada, a “B. Navhar”. Embora essa meta ainda esteja em um horizonte de longo prazo, Brayam pretende alcançá-la quando se aposentar, permitindo-lhe dedicar-se integralmente à sua paixão pelo artesanato.