Carnavalesco Joao Brás da Silva inspira documentário da Unipampa

No último dia 18 de julho foi exibido na Unipampa de Jaguarão, durante o IV COPENE SUL, um documentário idealizado pelo Doutor Professor Roberlaine Ribeiro Jorge com roteiro de alunos da Unipampa Alegrete, Kalew Felyx e Willian Gerstberger. O trabalho faz parte do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas – NEABI que no ano passado teve como identidade o nome do alegretense, sambista e uma lenda viva na militância dos negros em Alegrete, João Brás da Silva.

Para compreender o documentário, João Brás da Silva, Mais Brasileiro impossível, o PAT recebeu na redação o idealizador do projeto, Doutor Professor Roberlaine Ribeiro Jorge.

O diretor do Campus, explicou que há tempos existe o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas – NEABI, nos campis. Porém, faltava um nome para o Núcleo na cidade, foi então que surgiu o nome de João Brás.

O NEABI tem por finalidade nortear as ações de ensino, pesquisa e extensão sobre a temática das identidades e relações etnicorraciais, especialmente quanto às populações afrodescendentes e indígenas, com a comunidade externa.

Foi desta forma que em abril deste ano o NEABI do Campus Alegrete da Unipampa realizou a gravação do documentário ” João Brás da Silva, mais brasileiro impossível!”. O trabalho levou com muito orgulho o nome do alegretense, uma lenda viva na militância dos negros em Alegrete ao Congresso COPENE SUL. Os acadêmicos e vídeo makers premiados Kalew Felyx , Willian Gerstberger, produziram o documentário, que contou com a colaboração do Conselheiro do Campus de Alegrete, Gilmar Lima Martins, na elaboração do roteiro. A trilha sonora do documentário é assinada pelo rapper Andreu Morais, conhecido na cena do hip-hop como !AND.

Roberlaine destacou a cultura do nonagenário João Brás. De forma muito “rica” é possível em pouco tempo ter uma verdadeira lição de vida. Mesmo com todas as dificuldades e sendo um autodidata, João Brás, sempre teve muita vontade de aprender e conhece como poucos a história dos filósofos. Sua paixão pela leitura, o fez batizar um dos filhos com o nome de Bergson – em homenagem ao filósofo francês – Henri Bergson. Ele tem uma história na cidade e sua essência é muito verdadeira – completou.

Durante a entrevista alguns trechos surpreendem. João Brás descreve trechos dos momentos difíceis, dos desafios e como ele começou a ler e qual foi a sua inspiração. Certo dia ele observou e prestou atenção no canto dos pássaros e percebeu que deveria ser uma forma de comunicação, logo, pensou que se até os pássaros tinham este entendimento, ele poderia buscar o conhecimento. O primeiro caderno, sem ter condições de comprar, ele chegou em um mercado e pediu um pouco do papel que o proprietário utilizava para enrolar os produtos. Ao questionar o motivo e saber que a intenção era estudar, o homem gentilmente cedeu um livro e dois cadernos a João Brás.

Quando a professora falou que a essência de tudo estava no som das letras, logo, o alegretense lembrou do canto dos pássaros. Em um dos trechos ele disse” querer e vontade, não tem outra coisa que supere”.  Com isso, João comprou os primeiros livros e ressaltou que chegou a conclusão de que ninguém é mais do que ninguém.

Para concluir ele enfatiza que a coisa mais profunda na vida do ser humano é a educação, pois a educação é luz, equilíbrio e liberdade. Também deixou um recada para a “gurizada” que faça boas amizades e acima de tudo, estudem. “Eu tenho a luz do passado me iluminando o presente” – concluiu.

Um pouco mais sobre João Brás:

Um carnavalesco que  criou vários blocos, foi integrante da Pioneira, a Nós Os Ritmistas e teve participação em todas as escolas de samba de Alegrete. Chega aos 87 anos,com a lucidez de quem sabe que a festa não pode parar.

Respeitado no meio do samba, João Braz, em entrevista exclusiva ao Portal, em 2016, falou do auge do Carnaval de Alegrete nos anos 80. Naquela época, as escolas: Ritmistas, Canudos, Mica, Unidos da Ponte, depois o Pôr do Sol desfilavam na Praça Getúlio Vargas e alegravam as pessoas.”  Não havia segredo, afirma Braz. A simplicidade e a vontade de se divertir faziam a diferença e todos brincavam felizes”.Nesta época, João e  um grupo de amigos chegou a criar a Império do Braz em protesto ao racismo – fala, tranquilamente, o velho sambista.

Sobre o Congresso:

IV Congresso de Pesquisadores/as Negros/as da Região Sul – IV COPENE SUL – tem como objetivo promover a divulgação da produção científica, tecnológica e cultural promovendo a reflexão sobre ancestralidades, conquistas e resistências num contexto em que cada vez mais recrudescem o racismo e intolerâncias de todas as ordens, impulsionando a luta antirracista e a produção de conhecimentos, a inovação científica e social, a crítica epistemológica ao pensamento único e a troca entre pesquisadores e estudantes de graduação, pós-graduação, professores e pesquisadores/as das mais diversas instituições acadêmicas, movimentos sociais do Brasil e convidados estrangeiros.

Veja o documentário: