Caso Bernardo: como surgiu um quarto suspeito

Irmão de Edelvânia Wirganovicz teria cavado o buraco no qual Bernardo Uglione Boldrini foi encontrado, segundo as investigações
 
Alimentada pela Polícia Civil desde que encontrou o corpo de Bernardo Uglione Boldrini, no dia 4 de abril, a hipótese de que mais uma pessoa tenha envolvimento no crime ganhou novos elementos no fim de semana. O motorista Evandro Wirganovicz, 31 anos, foi preso por suspeita de ligação com a morte do garoto.
Evandro é irmão de Edelvânia Wirganovicz, a assistente social que confessou ter participado do assassinato supostamente tramado pela madrasta do menino, Graciele Ugulini. Ele teria feito a cova na qual a criança foi encontrada, mas não está descartada também participação no planejamento da morte, já que o buraco foi aberto dias antes do homicídio.
A polícia chegou até Evandro a partir do relato de um integrante aposentado da Brigada Militar, que desconfiou de um carro visto próximo ao local em que o corpo foi enterrado. A testemunha contou ter visto o veículo de Evandro, um Chevette amarelo escuro, por volta das 20h30min do dia 3 de abril – um dia antes do crime – estacionado a 50 metros do local onde foi achado o corpo de Bernardo, na localidade de Linha São Dimas, no interior de Cristal do Sul.
O militar aposentado conhece Evandro e sabia que ele tem um carro com essas características. Mas como é dono de uma propriedade na região e desconfiou da presença do veículo parado naquele local, resolveu anotar a placa para confirmar quem era o dono. A testemunha não viu ninguém nas proximidades do Chevette e, posteriormente, confirmou que o veículo era de propriedade de Evandro.
Só voltou a se preocupar com o assunto quando Bernardo foi encontrado a partir da confissão de Edelvânia. A testemunha relacionou os fatos, suspeitou que Evandro poderia ter cavado o buraco e procurou a polícia, em 16 de abril, dois dias depois das prisões de Edelvânia, Graciele Ugulini, e do pai do menino, Leandro Boldrini.
— Eu e um colega fomos buscar madeiras em uma área ao lado do lugar da cova porque eu queria fazer uma casinha de bonecas para a minha filha. Por volta das 20h30min, vi o Chevette estacionado na beira do Rio Mico e achei estranho. Evandro e outros irmãos costumam pescar nessa área, mas eles sempre vão a pé. Depois da morte de Bernardo, ligando os pontos, entendi o porquê do carro estar lá — disse ele a ZH.
A testemunha descreveu o local onde foi feito o buraco como de “terra muito dura, com muitas raízes”. Por isso, desconfiou que as mulheres tiveram ajuda de alguém, que poderia ser Evandro.
O militar aposentado também contou que Edelvânia esteve nas proximidades do local em que estava o corpo no domingo, dia 6 de abril, dois dias depois do crime. Ao encontrar a testemunha, ela teria dito que estava ali para “molhar os pés no rio”.
Do presídio, irmã defende Evandro
Ao saber da prisão do irmão, Edelvânia Wirganovicz escreveu carta garantindo que Evandro não tem qualquer envolvimento com o assassinato. A mensagem, entregue a seu advogado, foi escrita na cela em que ela está recolhida na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba, na Região Metropolitana.
“Meu irmão não participou”, afirmou a assistente social. Defensor de Edelvânia, Demetryus Grapiglia disse que pedirá a revogação da prisão de Evandro:
— Ele não tem participação. Seu único vínculo é o de ser irmão. É um absurdo. Edelvânia ressalta que ela e Graciele cavaram a cova. Ele não fez nada. Minha cliente aceita ser condenada e diz que foi a culpada.
A prisão de Evandro por 30 dias foi decretada, a pedido da polícia, pelo juiz Fernando Vieira dos Santos. Segundo o magistrado, o terreno no qual o corpo foi enterrado é difícil de ser escavado e exigiria força física para ser aberto, o que tornaria verossímil a presença de um homem na cena. “Deve-se ponderar que o representado (Evandro) teria estado no local antes do assassinato de Bernardo, o que pode indicar, desse modo, a premeditação do fato, a implicá-lo, no mínimo, como partícipe por auxílio no crime de homicídio, e não apenas na ocultação do cadáver”, observou o juiz.
O magistrado também ressaltou a “atitude diversionista” do suspeito, que negou ter estado no local. Ouvido pela polícia em 24 de abril, Evandro ressaltou que não circulava na região onde foi achado o corpo havia dois meses. Sustentou que o Chevette é de seu uso e que não existia possibilidade de outra pessoa ter pego o carro. E negou que a irmã tivesse pedido para ser levada ao local. Evandro afirmou não conhecer Graciele ou saber da amizade dela com a irmã.
Relembre o caso
 
Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, desapareceu no dia 4 de abril, uma sexta-feira, em Três Passos, município do Noroeste. De acordo com o pai, o médico cirurgião Leandro Boldrini, 38 anos, ele teria ido à tarde para a cidade de Frederico Westphalen com a madrasta, Graciele Ugulini, 36 anos, para comprar uma TV.
De volta a Três Passos, o menino teria dito que passaria o final de semana na casa de um amigo. Como no domingo ele não retornou, o pai acionou a polícia.Boldrini chegou a contatar uma rádio local para anunciar o desaparecimento. Cartazes com fotos de Bernardo foram espalhados pela cidade, por Santa Maria e Passo Fundo.
Na noite de segunda-feira, dia 14, o corpo do menino foi encontrado no interior de Frederico Westphalen dentro de um saco plástico e enterrado às margens do Rio Mico, na localidade de Linha São Francisco, interior do município.
Segundo a Polícia Civil, Bernardo foi dopado antes de ser morto com uma injeção letal no dia 4. Seu corpo foi velado em Santa Maria e sepultado na mesma cidade. No dia 14, foram presos o médico Leandro Boldrini — que tem uma clínica particular em Três Passos e atua no hospital do município —, a madrasta e uma terceira pessoa, identificada como Edelvânia Wirganovicz, 40 anos, que colaborou com a identificação do corpo.