CNAF: essas quatro letras podem salvar muitas vidas nas UTIs Covid

Passar pela internação ao ser diagnosticado com a Covid-19, pode ser um dos grandes temores para a maioria dos pacientes, principalmente, o receio de ter que passar por procedimentos mais delicados como a intubação.

A atual pandemia do SARS-CoV-2 testou a sociedade e os profissionais de saúde com a falta de conhecimento sobre a doença, a necessidade de pesquisas científicas cada vez mais breves, a escassez de recursos e, por vezes de forma desafiadora, como deveria ser a adaptação aos constantes questionamentos e mudanças de condutas e protocolos elaborados baseado no que , de início, era possível entender e avaliar sobre o vírus. Em várias nuances, a medicina e os governos foram desafiados.  Medidas foram tomadas com o objetivo de frear e ou evitar uma tragédia ainda maior em relação à superlotação de leitos e mortes relacionados à Covid.

Mesmo assim, em 2021, um ano após o início da pandemia, o sistema colapsou e muitas mortes foram registradas, só em Alegrete, foram 92 em 31 dias, no mês de março, considerado o mais letal, até aqui.

Atualmente, conforme último Boletim Epidemiológico, são 10.952 casos confirmados, com 10.442 recuperados, 260 ativos (235 estão ativos em isolamento domiciliar e 25 hospitalizados positivos de Alegrete) e 250 óbitos..

No mês de abril, um dos pacientes que positivo, apresentou complicações no decorrer do tratamento e precisou ser hospitalizado. Muito mais do que a necessidade de auxílio para respirar através do oxigênio, ele esteve muito próximo da intubação. Mas, por toda sua Fé e pelo que considera o motivo de estar novamente em casa- uma cânula nasal de alto fluxo (CNAF)-  o alegretense falou com a reportagem e deu o seu testemunho. Ele assegura que a necessidade de ter esse equipamento no Município pode representar muitas vidas salvas.

 

A entrevista:

Na última semana, o alegretense Claudenir Dias Rodrigues conversou com o PAT. Aos 61 anos, já realizando algumas atividades leves, ele se considera um milagre. Antes de mais nada, deixa claro que tudo deve-se em primeiro lugar a Deus.  Na sequência, ele passa a descrever como foi a sua experiência ao ser infectado pelo vírus e todos os desdobramentos. Claudenir, acrescenta que o objetivo é mostrar para a população que há um outro método, muito eficaz, que pode salvar vidas e ainda não foi adquirido pela Santa Casa, mas que pode ser uma opção para tantos empresários, empresas e até mesmo através da Câmara de Vereadores buscar recursos para adquiri o equipamento que custa em torno de 43 mil reais.

 

Vamos ao início:

No dia 11 de abril o alegretense sentiu uma pequena indisposição como se fosse uma gripe leve. Sem sintomas mais alarmantes, decidiu fazer o teste no dia 13, depois que a esposa também achou que ele deveria e por ter respeito a todas as demais pessoas que ele pudesse ter contato, já que a transmissão poderia ocorrer. Claudenir fez o teste e o resultado foi positivo. No primeiro momento, ele passou a cumprir os protocolos, ficou em isolamento e com sintomas leves. Até que quatro ou cinco dias após positivar, estava com um quadro de febre e foi fazer um teste respiratório que o irmão, por telefone, sugeriu e percebeu que a respiração estava comprometida. A respiração é algo automático, então só percebi o desconforto quando fui realmente puxar o ar. Neste dia, fui para o gripário, onde fui atendido, recebi medicações e orientações. Uma delas era acompanhar a saturação através de um aparelho chamado de oxímetro.” – lembrou.

 

Porém, começaram as crises de tosse e o quadro piorou. Foi então, que ele foi hospitalizado em Porto Alegre, no hospital da PUC.  Claudenir chegou na UTI fazendo 15l de oxigênio com o sistema da máscara. Mesmo assim, alguns momentos, o ar não era o suficiente e ele tinha que “busca-lo”. Foram três dias que ele recorda serem os mais angustiantes de sua vida. “Naqueles três dias antes da cânula nasal de alto fluxo (CNAF), eu tinha que pensar em tudo, qualquer movimento simples, até mesmo para fazer necessidades básicas como comer e até tentar um movimento na cama. Eu me alimentava muito pouco, pois colocava uma colherada de comida na boca e a saturação caia pelo movimento simples de levar o alimento até a boca. Então,  depois eu começava a mastigar, mas tudo de forma muito lenta e com muita dificuldade.”- cita.

 

O processo de troca de máscara para CNAF

Passado três dias, já com a indicação de intubar pois a dificuldade de respirar estava cada vez pior e a saturação caindo muito, uma médica apareceu no quarto e falou sobre a cânula nasal de alto fluxo e, de 15l, Claudenir passou a receber 40l de oxigênio. “Foi maravilhoso me libertar da máscara que machucava minha boca, praticamente impedia a alimentação e passar para um sistema que eu já não tive mais dificuldades. Passei a me alimentar pois a cânula é no nariz, a boca fica livre e até escovar os dentes que não conseguia eu fiz. Uma alívio, indescritível aquela sensação” – pontua.

 

A reviravolta do quadro

O milagre, segundo Claudenir foi exatamente este, de uma situação em que ele já estava sendo praticamente preparado para ser intubado, receber a cânula nasal de alto fluxo e, em quatro dias já estar bem sem a necessidade de permanecer com ela e pedir a máscara comum. Assim, dos 11 dias internados na UTI, quatro foram de muito sofrimento respiratório, mais quatro de alívio e finalmente os demais três que ficou em observação e posteriormente deu alta pela recuperação esplêndida do quadro.

 

A cânula nasal de alto fluxo (CNAF)

Já em casa, Claudenir está concluindo o tratamento, pois há um período de algumas privações e cuidados devido às sequelas da Covid, mas o desejo de ajudar o seu semelhante o fez procurar expandir a sua vitória e também falar sobre o aparelho que não tem na Santa Casa de Alegrete. “Vejo muitas campanhas e muitas verbas que são enviadas para o Município. Acho que é possível adquirir pelo menos o suficiente para buscar que os pacientes não passem pela intubação, eu sou um caso vivo da excelência desse aparelho e suas vantagens” – falou.

Em contato com a Dra Marilene Campagnollo, Diretora Técnica da Santa Casa, ela esclareceu que o hospital ainda não tem cânula de alto fluxo, porém, estão fazendo uso de um ventilador não invasivo em formato de capacete, denominado de helmet, que vem sendo fundamental na recuperação de vários pacientes. Esta medida também tem auxiliado a reduzir o índice de intubações.

Já o chefe da UTI COVID, Dr José Fabio Pereira, esclarece que são muitos mecanismos para auxiliar a ventilação. Ele ressalta que a cânula de Alto fluxo ajuda muito, mas aqui em Alegrete, os dispositivos usados são o oxigênio com óculos nasal que fornece até 5l, depois a máscara de venturi – até 15l e, a partir destes, o mais potente que é a VNI , uma ventilação não invasiva(70% a 100%). Também, na Santa Casa, há a opção do capacete Helmet que pode auxiliar como a cânula de alto fluxo. Dr José Fabio acrescenta que devido aos custos elevados da cânula, a opção foi pelo capacete Helmet, mas destaca que se pudesse ter todos os dispositivos seria um benefício a mais. Entretanto, destaca que cada caso é individual e o que pode evitar que um paciente não vá para o tubo pode não ter o mesmo efeito em outro. Ele também comentou sobre uma cartilha do Ministério da Saúde que foi enviada para todos os profissionais da área da saúde que atuam no front covid auxiliando sobre o padrão de oxigenação.

Flaviane Antolini Favero