Como a família Nakashima, de Alegrete, está enfrentando o Coronavírus no Japão

Desde que iniciou o isolamento social em Alegrete, a reportagem do PAT tem entrevistado alegretenses que estão no Exterior, países que foram afetados e também estão passando pela mesma situação do Brasil. O objetivo é expor aos alegretenses a situação que os alegretenses estão vivendo em outros países, além de mensagens que eles enviam para familiares, amigos e os demais conterrâneos.

Muito bairrista, a entrevistada desta semana reside há mais de 25 anos no Japão. Ana Amélia Nakashima mora com o esposo Tuniko e a filha, agora já casada, na província de Hiroshima cidade de Kure.

A alegretense trabalha em linha de auto peças da Mitsubishi (carros, parte da ignição ) e Tuniko agora está trabalhando na construção de pontes ( devido à epidemia e o Japão também não vinha bem e ele foi dispensado da construção de navios que era soldador ). Já a filha Nozomi Nakamura trabalha em casa com web site ( programadora) o genro devido ao isolamento social, também está trabalhando em casa.

“Eu venho através do Portal Alegrete Tudo, dar um pouquinho mais de alerta do que estamos vivendo há mais de três meses com à Covid-19. Aqui, ficamos sabendo cedo com relação à China e começamos a nos cuidar. Logo depois do feriado de ano novo, já surgiam os comentários, porém, aqui há o “costume” de usar máscaras, até pelo motivo que era inverno e muitos casos de influenza estavam ocorrendo. Mas não tínhamos nenhum caso até final de janeiro.” – comentou.

Amélia disse que neste período teve o feriado de ano novo Chinês e o governo não fechou às fronteiras com a China e eles vieram para o norte, onde acontece o festival de inverno. Com o feriado houve aglomeração e muitos casos surgiram, foi a partir daí que o primeiro ministro começou a agir, mas um pouco tarde, segundo ela.

O vírus se alastrou para Tókio e as olimpíadas foram adiadas. Porém, a pandemia foi crescendo em números e todos os órgãos de saúde se direcionaram a respeitar todas as medidas da OMS.

“Quando começou a explodir em Tókio, aqui no Sul já estávamos há uns dois meses fazendo distanciamento social, inclusive na indústria nunca deixamos de trabalhar, mas várias empresas pararam pois não tinham material, grande parte vem da China. Escolas também pararam, todo mês de março, com exceção das creches. O Governo paga 60% do salário e algumas firmas cobrem o restante. Quando chegou o mês de abril, no Sul, ainda não tinha casos do vírus, mas governo relaxou no isolamento social e começou o ano letivo nos primeiros dias do mês. Tem escolas do ensino médio que já cancelaram o ano letivo em Hiroshima” – explicou.

Desta forma, de acordo com  a alegretense, em menos de duas semanas, iniciou a explosão de casos e agora estamos com dois casos em Kure (onde ela reside) e, em toda a província de Hiroshima são mais de 150 casos e duas mortes. No Japão, ao todo, com mais de 13 mil casos e o governo está com campanhas ostensivas com pedidos para que as pessoas fiquem em casa. Nas províncias os estabelecimentos, não necessários, fecharam todos, além de parques, inclusive há mais de três meses em Tókio a Disney está fechada e as escolas voltaram a parar. Não se encontra quase nada aberto e o que está em funcionamento é com toda a segurança possível, 100% máscaras, álcool em gel, entre outros.

A maioria das pessoas optaram por realizarem compras somente por telefone ou internet. O pagamento é realizado por aplicativos e a encomenda é deixada na porta sem contato com pessoas que não fazem parte do círculo familiar com quem já se convive. Em supermercados, os atendentes têm todo um aparato de segurança, assim como nas estações de trem – destacou.

Ana Amélia, explicou que agora está de folga há mais de uma semana, por falta de material para produção, além do fluxo que caiu muito em termos de pedidos. A perda econômica, de acordo com ela,  é pior que 2008, mas o governo não valoriza muito para evitar uma preocupação maior da população.
Muitos governadores e o primeiro ministro estão direto nos meios de comunicação alertando, pedindo pra ficarem em casa, eles também estão em situação de emergência.

“Agora começa o feriadão de Gold Week e os pedidos pra não viajar, não sair de casa é uma constante. A situação, aqui ficou desta maneira devido ao relaxamento que houve no início de abril, abrindo escolas e alguns parques. Estamos em casa, ganhando tempo pra ver se acham a cura. Usamos máscaras sempre, as escolas, agora, algumas estão fechadas novamente, outras vai uma quantidade limitada de alunos por dia. A maioria das lojas, shoppings e  restaurantes estão fechados, só ela internet, telefone ou pegar de carro, sem nenhum contato físico. Minha sessão na fábrica, até dia onze está de folga, assim como quase todo Japão. Economia não se fala, Governo ajudando em tudo, até em aluguel, conta de água e luz. Aqui não temos as vaquinhas, lives solidárias, tudo é o Governo” – relatou.

Para encerrar, a alegretense deixou a seguinte mensagem: “se cuidem, não relaxem com o isolamento social, higiene e o uso de máscaras, aqui são as recomendação que os médicos mais salientam. A maior parte do Japão está parada, a Toyota foi a primeira a parar e o resto veio atrás pois ela é a gigante do mundo. Quando há funcionamento das empresas, no almoço, todos são distanciados, ninguém senta de frente para conversar, somente de lado e de máscaras. O mês de fevereiro aqui foi horrível, todos ficamos muito chocados. Não é fácil este isolamento, mas é necessário. Ontem conversei com o Joel, jogador que era do Grêmio, e agora joga em Tókio, destacou que lá está deserto também. Dia e noite, tudo deserto agora. Vamos rezar pra ninguém sair no feriadão. – concluiu.

 

Flaviane Antolini Favero