Como a psicologia pode ajudar a população nestes dias de isolamento social

As notícias oficiais em relação à propagação do coronavírus têm intensificado a divulgação dos cuidados para a saúde física da população e evitar o contágio. Porém é também de fundamental importância, que em tempos de isolamento social e aumento na tensão e estresse, que haja um cuidado especial em relação à saúde mental de toda a população. O PAT realizou contato com o psicólogo Adriano Souza, que escreveu o seguinte artigo:

As situações que estamos enfrentando atualmente diante da pandemia do COVID19, Além de nos fazerem ficar isolados em nossas casas, para muitas pessoas, representa uma ameaça não só à saúde física, mas também ao bem-estar mental.

As pessoas estão assustadas, compelidas a uma rotina diferente da qual estavam acostumadas, soma-se a isso, o medo da doença, do risco de morte, a ansiedade de não saber quando esta situação terá controle, quando será possível sair às ruas, voltar ao trabalho, se ainda teremos trabalho, entre outras tantas situações que geram estresse e medo.

Diante deste cenário, e reconhecido pelo decreto da Organização Mundial de Saúde (OMS), na no dia 11 de março de 2020, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) reforçou que constitui possibilidade de exercício profissional do psicólogo a atuação em emergências e desastres, em contextos clínicos, de assistência social e de políticas públicas. A medida se deu para tentar atenuar os impactos do vírus na sociedade, assim como para facilitar o atendimento e o trabalho das(os) psicólogas(os), tão necessário para a saúde mental da população, especialmente em um momento de pandemia.

Neste contexto, temos visto a criação de estratégias de nossa categoria, na direção de ofertas de cuidados psicológicos à população, especialmente às pessoas pertencentes aos grupos vulnerabilizados pelo sistema social, entendemos que o compromisso social que orienta o nosso olhar deve estar presente mesmo nos momentos mais graves e mais difíceis. Contudo, a oferta destes serviços, mesmo considerando toda a sua potência e desejo de colaboração e solidariedade com as instâncias públicas e promotoras de saúde, não pode se furtar ao fiel seguimento das prerrogativas éticas que orientam nossa profissão.

Nas redes sociais, psicólogos do Brasil inteiro estão se mobilizando em criar espaços de atendimento virtual tanto para a população em geral, mas também para os profissionais de saúde que estão no front de atuação direta com o vírus, sejam eles médicos, enfermeiros, assistentes sociais. Como profissionais da psicologia, em situações como esta, podemos prestar atendimentos que visem acolhimento a partir de uma escuta qualificada, nossas ações devem contribuir para orientar sobre aspectos de higiene que visem a minimizar riscos de contaminação; conscientizar sobre eventuais mudanças de hábitos e possíveis implicações emocionais advindas dessas mudanças;
abordar, quando necessário, implicações emocionais de uma possível quarentena e  de aspectos psicológicos do isolamento, em especial de pessoas idosas.

O que estamos vendo neste momento é que as pessoas estão vivenciando situações de estresse a partir de algo invisível, que não pode ser controlado, e que não sabemos se temos ou não defesas para enfrenta-lo frente as nossas limitações. Precisamos seguir orientações das organizações de saúde quanto à higiene pessoal e a limpeza específica daquilo que está ao nosso redor.

Algumas pessoas terão mais facilidade do que outras para passar por isso. Nesse momento, as pessoas com as quais podemos conviver, seja no contexto doméstico ou on-line, podem favorecer cuidados e motivações importantes para que todos possam ter uma boa convivência, porque nós não sabemos por quanto tempo vamos precisar ficar em nossas casas em isolamento social. Precisamos neste momento filtrar um pouco, e de forma inteligente as informações que recebemos, se apenas dermos atenção a elas, sem conversar com outras pessoas, isso pode nos levar a um espiral negativo, que nos compele cada vez mais pra baixo em direção ao medo e a ansiedade.

Todos queremos e precisamos estar informados, mas temos meios seguros para buscar informações, sites oficiais, da Organização Mundial da Saúde, do Ministério e das secretarias estaduais e municipais. Acompanhar aquilo que está sendo divulgado em sites oficiais e aqueles ditos que têm fidedignidade naquilo que estão apresentando.

Neste momento, algumas pessoas estão se sentindo fragilizadas e vulneráveis, a busca de informações confiáveis pode trazer alguma sensação de controle, e isso pode ser bastante benéfico.

Eu acredito que neste momento é importante criar algum tipo de rotina, diferentemente de algumas semanas atrás, que não tínhamos tempo para nada, agora aparentemente temos, em alguns casos bastante tempo ocioso. Uma boa estratégia pode ser, pela manhã criar um planejamento do que pode ser feito ao longo do dia, naquilo que queremos saber sobre notícias, em fontes confiáveis e fidedignas, aqueles que estão desenvolvendo trabalho remoto, podem criar um horário determinado de trabalho, em um local da casa que seja mais silencioso ou privado, ou para os que não tem estas atividades, organização da casa, limpeza, guarda roupas, separação de roupas e utensílios para doação, ou ainda um momento para praticar exercícios, ou jogos e brincadeiras com as crianças, e acima de tudo aproveitar para regularizar o sono, procurar dormir o máximo de horas que faça bem ao seu organismo.

Em algumas famílias, devido a jornada de trabalho ou estudo dos seus componentes tempo é extremamente escasso, neste momento, retomar este tempo para brincar com os filhos, ou atenção para os idosos, pode nos facilitar lidar melhor com nossas questões, quando nos voltamos para o outro, nos esquecemos das nossas angústias.

Lidar com a solidão pode ser um desafio tanto para quem vive sozinho quanto para os idosos, que, como grupo de risco para a doença, podem sofrer mais com os impactos do isolamento. Estar um pouco só não será tão ruim, tendo alguns momentos para si mesmo. O que não pode é você transformar essa condição numa perspectiva de abandono, porque senão, vai imprimir um sofrimento maior por estar só. É importante se manter conectado com outras pessoas, até on-line, mesmo morando sozinho.

E foi justamente neste contexto que me voluntariei, sem nenhum custo, abrindo um espaço na minha agenda das 18 às 20 horas, diariamente para atender a quem estiver necessitando de auxílio, quem estiver em sofrimento psicológico por isolamento ou solidão, e não estiver conseguindo lidar com este momento. Tenho recebido contatos de pessoas de várias cidades do estado, e todas, em seus contatos mencionam de uma forma ou outra a palavra ajuda: “necessito da sua ajuda” ou “Você pode me ajudar”, quando alguém pede ajuda, e porque não está conseguindo dar conta de algo sozinho, este é um bom indicativo de que algumas pessoas realmente não estão conseguindo lidar com este momento em suas vidas, neste contexto a figura do psicólogo é fundamental para prestar acolhimento e escuta qualificada assim possibilita compreender o sofrimento psíquico a partir da pessoa, valoriza suas experiências e atenta para suas necessidades e diferentes aspectos que compõem seu cotidiano.