Oito anos depois da venda da Planta Frigorífica ao Mercosul, mais de 100 produtores locais, continuam com seus bens indisponíveis por conta desses débitos
Um drama que se arrasta há quase uma década, envolve uma centena de produtores da extinta Cooperativa Rural Alegretense Rural. Eles são avalistas junto a bancos, resquícios trabalhistas e dívidas junto aos Governos do Estado e Federal (ICMS e INSS).
O Frigorífico Mercosul que adquiriu o mais valioso bem que a Cooperativa dispunha, o Frigorífico local, não cumpriu as exigências. Até o momento, acertou apenas o débito junto ao Banco do Brasil, 9 milhões de reais. Como os outros compromissos não foram pagos, a Planta Frigorífica, a maior da América Latina, até o momento, custou somente este valor ao arrendatário da Indústria ao Marfrig Brasil.
Neste período, o Mercosul, detentor do controle das plantas de Bagé, Mato Leitão, Capão do Leão e Alegrete no Rio Grande do Sul, loca estas unidades por 630 mil reais em valores atualizados a um dos gigantes da carne no Brasil.
Nilton Carlesso, um dos produtores que avalizou uma das operações da cooperativa, está com os bens penhorados como garantia de dívidas. “É muito complicado para mim, e tantos outros produtores, termos que administrar uma situação que se arrasta desde 2006, quando o contrato foi firmado com o Mercosul, e até hoje a empresa não honrou os compromissos assumidos de pagar os fornecedores da extinta Cooperativa Rural”, comenta Carlesso.
Ele relata que desde 2010 estão com uma ação na Justiça na tentativa de acionar a empresa devedora, mas que nesses 4 anos, ainda não ocorreu nenhuma audiência, e que a morosidade é tão grande, que uma autorização para a realização de uma simples perícia, aguarda a autorização há 10 meses na mesa de um juiz.
Enquanto o Mercosul não saldar estes valores, os avalistas e os 96 produtores que avalizaram na época 3 milhões de reais para capital de giro, também enfrentam o mesmo problema: indisponibilidade de bens, com sérias implicações nas atividades profissionais.
Questionado sobre a possibilidade de a situação se arrastar por tempo indeterminado, Carlesso diz que há uma questão que julga ser imprescindível para qualquer que seja a intensão do Mercosul em relação ao Frigoríco. “Ele tem a posse do bem, não a escritura”, argumenta. E para qualquer negociação de venda para o Marfrig ou outra empresa, é preciso saldar os débitos para obter a escritura. Este é o grande trunfo que os produtores ainda dispõem para pôr fim a esta longa história.
Este ano, o prédio da Cooperativa, junto à Becker, foi a leilão, e foi adquirido por 900 mil reais pela própria empresa que ali está instalada, e os valores confiscados pela Justiça do Trabalho para quitar dívidas trabalhistas.
Ao final da entrevista, questionamos o produtor Nilton Carlesso, sobre os rumores que circulam quanto a um possível fechamento do Marfrig em Alegrete. Ele é enfático ao dizer que não acredita, pois essa é a principal indústria do grupo no Brasil. E que a questão da rastreabilidade e a falta de matéria prima, não são argumentos convincentes, pois aqui na fronteira, num raio de 200 km está a maior concentração de gado do sul do país.
Confira na íntegra o contrato celebrado entre a Cooperativa Rural Alegretense e o Frigorífico em agosto de 2006.