Covid e as silenciosas tragédias familiares

O luto sem despedida. Filha de alegretense vítima do novo coronavírus conta como está sendo a dor de não realizar uma despedida ao pai. A perda relacionada ao vírus é desoladora para todos que perderam entes queridos.

Artidor Carvalho de Freitas, era carpinteiro aposentado, estava com 73 anos e faleceu no dia 19 de dezembro de 2020. Ele foi o 35º óbito em decorrência da Covid-19 no Município. Ele era casado com Justina Freitas de Freitas há 46 anos. O casal teve três filhas e três netos.

“Ele faleceu no dia 19 de dezembro às 15h18 e foi sepultado às 18h 30 com apenas a família, seis pessoas e um casal de amigos numa tarde silenciosa. Tudo muito distante, ficamos longe, sem despedidas. Grande tristeza”- comenta Elisa Freitas de Freitas.

 

Ela falou com o PAT, pois o pai iria completar 74 anos neste dia 21 de fevereiro. Além de fazer uma homenagem, ela acrescenta que o sofrimento que eles passaram com a perda e destaca que o vírus é terrível e as pessoas deveriam se preservar mais e cuidar umas das outras, pois a empatia é não pensar somente em si, mas principalmente no seu semelhante.

Elisa inicia o relato falando sobre o pai. O idoso que sempre foi trabalhador, responsável pela família e adorava festas de Carnaval e gauchadas. Não perdia uma, estava sempre prestigiando. De acordo com a filha, Artidor ensinou a filhas que a honestidade é imprescindível e cobrava que elas deveriam ser “corretas”, isso era fundamental.

“Ele nunca deixou faltar nada, na medida do possível. Fomos criadas com o simples e sabendo dar valor ao pouco que tínhamos. Com o tempo, ele descobriu um problema no coração que o afastou dos serviços de carpintaria” – falou Elisa.

Na sequência, ela descreve que, infelizmente, o pai sofreu uma isquemia em 2011 e desde então, sua saúde ficou prejudicada. Em setembro de 2019 ele começou uma nova etapa de vida, dependia de uma máquina de hemodiálise para seguir vivendo. Ele no começo não aceitava o tratamento, foi difícil e a família sempre unida fez de tudo para auxiliá-lo. Por diversas vezes que esteve hospitalizado as filhas temiam por sua saúde pois acreditavam que ele não iria resistir, mas ele sempre voltava pra casa forte. Era muito valente – considera Elisa.

“Passamos toda a pandemia com muitos cuidados, não só com ele, mas com todos. Meu pai precisava ir no mínimo três vezes na semana na Clinica Renal aos cuidados da Dra Rute e sua equipe. E, em 9 de dezembro tudo aconteceu. Não se sabe como ele se infectou. E, além dele, minha mãe e eu também fomos infectadas. Graças a Deus, a netinha de 7 anos e na minha irmã de 24 o teste foi negativo. Mas tudo aconteceu muito rápido, percebemos pelos sintomas. Meu pai, como estava sem os rins, o vírus foi ágil, e ele teve forte falta de ar, pressão baixa e febre sendo entubado na quarta. Foram três dias de total angústia pois estávamos isoladas na espera das ligações do hospital, com notícias que, no sábado à tarde se concretizou a pior de todas com uma parada cardiorrespiratória que levou sua vida”- fala emocionada.

A filha acrescenta que o resultado do teste Covid, feito no dia 15 de dezembro, só chegou dia 26 de dezembro sendo assim, ele não estava fazendo, ainda, o uso de antibiótico.” Assim que recebi o laudo na certidão de óbito a ser confirmado, fato que nós deu ainda mais sofrimento pois até então ainda não sabíamos se era Covid ou não. O sofrimento de não ter despedida é triste demais. Passado o Natal, chega a notícia, 3 positivados. Infelizmente era de fato de Covid.”- lembra.

Elisa cita que neste domingo o pai estaria completando 74 anos e descreve que ele iria se deliciar em uma carne de ovelha, pois era uma de suas preferidas. Mesmo assim, deixo aqui uma mensagem de gratidão a ele por ter sido nosso pai. Pelo cuidado e zelo conosco, sempre querendo nos ver bem. Muita luz a ele. Aqui, a saudade bate muito, mas as lembranças amenizam o sofrimento, o choro. Por isso, falo a todos, ajudem, amem, sejam presentes, cuidem de seus pais, eles são as peças mais preciosas de nossas vidas, pois o amor é eterno” – conclui.

Flaviane Antolini Favero