
Aos 75 anos, o cidadão tem muita história para contar e se for comunicativo, aí são muitas histórias a serem contadas, do homem nascido em 30 de dezembro de 1949.

É o caso do Deda. Em uma entrevista numa manhã fria de uma sexta-feira 13, ele preparou um café com cueca virada, bolachinha, pão e mortadela. A conversa em sua casa no bairro Dr. Romário revela uma história recheada de muitos acontecimentos. “Tem as partes tristes, mas disto não vamos falar”, pensa ele, entre um gole e outro de café.
Wanderlei vai logo trazendo uma mala lotada de fotos de momentos que marcaram sua vida. Cada uma traz uma história, ou melhor, ele conta. Deda diz que morou na Carlos Gomes, na Vila Nova nasceu e se criou. Terminou o 1º Grau entre Oswaldo Dorneles, Oswaldo Aranha e Demétrio Ribeiro. Serviu ao exército no 6º RCB, Soldado 327 trabalhou na enfermaria militar.
Após o serviço obrigatório foi admitido pela Nogueira, exímio cobrador, diz ele. Em 1970, foi para Porto Alegre e conseguiu emprego de balconista nas conceituadas Lojas Alfred. Em três anos no comércio, crava que foi o único que namorou e casou com uma funcionária da rede.
“Eu desenhei, sonhei e planejei a mulher que iria casar”, diz o entrevistado. Ele sonhou e conquistou o coração de Leila Rodrigues, com quem construiu uma família.

Mas, ainda na Capital, Deda saiu das Lojas Alfred e foi arrumar fogão à gás. Foram três anos nessa função. Um belo dia se inscreveu num curso de cabeleireiro do Senac em meados de 1978. Era a profissão que tomaria conta do cidadão até os dias de hoje.
Deda se diz o primeiro cabeleireiro de Viamão, na Vila Isabel. Lá foi candidato à vereador na cidade metropolitana. “Se eu pensasse em mim naquela época, hoje estaria bem melhor”, revela o alegretense.
Nos anos 80, retornou para Alegrete, voltou para Vila Nova enquanto arrumava sua casa na Dr. Romário. Num tradicional ponto da Alexandre Lisboa, instalou seu salão. Ali foram 30 anos de uma história que em parte se diz arrependido de ter saído do local.

Em 2021, cansado, decidiu sair da avenida e se aposentou. Paralelamente completou cerca de 30 anos em rádio. Na Gazeta fazia um programa de esportes e variedades e teve uma passagem pela Rádio Comunitária Sentinela FM.

Deda organizou por 10 edições torneio de futebol categoria 40 anos, se especializou no conserto de bolas de futebol. “Fui o primeiro a fazer esses torneios”, relembra o 4º zagueiro do Brasil da Viação Férrea, São Cristovão, Fluminense e Carlos Gomes.
“Deus é bom pra mim”, fala em alto e bom tom sentado em seu sofá. No carnaval possui uma história com 5 troféus de campeão. Pioneiro da Artilheiro do Samba, escola carnavalesca, o passista e mestre-sala, viveu grandes carnavais.





Como um fato marcante, o alegretense Deda já concorreu em 10 eleições para vereadores em Alegrete. Nunca teve menos que 100 votos e a maior votação foi 504 votos. Em 2024, nas eleições contabilizou 101 votos, sempre com a legenda do PDT, fez as campanhas com um dos seus dois bens declarados, uma moto 125cc Yamaha ano 1980.


“Nunca puxei o saco de ninguém”, diz Deda, sobre a participação política tão longeva. Na pandemia da Covid-19, mais um capítulo triste da vida. De viagem para Caxias do Sul, recebeu a notícia do falecimento da filha mais velha, acometida pelo vírus. Mas ele se reergue. Morou um tempo em Caxias do Sul, e voltou para Alegrete.
Hoje, aposentado e bisavô ainda corta cabelos esporadicamente de clientes, amigos e conhecidos. Vive sozinho com uma cadela companheira de raça não definida em sua casa na Dr. Romário. Aprendeu a tomar chimarrão, caminha todos os dias e diz que em algum momento do dia pensa em ir embora de Alegrete, mas as raízes lhe prendem.







Fotos: PAT e reprodução (acervo pessoal)