‘Destruiu com a nossa família em menos de uma semana’, diz filha de morador de Canoas que morreu por coronavírus

Martinho Osório Cardoso foi o 15º óbito por Covid-19 no RS. Hipertenso e diabético, ele morreu nesta sexta-feira (10) no Hospital Universitário de Canoas.

Emocionada, a assistente administrativa Patrícia Tomazzini Rosa, não consegue entender como perdeu tão rápido o pai para a Covid-19. O morador de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, Martinho Osório Cardoso, de 78 anos, morreu nesta sexta-feira (10). Ele foi o 15º óbito por coronavírus no Rio Grande do Sul. Ele estava internado há uma semana no Hospital Universitário de Canoas.

“Ele tinha vida saudável, fazíamos festa, era uma pessoa muito alegre. O vírus veio e acabou, destruiu com a nossa família em menos de uma semana. Essa foi a pior parte”, lamenta a filha.

Patrícia conta que no dia 29 de março Martinho teve diarreia e ela o levou ao Hospital de Pronto Socorro de Canoas, mas não foi feito o exame para testar o vírus, apenas um exame de sangue, que diagnosticou infecção intestinal.

“Como eu estava trabalhando de casa, trouxe ele para cá para Porto Alegre. Mas na terça [31] ele não parava de vomitar e eu levei ele para a Upa [Unidade de Pronto Atendimento] da Bom Jesus. Não fizeram o teste para corona de novo, pois falaram que ele não tinha sintomas e afirmaram que era infecção intestinal.”

Dois dias depois Martinho voltou para Canoas, mas os remédios seguiam sem fazer efeito. Na sexta (3), a família levou ele na Upa da cidade, desta vez foi feito o teste para o coronavírus e o resultado foi positivo. Ele foi, então, internado no Hospital Universitário de Canoas.

A Secretaria de Saúde de Canoas disse ao G1, por meio de nota, que as cumpriu as normas do Ministério da Saúde, que fiz que os testes para o vírus só sejam feitos em profissionais da saúde e de segurança que apresentarem sintomas e em pacientes internados. Veja nota completa abaixo.

Na terça (7), Martinho teve duas paradas cardíacas e faleceu na sexta (10) de madrugada.

“Ele era uma pessoa que tinha uma vida normal. Era hipertenso e diabético por conta da idade, mas tinha uma vida saudável, se cuidava”, conta Patrícia.

A família não sabe onde o aposentado possa ter se infectado, já que não tem histórico de viagem e não teve contato com pessoas que tiveram o vírus.

“Ele estava em isolamento com a esposa e a neta. Não sabemos como ele pegou. Talvez tenha sido antes, logo no início que não tinha todo esse cuidado. Ele ia buscar pão de manhã. Não conseguimos entender onde que foi que ele contraiu esse vírus”, relata a filha.

O corpo de Martinho foi direto do hospital, em um caixão lacrado, direto para o crematório. A família não teve a oportunidade de se despedir. Ele deixa a esposa, cinco filhos, mais de 10 netos e dois bisnetos.

“A gente não teve uma despedida. Não teve uma cerimônia, nada. E daqui cinco dias eu vou pegar as cinzas do meu pai”, diz a filha, emocionada.

“Tivemos que dar a noticia para a minha mãe, foi bem difícil. Como tivemos contato com ele, fomos de máscara e luva ao hospital receber a notícia, ficamos a três metros dela. Dar uma notícia assim, sem poder dar um abraço na minha mãe”, lamenta.

Sobre o velório, a secretaria diz que “a determinação obriga que os caixões sejam fechados e somente os profissionais responsáveis pelos preparativos tenham o contato com o corpo”.

A mãe de Patrícia também está sendo monitorada, já que teve contato com Martinho. Mas, segundo ela, a mãe não apresentou sintoma nenhum da doença.

A filha lamenta que da primeira vez que levou o pai no Hospital não realizaram o teste para o vírus.

“É uma coisa que a gente não espera. Foi uma reviravolta na nossa família. Realmente, muito rápida. Quando um idoso adoece, vamos ter os cuidados, tratar, levar no médico. Minha mágoa é porque não terem feito o teste no dia 29. Ele era hipertenso, diabético, estava com um dos sintomas, por que não fizeram o teste? Deixaram se agravar de um jeito, para quase uma semana depois testarem, quando o pulmão já estava comprometido”, questiona Patrícia.

Nota da Secretaria de Saúde de Canoas

A Secretaria de Saúde de Canoas esclarece que segue as recomendações do Ministério da Saúde e da Secretaria Estadual da Saúde para o enfrentamento à pandemia, seguindo os princípios operacionais do Sistema Único de Saúde do Brasil. Dessa forma, todas as ações exercidas pelos profissionais da saúde em qualquer município seguem as determinações de instâncias superiores que determinam que:

Os testes sejam realizados SOMENTE em: profissionais da saúde e de segurança que apresentarem sintomas e em pacientes internados, conforme nota informativa da SES de 23 março de 2020 e a portaria 54 do Ministério da Saúde.

Quanto aos procedimentos relativos ao velório, a determinação obriga que os caixões sejam fechados e somente os profissionais responsáveis pelos preparativos tenham o contato com o corpo, de acordo com a Nota Técnica 01/2020 da Vigilância Estadual em Saúde.

Desta forma, no caso em questão, os profissionais e unidades de saúde de Canoas seguiram rigorosamente as determinações da Ministério e da Secretaria Estadual. Cabe informar que: o paciente foi testado no dia 4 de abril, logo após ter dado entrada na UPA e ter a recomendação de internação feita pela equipe médica de plantão.

Fonte G1