Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio| PMs que salvaram vidas no Ibirapuitã relatam comoventes experiências

O Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, celebrado em 10 de setembro, é uma data que destaca a importância da conscientização e da prevenção desse grave problema de saúde pública.

Embora a data oficial seja uma oportunidade para discutir o tema, as ações de prevenção ocorrem ao longo de todo o ano, envolvendo diversos profissionais e a comunidade.

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Em muitas cidades, como é o caso de Alegrete, as ações de prevenção ao suicídio são intensamente apoiadas por membros da comunidade, policiais militares, bombeiros e outros profissionais que se dedicam a salvar vidas. Um dos locais que ganhou destaque devido às ações preventivas, é a ponte Borges de Medeiros, sobre o rio Ibirapuitã. A presença de grades na ponte é uma das medidas implementadas para evitar tragédias. No entanto, o local ainda testemunha diversos resgates, sendo cenário de ações heroicas.

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Nesta reportagem, dois depoimentos de policiais militares envolvidos em resgates na região oferecem uma visão sobre o trabalho desses profissionais e as dificuldades enfrentadas. Eles estão representando todos os que já efetuaram salvamentos em Alegrete.

Ambos optaram por não ter a identidade revelada, em respeito às vítimas, mas compartilharam suas experiências sobre os resgates.

O primeiro caso foi de um soldado que, em outubro de 2020, salvou um senhor no Rio Ibirapuitã.

“O resgate que mais me impactou foi o do senhor que se jogou na ponte em outubro de 2020. Até hoje, foi o mais difícil e perigoso que realizei, pois os outros resgates sempre contaram com equipamentos de salvamento e com o auxílio de um colega. Quando cheguei à vítima, ela demonstrou resistência, mas consegui rapidamente convencê-la de que sairíamos juntos daquela situação. Pedi que ela ficasse calma e tentasse flutuar, na medida do possível. Com muito esforço, consegui tirá-la da água e, posteriormente, ela foi encaminhada para atendimento médico. Não me feri durante o salvamento; na hora, não pensei que estava colocando minha própria vida em risco e não hesitei em me jogar na água.

Sinto uma enorme gratidão, pois acredito que Deus me colocou naquele momento na vida daquela pessoa e, por meio do meu esforço, pude garantir a ela mais uma chance de vida. Após o salvamento, a vítima mencionou apenas que estava com problemas. Ainda exausto, dei-lhe um abraço para mostrar que ela não estava sozinha. Ao longo da minha carreira, foram inúmeros resgates, mas esse, por ter ocorrido na minha cidade e pelo alto grau de dificuldade e perigo, foi o que mais marcou minha vida. Hoje, tenho a certeza de que naquele dia dei o meu melhor por alguém que nem conhecia, e sou grato a Deus por ter me capacitado.”

Outro policial militar, sargento, refletiu sobre sua experiência no Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.

Como você se sente refletindo sobre sua experiência ao resgatar pessoas que tentaram tirar a própria vida, especialmente no Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio?

“É um dia importante para refletirmos sobre esse mal silencioso que já faz parte do nosso cotidiano.”

Qual foi o resgate que mais lhe impactou emocionalmente ou deixou uma marca duradoura?

“Sem dúvida, o caso recente de agosto deste ano, quando flagramos uma jovem pulando as guardas da ponte para se jogar. Foi um momento muito rápido; tivemos segundos para pensar, decidir e agir.”

Como é, geralmente, o comportamento das pessoas no momento do resgate? Elas mostram resistência quando chegam até elas?

“Geralmente, são pessoas que estão doentes e precisam de amparo. Naquele momento, elas não raciocinam plenamente e costumam chorar.”

Em um dos resgates, você acabou ferido. Como foi esse episódio e como foi colocar sua própria vida em risco para salvar outra pessoa?

“Nesse caso, fiquei com uma leve escoriação no joelho esquerdo ao calçar contra a guarda da ponte enquanto segurava a vítima por um dos braços. No entanto, isso foi insignificante comparado ao ato de salvar uma vida. Imagino a dor da perda para a família. Só percebi o ferimento algum tempo depois.”

O que as pessoas que você resgatou costumam dizer logo após serem salvas? Expressam arrependimento ainda na água?

“No momento do resgate, o que fazem é chorar. Tentamos consolar e mostrar que a vida vale a pena enquanto as encaminhamos para os profissionais de saúde que darão o suporte necessário. Algumas voltam para agradecer, mas temos a convicção de que salvar é nossa missão.”

Houve diferença no número de homens e mulheres entre as pessoas que você resgatou? Qual grupo foi mais frequente?

“Na maioria dos casos em que participei, as vítimas eram mulheres, e tem chamado a atenção o número de jovens nos últimos anos.”

Como essa experiência de salvar vidas impactou sua vida pessoal e profissional?

“A sensação de dever cumprido e a gratidão a Deus por ter sido usado como instrumento para fazer o bem não têm preço. A partir desses momentos, passamos a ver a vida de maneira diferente e a valorizar mais o que realmente importa.”

Você tem uma ideia de quantos resgates já fez ao longo da sua carreira?

“Nunca parei para pensar sobre isso, mas já participei de cerca de dez salvamentos.”

Há algum padrão comum nas situações que enfrentou?

“Geralmente, são pessoas que sofreram algum trauma recente e pensam que não há mais saída.”

“São anos dedicados à segurança da nossa cidade e não teríamos tempo suficiente para relatar todas as ações realizadas. Lembro de uma ocasião crítica em que os bombeiros estavam enfrentando uma situação difícil: com um barco disponível, mas sem meios de transportá-lo até o local necessário. Foi então que entramos em ação. Passamos pelo quartel da Brigada Militar, trocamos de viatura e seguimos para o quartel dos Bombeiros. Lá, atrelamos o reboque ao barco, atravessamos pelo 12º BE Comb e colocamos o barco na água. Enquanto isso, outro policial aguardava no Rio Ibirapuitã, segurando a vítima agarrada a galhos de árvore.

Essa operação foi um verdadeiro trabalho em equipe, evidenciando a importância da colaboração entre as instituições para garantir a segurança da comunidade. Além disso, gostaria de fazer um apelo às famílias: é crucial prestar mais atenção aos filhos. Na correria do dia a dia, é comum vermos pais entregando seus filhos às telas sem qualquer tipo de supervisão. Entretanto, no submundo da Internet, há inúmeros criminosos tentando aliciar nossas crianças e adolescentes” – concluiu.

A campanha Setembro Amarelo, o maior movimento de prevenção ao suicídio no mundo, tem como lema para 2024 “Se precisar, peça ajuda!” e promove diversas ações para conscientizar a população sobre a importância da prevenção. O suicídio é uma realidade triste que afeta muitas pessoas globalmente e tem grandes repercussões para a sociedade. O tema é frequentemente tratado como tabu, mas é crucial discutir abertamente para ajudar aqueles em crise a buscar apoio e perceber que a vida sempre é uma opção válida.

Os pensamentos suicidas frequentemente resultam de um sofrimento emocional intenso e distorcido, levando a pessoa a enxergar poucas alternativas para enfrentar suas dificuldades. Informar-se sobre o tema e oferecer suporte a quem está passando por momentos difíceis é essencial. A escuta ativa, a empatia e o encaminhamento para um profissional de saúde mental são passos fundamentais para ajudar quem está em risco.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é uma das principais causas de morte globalmente, superando até mesmo causas como HIV, malária ou câncer de mama. Entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio é a quarta causa de morte, após acidentes de trânsito, tuberculose e violência interpessoal. O fenômeno é complexo e pode afetar indivíduos de todas as origens, sexos e idades.

É fundamental que a sociedade continue a promover a conscientização e a prevenção, apoiando aqueles que necessitam de ajuda e trabalhando para reduzir o estigma associado ao suicídio. A atuação conjunta de profissionais, comunidade e campanhas de prevenção são essenciais para salvar vidas e promover a saúde mental.

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