
Sabe-se que tanto a morte quanto o momento de decidir o que fazer após a morte de um familiar é difícil e doloroso. Porém, não podemos fugir da hora de escolher entre salvar a vida de uma pessoa ou não.
O QUE É DOAÇÃO DE ÓRGÃOS?
É um procedimento cirúrgico no qual os órgãos (pulmão, fígado, coração, pâncreas, rim) ou tecido (medula óssea, ossos, córneas) de um doador são retirados. Após a retirada é feito o transplante, que consiste em inserir o órgão em outra pessoa que seja compatível. Vale esclarecer, que há uma técnica para triagem clínica do coronavírus nos doadores, evitando o contágio.
A doação só pode ser feita após a morte encefálica (quando o cérebro para de funcionar) e com a autorização de algum familiar.
Segundo pesquisadores, mais de 43 mil brasileiros precisam de um transplante de órgão, e o número de doadores diminuiu 50% durante a pandemia. O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking de doadores de órgãos, porém quando a chega a hora, os familiares não deixam os órgãos serem retirados para a doação.
“[…] A esperança está na fila do transplante. Mas a demora desanima. Já são dois anos sonhando com uma doação de córnea. […]”, conta a operadora de caixa Suelen dos Santos, mãe de Ruan Paulo de 16 anos.
De acordo com a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, no mesmo tempo em que caiu o número de doadores, a taxa de mortalidade de quem está na fila de espera aumentou de 10 a 30%.
A psicoterapeuta e escritora Ailla Pacheco teve hepatite fulminante e não tinha tempo para esperar. Conta que entrou no bloco cirúrgico com 30% de chance de viver e saiu contemplando uma nova vida, testemunhando o valor da solidariedade. “Como a gente nunca sabe o dia de amanhã, aproveite o presente, aproveite o aqui e o agora, para você já conscientizar a sua família do seu desejo de ser um doador de órgãos, porque esse ato pode salvar muitas vidas”, afirmou Ailla.
A religião e a falta de diferenciar morte encefálica de situações que o paciente está em coma, também dificultam o processo. “As pessoas ainda não compreendem o diagnóstico de morte encefálica e confundem com situações em que o paciente está em coma, e os órgãos serem retirados com o ente querido ainda vivo, mas essa possibilidade é zero pelo rígido protocolo que é seguido para a confirmação da morte encefálica. Questões religiosas também dificultam a doação dos órgãos, assim como o fato das pessoas, ainda em vida, não falarem para a família sobre o desejo de ser um doador de órgãos, e é somente os familiares que podem autorizar a doação”, disse Daniella Ramos, coordenadora da Central de Transplantes de Alagoas.
OS DOIS TIPOS DE DOADORES DE ÓRGÃOS:
- Doador vivo: Qualquer pessoa que concorde com a doação, desde que não prejudique a sua saúde. Pode doar um dos rins, parte do fígado, medula óssea ou parte do pulmão.
- Doador falecido: São pacientes com morte encefálica, que geralmente sofreram um AVC (derrame cerebral) ou traumatismo craniano, por exemplo.
“Muitas famílias optam por não doar órgãos justificando que desconhecem a vontade da pessoa que morreu. Seria importante que as pessoas deixassem explícita sua vontade, porque um adoecimento agudo, como costumamos chamar situações como acidentes, pode ocorrer a qualquer momento” falou Gabriela Rossato, enfermeira que dedicou sua dissertação de mestrado a entender o que as famílias vivem no processo de não doar órgãos.
“Graças a Deus tivemos uma pessoa de um coração bom que doou e salvou a vida dos nossos filhos. Só temos a agradecer, e que mais pessoas tenham o mesmo gesto. Que doe e que salve mais vidas”, destacou a dona de casa e mãe Paola Silva Ferreira.
Por: Geovanna Valério Lipa