Doença contagiosa em cavalo cancela desfiles no interior

Exame de mormo é obrigatório para animais que participam de eventos desde que foi constatado primeiro caso no RS, em Rolante, em junho deste ano. Até o momento, cerca de 9 mil cavalos foram examinados

desfile

Pelo menos cinco cidades do interior do Rio Grande do Sul cancelaram o Desfile Farroupilha por conta do mormo, uma doença grave que atinge cavalos, jumentos, mulas e, até mesmo, seres humanos.

Desde junho, quando foi confirmado o primeiro caso no Estado, no município de Rolante, no Vale do Paranhana, o governo passou a exigir um exame para todos os animais que participam de eventos, certificando que ele não está infectado pela doença.

Por não conseguirem a documentação a tempo, os representantes dos Movimentos Tradicionalistas Gaúchos em Bagé, Caçapava do Sul, Dom Pedrito, Júlio de Castilhos e Piratini, decidiram não ir às ruas no dia 20 de setembro.

De acordo com o MTG-RS, grupo que cuida dos festejos farroupilhas, Porto Alegre está livre da doença e tanto o Desfile, quanto o Rodeio e Acampamento Farroupilha estão mantidos, desde que os participantes estejam com a documentação em dia.

Segundo o presidente da entidade, Manoelito Savaris, para participar de qualquer atividade com concentração de animais, os cavalos devem ter Guia de Trânsito Animal, que aprove a circulação dos cavalos, comprovar vacina contra Influenza e resultados negativos para anemia e mormo. O Estado tem 575 mil cavalos registrados, sendo que destes, 100 mil participam de eventos.

— Estamos divulgando o exame e orientando os criadores. Já temos no Rio Grande do Sul, de oito a nove mil cavalos testados e com resultado negativo. Acredito que até o dia 20 de setembro, teremos 30 mil. No desfile, em Porto Alegre, cerca de 2,5 mil equinos costumam participar, mas queremos deixar claro que, só irão sair para a rua aqueles que estiverem em dia com o exame — explica Manoelito.

Os municípios que cancelaram os Desfile Farroupilhas alegam que, além de não conseguirem realizar os exames a tempo, o preço de cada teste da doença de mormo é elevado e que muitos criadores não tem condições de pagar.

Segundo o MTG, veterinários coletam o sangue do cavalo e direcionam para laboratórios fora do Estado, já que no RS não existem local certificado para realizar o teste. Este custo fica em torno de R$ 100, por cavalo, e o exame dura dois meses.

Sem cura

Segundo a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio, órgão que fiscaliza as documentações dos animais, até o momento, um caso da doença de mormo está confirmado no Estado e outros 19 animais estão sob suspeita, aguardando resultado.

Conforme o  responsável pelo Programa de Sanidade de Equinos, Gustavo Diehl, a doença teria vindo ao RS por Santa Catarina, onde um cavalo de Rolante teria participado de um rodeio clandestino, ou seja, evento que não exige exames da saúde dos animais. Após constatada a doença, o cavalo foi sacrificado.

— Os criadores precisam estar cientes da importância dos exames de mormo. Acreditamos que a situação está sob controle, mas não podemos negligenciar o risco. A doença não tem cura e nem vacina, tem alta taxa de mortalidade em cavalos e, quando atinge seres humanos, é fatal.

Fiscalização

Até 2013, quando os animais saiam do Estado para ir a algum outro com risco da doença de mormo, os animais eram submetidos aos exames. Porém, a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio admite que, da metade de 2013 até o fim de 2014, não multou quem não apresentava resultado negativo para o teste de mormo, o criador era apenas autuado, por determinação do governo da época.

Segundo Gustavo, alguns eventos estavam sendo cancelados pela falta do exame, e por isso a obrigatoriedade foi suspensa. Atualmente, a multa para quem não tiver a comprovação do teste é de 100 upfs, ou seja, em torno de R$ 1500.

O que é a doença de mormo?

– O mormo é uma doença infectocontagiosa grave que ataca os equídeos (animais como cavalos, jumentos e mulas), mas que pode acometer outras espécies, como o homem.
– A doença é causada pela bactéria Burkholderia mallei. Os sintomas são: febre, tosse, corrimento nasal com pus, edema dos gânglios e linfonodos, emagrecimento do cavalo, assim como feridas na pele.
– A contaminação acontece pelo contato com pus, secreção nasal, urina ou fezes. A bactéria penetra por via digestiva, respiratória, genital ou cutânea (por lesão). O germe cai na circulação sanguínea e depois alcança os órgãos, principalmente pulmões e fígado.
– A disseminação da doença no ambiente ocorre através da água, alimentos, bebedouros e equipamentos de montaria compartilhados. A mosca também pode contribuir para a disseminação da bactéria, além de contato com urina e fezes de animais contaminados.
– Se o animal estiver infectado, a primeira medida a ser tomada é notificar a Defesa Sanitária (3288.6200). Depois, isolar a área de infecção e os animais suspeitos. Os animais com mormo devem ser sacrificados, podendo ser enterrados ou cremados. O local onde o animal vivia deve ser bloqueado e suspenso o trânsito de outros animais da propriedade.

Como evitar?

– Animais que participam de eventos precisam realizar testes veterinários para anemia, mormo e vacina contra influenza.
– O exame de mormo tem validade de dois meses. O RS ainda não possui laboratório que realiza o exame. No site dda.agricultura.rs.gov.br é possível encontrar a lista de laboratórios no Brasil.

Fonte: Zero Hora