Dos Estados Unidos, alegretense explica e manda recado sobre a Covid-19

O Portal Alegrete Tudo publica a partir desta sexta-feira (3), uma série de três reportagens especiais com três alegretenses que vivem em países diferentes e estão convivendo em meio à pandemia do coronavírus.

Dinler Amaral Antunes, reside em Houston nos Estados Unidos, Luiza Elesbão Sbrissa, mora em Barcelona (Espanha), e Renan Aurélio Marques, na Cracóvia (Polônia), são os personagens desta série. Estudiosos e conhecedores do tema atual que afeta o mundo todo, eles relatam suas experiências e mandam um recado direto aos alegretenses.

O alegretense, Dinler Antunes, Bacharel em Biomedicina pela UFRGS, Mestrado e Doutorado pelo PPGBM/UFRGS e pós-doutorado pela Rice University (Texas/EUA), abre a série nesta sexta. Ele que concluiu o ensino fundamental na Escola Demétrio Ribeiro e o ensino médio na Escola Emílio Zuñeda, conta que após um breve período fazendo cursinho em Santa Maria, passou no vestibular para Biomedicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Foi para Porto Alegre e depois de formado, fez Mestrado e Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular da UFRGS. “Neste período eu me especializei no estudo da imunologia, e no uso de ferramentas computacionais para estudar a resposta imunológica contra os vírus”, destaca Dinler.

Integrante de projetos voltados ao desenvolvimento de vacinas antivirais para humanos, camundongos e bovinos, o alegretense foi para a cidade de Houston, nos Estados Unidos, em 2014.

Hoje, ele está realizando um pós-doutorado na Universidade Rice, focado no estudo da resposta imunológica contra o câncer, e seu uso para o desenvolvimento de imunoterapias.

Darci Gonçalves e Dinler Antunes no campus da NASA (Johnson Space Center), em Houston, Texas, EUA. Foto: reprodução

 

A experiência da quarentena:

– Há quase um mês eu fiz uma publicação no Blog da Sociedade Brasileira de Imunologia, na qual eu descrevi como se desenrolou o primeiro surto de COVID-19 nos EUA.

https://sbi.org.br/sblogi/atualizacao-sobre-o-coronavirus-e-as-tentativas-de-estimar-sua-letalidade/?fbclid=IwAR1iYhoNBcb85H6lnAxIt_IFABQ2u1nxLwm6jbairsyNMl2J9H2_qw3ZJX4

Depois do primeiro caso em Seattle, passaram-se seis (6) semanas sem nenhum caso suspeito e os governantes acharam que o surto havia sido contido. Na verdade, o vírus estava circulando silenciosamente, pois ainda não havia isolamento social.

De repente centenas de casos começaram a aparecer, e a realidade mudou. As Universidades foram as primeiras a reagir. A Universidade em que eu trabalho, no Texas, cancelou as aulas presenciais no dia 9 de Março.

As restrições para trabalhadores foram aumentando progressivamente, até a parada total de serviços não essenciais na cidade de Houston, dia 25 de Março.

O estágio da pandemia é diferente em cada estado, dependendo de quando foi o primeiro caso e como as autoridades reagiram. No momento existem três focos mais intensos. Os maiores são em Nova Iorque e Seattle, respectivamente, mas a preocupação agora é grande com Nova Orleans, que teve festas de carnaval no final de Fevereiro, e outras aglomerações em Março. Os EUA já são o centro global da pandemia, com mais de 6  mil mortos (valor que dobra a cada 3 dias). Nestas regiões mais afetadas o sistema de saúde já está sobrecarregado, e o resto do país se prepara para o impacto. Eu estou trabalhando de casa desde o dia 16 de Março, evito ao máximo sair na rua, e precisarei continuar em quarentena até pelo menos o dia 30 de Abril.

Mensagem aos alegretenses:

Como a pandemia afetou primeiro países na Ásia e na Europa, são eles que podem nos informar sobre o que está por vir e quais as consequências das medidas tomadas.

Mas a realidade do Brasil é muito diferente da realidade destes países. Os EUA oferecem uma ideia mais próxima da realidade do Brasil, em termos de tamanho e diversidade da população.

Ao invés de combater um foco da doença, o Brasil vai ter que combater múltiplos focos simultâneos, um desafio muito maior tendo em vista os recursos limitados.

Mas o Brasil tem algumas vantagens em relação aos EUA. O Brasil tem o SUS, tem um número de leitos superior a muitos países, tem a Fiocruz e o Instituto Butantan que estão desenvolvendo testes e vacinas, e tem experiência no enfrentamento de outras epidemias.

Mas o mais importante, é que o Brasil agiu mais cedo que os EUA, estabelecendo o isolamento social e preparando mais leitos em todas as regiões do país, inclusive em Alegrete.

Isso é ótimo, pois é a única forma garantida de controlar a pandemia. No entanto, conforme salientado pelo Dr. Átila Iamarino em entrevista ao Roda Viva, isso só funciona se conseguirmos manter a quarentena. Precisamos lembrar do exemplo de Seattle, e o fato que o vírus se espalha silenciosamente.

 

Isso é ainda mais forte pelo fato de não estarmos testando todos os casos suspeitos. Então, é preciso ter calma e, se possível, ficar em casa. E é preciso que os governos criem mecanismos para dar apoio à população neste momento.

Júlio Cesar Santos                               Foto: reprodução