Ela quer ser advogada, mas precisa enfrentar as barreiras da deficiência visual

Deficiente visual desde que nasceu, a alegretense Eliana Gomes de Freitas, de 25 anos, conversou com a reportagem do PAT sobre seus desafios, dificuldades e sonhos.

Situações de preconceito, de piedade, de desprezo, muitas vezes, fazem parte do cotidiano das pessoas com deficiência e de seus familiares. A mãe de Eliane fala dos inúmeros confrontos que enfrenta em alguns momentos, mas a maior luta, está em viver bem, sendo “diferente” – acrescenta.

Em certas situações a sociedade exclui quem não se assemelha aos ditos padrões da maioria – fala Eva Terezinha Rodrigues.

A entrevista realizada na casa de Eliana, também contou com a presença do advogado Eder Fioravante, que soube da dificuldade que ela está enfrentando, através do presidente do bairro, Clovis Bernardes.

Tudo acaba convergindo na falta de inclusão. Eliana que é deficiente visual desde que nasceu, acredita que o fato de ter nascido prematura tenha alguma relação, entre outros problemas enfrentados, porém, a mãe sempre foi sua maior incentivadora e quem a fez acreditar que não há limites para a sua vontade e garra.

Desde os seis anos Eliana frequenta a escola e, até concluir o ensino fundamental, estudou na Escola Freitas Valle, contudo, para concluir o ensino médio, a mãe foi à justiça e, através do Ministério Público, conseguiu uma vaga para a filha na Escola Estadual Lauro Dornelles.

Durante a pandemia, ela fez aulas através do sistema on-line através de um aplicativo que tem no celular, todavia, ao iniciar o ano letivo, agora de forma presencial, Eliana se deparou com uma grande dificuldade, a falta de monitor.

Essa não é uma situação que é exclusiva da Escola Lauro Dornelles ou em Alegrete, vários educandários estão sofrendo com a falta de monitores, fundamentais para o atendimento de Alunos da Educação Especial (AEE).

Os monitores prestam atendimento individual para alimentação, locomoção e higiene aos estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA), mobilidade reduzida, deficiência visual, deficiência intelectual e paralisia cerebral. Em alguns casos, é necessária a presença em tempo integral em sala de aula, o que acontece com a Eliana e por não ter essa pessoa, ela está há dois meses sem frequentar a escola.

“Como não tenho ninguém para me auxiliar, decidi ficar em casa, mas não desisti. Ligo para a escola pedindo uma posição, não quero desistir dos meus sonhos” – disse.

O sonho da alegretense é ser advogada e vê essa possibilidade de forma muito positiva pois tem muita vontade de aprender e busca conhecimento o tempo todo, como evidencia a mãe.

Elaine pondera que não iria expor uma professora, mas citou que, no início do ano, quando as aulas presenciais começaram, ouviu a educadora perguntar para seus colegas o que ela estava fazendo em sala de aula. “Me senti muito mal com o questionamento dela, eu só preciso do monitor, mas tenho capacidade de aprender e de conquistar o ensino superior, necessito de auxílio” – explica.

O advogado Eder Fioravante, ao saber da dificuldade da alegretense e do sonho de ser advogada, foi até a residência onde conversou com Elaine e também a convidou para ir a um Júri, neste ano, algo que a deixou radiante, além de ter levado a toga. Após vestir, e “mostrar” a Elaine, ela também colocou o traje usado nos júris.

Eder acredita que o educandário vai buscar uma solução, com isso, a contratação de um monitor para que a aluna retorne à sala de aula, no entanto, se isso não ocorrer vai buscar através da justiça esse direito.

O advogado menciona que o problema é do Estado, pois deixou de cumprir com a Lei da inclusão e reconhece que esta não é uma pauta apenas em Alegrete. Apesar disso, lembrou que, ao frequentar muitas empresas, no comércio, por exemplo, é possível acompanhar a inclusão de forma muito efetiva, pois as pessoas com deficiência estão cada vez mais, buscando os seus direitos.

“Espero que essa situação da Elaine se resolva rápido, porém, muito além, acredito que uma rede de ensino também possa se sensibilizar e dar a oportunidade que ela tanto busca em cursar um ensino superior. O desejo é ser advogada e vejo que ela tem vocação, mas pra isso, vai precisar de uma bolsa de estudos” – falou.

Um grande soldado da nobre missão de salvar vidas vai para a reserva

Para finalizar, Elaine frisou que falar sobre sua dificuldade, foi a maneira que encontrou de outras pessoas também buscarem os seus direitos, contudo, pontua o quanto é forte e não vai desistir fácil.

“Tem que ter uma forma de cumprir o que está em Lei, eu quero voltar para a sala de aula. Neste período, tentei receber o conteúdo de forma on-line mas isso, também , não foi possível” – conclui.

O que diz a direção da Escola Lauro Dornelles:

A direção pontua que já fez a solicitação para a 10ª CRE e que o processo já está tramitando. “Realmente, o estado é muito negligente, mas essa solicitação já foi realizada para que ela tenha o acompanhamento do monitor e retorne para a sala de aula.

Nós estamos providenciando o auxiliar de sala que chegará em breve para atender essa estudante. Infelizmente, isso demora um pouco porque é uma contratação lenta, tem que conferir documentação”- diz a direção.

Se inscrever
Notificar de
guest

0 Comentários
Comentários em linha
Exibir todos os comentários