Após nascimento prematuro que exigiu internação, Ícaro, Kael, Noah e Théo estão em casa, no bairro Bela Vista.
Em seu sonho de ser mãe, a professora Flávia Boschetti Rabelo, 35 anos, sempre imaginou ter quatro filhos. O que ela nunca cogitou, porém, é que eles viriam em uma mesma gravidez, adquirida de forma natural – ocorrência considerado rara em obstetrícia. Em ordem de nascimento, Ícaro, Kael, Noah e Théo parecem adaptados à organizada rotina de trocas e mamadas criada ainda no período de internação hospitalar pelo qual os quatro passaram após o nascimento, em Caxias do Sul, no dia 21 de maio.
Prematuros, eles vieram ao mundo na 27ª semana de gestação, no Hospital do Círculo, enfrentando problemas de pulmão e de coração – Noah chegou a passar por cirurgia devido a um sopro no coração. O quarteto, que antes era inesperado, tornou-se parte fundamental na vida de Flávia e seu marido Maximiliano Borges, 37. Em casa desde setembro, os pequenos não enchem apenas o berço do quartinho decorado da casa onde residem, no bairro Bela Vista, mas também os corações de toda a família.
— Era realmente um sonho ser mãe, quando engravidei, toda a família comemorou. No dia que fiz a primeira consulta com a ginecologista, ela estranhou que minha barriga estava maior do que o normal para o primeiro mês de gestação — lembra a mãe.
Durante a ecografia, a primeira imagem mostrou que tratavam-se de gêmeos, em dois diferentes embriões. Na mesma consulta, os outros dois embriões foram identificados e, no primeiro momento, Flávia diz ter ficado desesperada:
— Comecei a chorar porque a sensação que eu tinha é que ela (a ginecologista) iria encontrar ainda mais. Eu me preocupei muito com a saúde deles.
Desde o início, o casal sabia que um ou até dois embriões poderiam não se desenvolver. Outra informação que tinham era de que dificilmente seriam todos do mesmo sexo. Superando todas as expectativas, os quatro cresceram e, no quinto mês de gestação, uma ecografia identificou que seriam todos meninos.
— Se fosse só um nem teria mais graça — brinca o pai, que trabalha como técnico em informática e motorista, mas conseguiu uma folga durante a tarde em plena segunda-feira para falar sobre a novidade que transformou sua vida – e claro, ficar mais um pouco com os bebês.
Ele lembra da apreensão vivida pelo casal com o nascimento prematuro e a internação dos pequenos. Théo e Kael ficaram no hospital por dois meses, Noah por três e Ícaro, que teve mais complicações, chegou a completar quatro meses internado. Todos precisaram de transfusão de sangue e o caso ficou conhecido por meio de uma divulgação incentivada pelo Banco de Sangue da região. Hoje, a família encara como uma bênção divina o retorno de todos para casa, com saúde e muita disposição.
Rotina com quadrigêmeos
Se engana quem imagina um cenário de caos formado por quatro bebês chorando ao mesmo tempo e muita fralda suja para trocar. Bom, a parte das fraldas até pode ser verdade, mas prestes a completarem seis meses de nascimento, os quatro irmãos parecem bonzinhos. Segundo Flávia, durante a noite eles acordam apenas nos horários de mamar, em uma escala sincronizada que permite que ela dê conta de todos com a colaboração de Max.
Pela manhã, ela consegue descansar enquanto o quarteto fica sob os cuidados da avó paterna, Evanilde Borges, 59. À tarde, quando os bebês ficam mais agitados, o time ganha reforço da irmã mais velha, Syndel da Costa Borges, 21. A organização fica completa com a tabela de mamadas exposta em um mural afixado na cozinha da casa.
São seis mamadas e seis fraldas cada um por dia. A família conta com auxílio do Centro Especializado de Saúde (CES) para a aquisição do leite e ainda aproveita as fraldas que Flávia ganhou das colegas da escola onde trabalha.
Questionada sobre como faz para identificar quem é quem, a avó responde:
— Eles não são iguais. Inclusive tem personalidades bem diferentes já. Não choram juntos, mas o Noah se irrita às vezes com o choro do Kael, que é bem forte — relata Evanilde, que estimula os netinhos com sua experiência de anos como educadora em escola maternal.
Paralelo a isso, eles também contam com diversos acompanhamentos, incluindo fisioterapia, por terem nascido prematuros. Quanto à saúde? Praticamente perfeita.
— Muitas vezes na vida a gente se apega a muitas bobagens e coisas mesquinhas, mas o que importa agora, pra nós, é que eles estão em casa e com saúde — conclui o pai.
Nascimento: dia 21 de maio de 2019 (27 semanas de gestação)
Hospital do Círculo – Caxias do Sul
4h38min
Ícaro: 710 g
Kael: 965 g
Noah: 850 g
4h39min
Théo: 1,025 Kg
Fonte: Gaúcha/ZH