Em meses da safra do arroz, pó e cinza gerados por indústrias causam problemas aos moradores

A cada safra de arroz em Alegrete, um problema recorrente prejudica moradores dos bairros Pedreiras, Vila Prado e Progresso.

Com residências numa faixa de 3km próximo às indústrias arrozeiras, os moradores relatam uma situação preocupante ocasionada pela cinza e poeira das empresas de beneficiamento de arroz. A queixa já é antiga e o problema se repete ano após ano. Casas fechadas, poeira por por todo lugar, no lado de fora e até dentro o pó atinge os móveis das residências, crianças com alergia no corpo, idosos e adultos com problemas de respiração.

No pátio, as plantas, o carro e dentro das casas a poeira da casca do arroz toma conta. Um morador há mais 40 anos, na avenida Pedreiras diz que além da poeira, é preciso conviver com o barulho do maquinário.

No período da noite o ruído é intenso, além de dificultar o sono de pessoas de mais idade. Assistir televisão só num volume superior ao 25, conta um homem que mora a 200 metros de uma indústria. Segundo ele, o filho acorda de madrugada com irritação na garganta e precisa lavar o rosto devido a coceira na região dos olhos. “Ele já pensou em se mudar do local, mas não conseguiu vender a casa onde reside. “Todos os anos é a mesma coisa”, confessa o morador.

Um senhor de 60 anos, mora próximo aos trilhos de uma entrada para escoamento de grãos. São dois meses de muito incômodo, fevereiro e março aponta o idoso. “Passo noites em claro, eles ligam uns motores e só para no clarear do dia”. Com diversas reclamações, nenhuma atendida, o senhor já aprendeu a conviver com a poeira. “Fecho toda casa e no outro dia tenho de varrer tudo, passo um pano e fecho de novo”, resigna-se o idoso.

“Eu não posso abrir uma janela, uma porta, a casa fica fechada toda a semana”, desabafa uma moradora que reside entre duas indústrias de arroz e trabalha de diarista.

No entanto, a situação é registrada mesmo a 3km de distância, é o que revela um morador do Bairro Jardim Planalto. O acúmulo do pó do arroz é notável todas manhãs no pátio. “A gente varre, mas fica tudo gorduroso. É preciso lavar. Todos os dias é esse ritual. Incomoda toda família, essa situação”, protesta o homem de 51 anos.

Na Vila Prado, os carros e as casas fechadas com janelas empoeiradas exibem um grossa camada do pó acumulado. Um jovem de 21 anos conta que em pouco menos de meia hora a poeira toma conta e tem dias que a poluição é maior, atesta, com ar de indignação.

As empresas que trabalham com o beneficiamento de grãos apresentaram laudo técnico que permite as atividades. No ano passado, o Vereador Anilton Oliveira/PT, registrou um documento que refere-se sobre a poluição produzida pelo pó e palha dos engenhos, além da fumaça gerada pelas usinas de produção de energia

No dia 13 de maio, o vereador da bancada do PT entrou com uma representação formal pedindo que o MP, tome providências extrajudiciais e judiciais necessárias ao imediato controle da poluição produzida pelo pó e palha dos engenhos, além da fumaça das usinas de produção de energia.

 

A representação foi subscrita pelas vereadoras Maria do Horto Salbego/PT, Nivia Souza/MDB, Firminia Soares/PDT e pelo vereador Paulo Berquó/PT.

Na representação constam diversas matérias publicadas pela imprensa local, diversas fotos e um extenso abaixo- assinado. Centenas de moradores assinaram a petição, organizada pelas lideranças comunitárias dos bairros afetados. “Estamos na luta pra solucionar esse problema crônico de saúde pública, que já atinge cerca de 14 mil alegretenses”, destacou Oliveira.

A reportagem entrou em contato com a Promotora Luiza Losakan, que aguarda o laudo da FEPAM, para então se pronunciar sobre o caso.

Em nota, as empresas Pilecco Nobre Alimentos Ltda e SVA – Sílica Verde do Arroz Ltda, informam que as mesmas atendem a todos os parâmetros e requisitos legais previstos na legislação ambiental, inclusive neste período de safra a empresa credenciada junto a FEPAM, já realizou as medições nos equipamentos e emitiu o relatório de análise, o qual comprova que os níveis identificados estão abaixo dos limites exigidos, sendo importante salientar que os esses limites por sua vez já são bastante rigorosos e restritivos. Permanecemos à disposição.

Já a CAAL também atendeu a reportagem e encaminhou a seguinte nota: A respeito da poeira que tem gerado incômodo a moradores localizados no entorno da Unidade Industrial da CAAL, localizada na rodovia federal BR 290, a Cooperativa Agroindustrial Alegrete Ltda vem a público se manifestar:

– Grande parte dos particulados,  eventualmente lançados ao ambiente, são provenientes dos caminhões e carretas que transportam o arroz até à unidade industrial. As estradas por onde é escoada a safra são de chão batido, com raras exceções. Por este motivo as carretas e caminhões chegam ao destino com grande quantidade de poeira depositada em suas carrocerias e pneus e ao se movimentarem no pátio da indústria, geram a chamada “polvadeira”. Estes fatos, aliados ao período seco que se estende por tempo prolongado potencializam a dispersão de poeira e particulados;

– Com o pico da safra aumenta muito o fluxo de caminhões, principalmente de carretas e bitrens. Tem dias em que são descarregados em média 150 caminhões, gerando um trânsito muito intenso de veículos pesados, carregados de arroz e inevitavelmente, poeira em seus eixos, rodados, lonas e carrocerias. Isso, aliado ao vento sudoeste que eventualmente sopra, aumenta a dispersão da poeira suspensa no ar.

O que faz a CAAL para minimizar a emissão de poeira e particulados?

– Investe anualmente em soluções que minimizem a dispersão de poeira e particulados a partir das moegas e tombadores, através de aparatos técnicos com moegas enclausuradas por uma cortina que recobre todo o espaço onde é despejado o arroz; equipamentos de captação de pó que retiram o particulado do entorno, e também todo o pátio é aguado várias vezes por dia para que a poeira assente e não levante para o ar;

– Além dos cuidados e investimentos necessários em equipamentos, a CAAL cumpre todas as normas relativas à proteção e prevenção ambiental, estando com todos os licenciamentos ambientais em dia, conforme certificados emitidos pelos órgãos responsáveis;

– A CAAL investe anualmente grande quantia em modernização e atualização de seus equipamentos para oferecer um serviço qualificado aos seus associados e clientes e ao mesmo tempo manter o ambiente seguro e com a menor emissão possível de particulados como fumaça, fuligem e poeira.

O esforço físico, mental e financeiro para receber uma safra de arroz é enorme, envolvendo milhares de pessoas no campo e na cidade. Este curto período de tempo da colheita é o momento em que o arroz produzido por centenas de agricultores é transportado e depositado na unidade industrial. Toda esta movimentação gera trabalho e renda para milhares de pessoas. É este arroz é que vai movimentar a unidade industrial, mantendo empregos e salários, gerando impostos e riquezas que movimentam a economia local.

A CAAL lamenta algum transtorno gerado ao redor da sua Unidade Industrial, reafirmando o seu compromisso de continuar buscando soluções para minimizar esta questão ora levantada pela comunidade vizinha à Unidade Industrial.

Júlio Cesar Santos