Empresária que abriu a própria cabanha dá continuidade à tradição da família na criação de cavalos crioulos

Conheça a vitoriosa carreira de Mariana Tellechea, dona da Cabanha Basca junto com a filha Lilinha Tellechea e o genro Henrique Gonzalez.

Eram duas opções: arrendar o campo e vender as cabeças de gado e os cavalos crioulos herdados do pai ou encarar um grande desafio. Tomar as rédeas dos negócios da família no meio rural, sendo uma mulher de 27 anos no século passado, foi a — acertada — decisão de Mariana Tellechea, que não só manteve os negócios, como conquistou grandes feitos.

— A gente ganha dinheiro hoje com cavalo — afirma Mariana, mesmo que também façam parte do portfólio de negócios da Cabanha BT a plantação de arroz, a venda de gado gordo e de reprodutores das raças angus e brangus.

O cavalo crioulo não só proporciona a principal geração de receita da cabanha, mas também orgulho traduzido em prêmios. A marca BT (Bastos Tellechea) é a maior vencedora da história do Freio de Ouro em número de títulos — são 36, entre ouro, prata e bronze, segundo a Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos.

Além de profissão, uma paixão. Desde pequena sobre o lombo de um cavalo, tem um sobrenome pesado quando o assunto é raça crioula. É filha de Flávio Tellechea, zootecnista considerado um dos responsáveis por aperfeiçoar a raça crioula no RS. Ainda na década de 1980, era o irmão mais velho de Mariana, braço direito do pai, o escolhido para tomar conta dos negócios. Mas Flávio Antônio Tellechea perdeu a vida em um acidente de carro em 1989, e o pai faleceu um ano depois, em 1990, vítima de ataque cardíaco.

— Nós admirávamos tanto o trabalho do meu pai e do meu irmão que a gente queria que aquilo continuasse, então não medimos esforços para que fosse realizado — relembra Mariana, hoje aos 55 anos.

Por ser mulher e não estar preparada, era mais difícil”

MARIANA TELLECHEA

Mariana, a mãe, Lila Franco Tellechea, e a irmã Maria da Glória Tellechea Cairoli resolveram continuar comparecendo a remates e tocando os negócios. Os desafios foram numerosos, pois Mariana, que tinha pouca experiência no ramo — desde a morte do irmão, tinha começado a trabalhar no escritório —, precisava tocar uma equipe formada por homens. Ela conta que, quando estava na fazenda, além da sua presença, as outras mulheres do ambiente só eram vistas na cozinha ou cuidando da casa. No campo, teve que aprender a negociar gado, identificar cavalos promissores, administrar as fazendas, impor respeito e, sobretudo, tomar decisões acertadas.

— Por ser mulher e não estar preparada, era mais difícil, porque as pessoas não sabiam como é que a gente ia fazer, achavam que a gente não saberia fazer bem feito. Até adquirir o respeito dos funcionários, foi um período de adaptação — confessa.

Cláudio Vaz / Agencia RBS
Sala repleta de prêmiosCláudio Vaz / Agencia RBS

Durante os 20 anos que cuidou dos negócios da família, Mariana levou grandes prêmios à sala de troféus. Destaque para 21 Freios de Ouro (a marca BT tem 36 Freios) — entre ouro, prata e bronze — e vários prêmios em Morfologia da Expointer. Entre os anos dourados, destaque para 2003, quando a família levou tudo isso para Uruguaiana: Freio de Ouro com o BT Harmônico, Freio de Bronze com BT Haragano, vitória da BT Maragata como grande campeã em Morfologia e Freio de Bronze com BT Harmônico na Exposição da Federação Internacional de Criadores de Cavalos Crioulos (FICCC) — evento que reúne os melhores animais da raça em toda a América Latina. A Cabanha BT também acumula prêmios quando os assuntos são gado e ovelha. Ainda em 2003, a vaca Dorothy foi a grande campeã na categoria Vaquilhona Maior na Expointer.

— A Góia (a irmã Glória) estava na pista do angus com a mãe, e nós na do crioulo. Nos telefonávamos: “O que tá dando aí?” — lembra Mariana, bem-humorada, ao contar que parte das premiações ocorreram simultaneamente na Expointer.

O tempo passou. A irmã e a mãe seguiram caminhos diferentes. Em 2009, Mariana deixou de administrar os negócios da família para tomar conta da sua Cabanha Basca, também em Uruguaiana, acompanhada da filha Lilinha Tellechea e do genro, o médico veterinário Henrique Gonzalez.

— Por incrível que pareça, ela (Mariana) era muito motivada após toda uma carreira, já tendo vencido os maiores títulos da raça. E assim nós reformulamos a gestão dos animais, a alimentação, as pastagens — elogia Lilinha.

A nova rotina no manejo dos animais, acompanhada de perto pelo trio, continuou rendendo excelentes frutos e 2019 vem sendo considerado o melhor ano dessa nova fase: buscaram na Expointer o prêmio de campeã em Morfologia com a Basca Destemida e também o título de terceira melhor fêmea com a Basca Constância. Para Lilinha, o segredo do sucesso está na “intensidade”:

— Quando a gente faz com amor a gente faz com vontade.

Saiba mais  sobre a carreira de Mariana Tellechea

  • Prêmios: nos 20 anos em que esteve à frente da marca BT, foram 21 Freios de Ouro entre animais reproduzidos pela marca. Sob a criação e exposição de Mariana Tellechea, foram cinco. Os demais haviam sido vendidos a outros criadores quando conquistaram as honrarias.
  • O que faz: com a Cabanha Basca, vende reprodutores para melhoramento genético de cavalos da raça crioula e gado das raças angus e brangus. São 2.646 hectares de campo divididas em duas fazendas, Ramona e Paineiras, em Uruguaiana.
  • Animais e terras: tem 1.420 bovinos, 600 equinos e planta 350 hectares de arroz irrigado.
  • Funcionários: emprega 24 pessoas

A série Te Mostra, Rio Grande é uma iniciativa do Grupo RBS para valorizar ainda mais a forte raiz empreendedora gaúcha.  Clique aqui para assistir ao quarto episódio veiculado no Jornal do Almoço.  

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Fonte: Gaúcha/ZH