Ana Carolina Moraes foi assassinada. Homem de 29 anos foi preso em flagrante e responde por feminicídio e estupro de vulnerável.
Ana Carolina Moraes havia completado 12 anos há menos de um mês. Andava com top no cabelo castanho ondulado, ainda brincava de bonecas e era apaixonada pelo cãozinho da raça shih tzu. Aluna da turma 62 cursava o 6º ano da Escola Média Estadual Jacinto Inácio, e quase não saia de casa. Natural de Bagé, na Campanha, há um ano vivia em Santana da Boa Vista, no Sul, com a mãe e o padrasto.
No final da manhã desta quarta-feira (10), o destino da garota teve um desfecho trágico a poucos metros de casa. A menina foi morta a meia quadra de onde vivia, e o corpo foi encontrado machucado na residência de um vizinho. Doglas de Oliveira, 29 anos, foi detido em flagrante e está com prisão preventiva solicitada à Justiça. A Polícia Civil investiga os crimes de feminicídio qualificado por asfixia e estupro de vulnerável. Investigadores aguardam o laudo do Instituto-Geral de Perícias (IGP) para confirmar a causa da morte da menina. Ana Carolina foi sepultada na manhã desta quinta-feira (11) na cidade natal.
No dia do crime, pouco antes das 11h, a menina havia ido até a casa do suspeito falar com a costureira, mãe dele, mas ela não estava. Minutos depois, a mãe da garota foi com uma vizinha até a casa saber da filha. Ambas gritaram na porta pelo nome da menina e não foram atendidas. Insistiram até que Oliveira abriu e disse que a garota não estava ali. Desconfiaram e chamaram a Brigada Militar. Quando os policiais chegaram, a mãe encontrou o corpo de Ana Carolina dentro de um roupeiro. O Serviço Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou a ser acionado para tentar reanimá-la.
À frente da investigação, a delegada Débora Dias afirma que a menina e o suspeito não tinham nenhuma relação de convívio. Oliveira tinha antecedentes por ato obsceno e duas ocorrências por ameaça. Em depoimento, manteve-se calado. Depois, foi encaminhado ao Presídio Estadual de Caçapava do Sul.
— A família disse que tudo aconteceu em 15 minutos, que ele teria agido muito rápido. Vamos continuar ouvindo outras pessoas para traçar o perfil do comportamento dele. Embora nunca tenha sido preso, tinha histórico de comportamento agressivo. Era solteiro e morava com a mãe. Este é um tipo de crime extremamente chocante, que abala qualquer ser humano, mas em uma comunidade menor, o impacto é ainda maior — afirma a delegada.
A cidade de 8 mil habitantes vive o luto e a revolta. Pouco depois de o crime vir à tona, a comunidade protestou em frente à delegacia e integrantes da Escola Jacinto Inácio organizaram uma manifestação com uma faixa preta. Professoras e vizinhos da menina ouvidas por GaúchaZH descrevem Ana Carolina da mesma forma: meiga, educada, gentil e uma garota que ainda guardava todos os traços e comportamentos de uma criança.
— Não tem como explicar a dor que a cidade inteira está sentindo. Foi uma monstruosidade, queremos que não fique impune. Ela era inteligente, dedicada, ajudava os colegas, uma rica criança. Não tinha quem não gostava dela na escola — afirma Jaqueline Soares, 54 anos, vice-diretora da Escola Jacinto Inácio que, nos primeiros 15 dias do ano letivo de 2020, deu aulas de matemática para Ana Carolina.
Não tem como explicar a dor que a cidade inteira está sentindo. Foi uma monstruosidade. Ela era inteligente, dedicada, ajudava os colegas, uma rica criança. Não tinha quem não gostava dela na escola.
JAQUELINE SOARES
Vice-diretora da Escola Jacinto Inácio
A menina havia se mudado para a cidade com a família em junho de 2019 devido à transferência de trabalho do padrasto. Era comum vê-la brincando dentro do pátio, em uma casa segura, com câmeras e alarme.
— O trauma é grande. Era uma criança muito dócil, que adorava culinária, ia para cozinha, fazia brigadeiro, cuidava da mãe, fazia trabalhos manuais. Era vaidosa, bordava as roupas dela. Era só uma menina — afirma a vizinha, professora Naura Rosane Figueiredo, 57 anos.
Na descrição de pessoas próximas, mãe e filha eram inseparáveis. As professoras não lembram de ver Ana Carolina chegando sozinha na escola ou circulando sem companhia na rua. Na patinação e no pilates, a menina estava sempre acompanhada.
— A mãe era muito cuidadosa, levava e trazia todos os dias para a escola. Uma mulher doce que vivia para filha. Nunca vi essa criança andando sozinha na rua. Aqui é uma cidade calma, todo mundo se conhece. Essa barbárie chocou todo mundo. Com top na cabeça, ela parecia uma boneca. Não conseguimos dormir. Não consigo mais enxergar a casa onde isso aconteceu, é um crime tão bárbaro, só queria tirar essa dor de dentro de mim — afirma Rosemere Oliveira Freitas, 47 anos, vizinha da garota.
Fonte: Gaúcha/ZH