Freiras são investigadas por suspeita de maus-tratos em lar de idosas

Denúncias no Ministério Público foram feitas pelos funcionários do Lar das Vovozinhas e por uma médica, que afirma que as trocas de sondas e de curativos eram realizadas sem anestésico.

Duas freiras que trabalhavam no Lar das Vovozinhas, em Santa Maria, na Região Central, foram afastadas por suspeita de maus-tratos. A instituição, que abriga 160 mulheres, é considerada o maior abrigo de idosos do Rio Grande do Sul. As freiras negam as acusações.

“Elas estão bem tranquilas porque não fizeram nada e vamos provar a inocência delas. Até porque são inocentes e estão à disposição da Justiça e do Ministério Público, porque reforço, dedicaram a vida inteira ao lar e são inocentes”, contestou o advogado de defesa, Daniel Tonetto.

O Ministério Público do RS tem duas investigações em andamento sobre o lar, uma deste ano e outra de 2018. A denúncia mais recente é de oito meses atrás. Uma das freiras, que fazia trabalho voluntário no asilo, teria deixado uma idosa de castigo, trancada num banheiro, por cerca de uma hora. O relato foi feito pela assistente social que trabalha no local.

“Ela foi trancada porque perdeu uma chave, aí a irmã disse: ‘Vai ficar de castigo para aprender a não perder a chave'”, contou a assistente social Liciara Melissa Prass.

Freiras são afastadas por suspeita de maus-tratos em Santa Maria. — Foto: Reprodução/RBS TV

Freiras são afastadas por suspeita de maus-tratos em Santa Maria. — Foto: Reprodução/RBS TV

A idosa, que estava sem roupa por ter acabado de sair do banho, entrou em estado de choque depois que saiu do banheiro.

“Ela só tremia e chorava. Ela sempre brincava comigo e não conseguia falar. Liguei para uma parente dela e ela também não conseguiu falar”, revela.

A assistente social diz que relatou o caso para a administração do lar, que abriu uma investigação interna. Como a freira não foi punida, Liciara procurou o Ministério Público.

“Acima de tudo, eu respondo a um código de ética e posso até perder meu registro por isso. E também porque ninguém merece ser tratado com crueldade”, disse.

O Ministério Público ouviu outros funcionários do lar e novos relatos de maus-tratos surgiram. Um deles é contra outra freira, que era a responsável técnica do asilo. Ela teria derrubado uma idosa da cadeira de rodas com jatos de água, usando um lava jato.

A atual administração afastou as duas freiras em setembro, depois que foi chamada pelo MP.

“Eu informei o conselho. Nós nos reunimos e todos acharam por bem afastar as irmãs, como pediu o Ministério Público”, contou o presidente da instituição, Saul Fin.

Lar abriga idosas que foram abandonadas pela família. — Foto: Reprodução/RBS TV

Lar abriga idosas que foram abandonadas pela família. — Foto: Reprodução/RBS TV

Procedimento sem anestésico

O MP também investiga uma denúncia de 2018, feita por uma médica. Ela relatou ao promotor que as trocas de sondas e de curativos eram feitas sem anestésico, o que é errado. A médica disse ainda que cobrou da irmã, que era chefe da enfermagem, para que o procedimento fosse feito da forma correta e encontrou resistência. Essa médica, meses depois, foi demitida.

O Lar das Vovozinhas é mantido por uma associação civil sem fins lucrativos que tem um convênio com a congregação das irmãs que dá a elas poderes administrativos iguais aos da diretoria. O promotor acredita que as duas investigações devem ser concluídas em dezembro.

“A partir do que se ouviu nos relatos se formou uma convicção de que existem procedimentos que foram feitos que não condizem com o trato adequado com idosos”, explica o promotor de justiça Fernando Barros.

Muitas das idosas que vivem no lar foram abandonadas pela família. O local está proibido de receber novas moradoras por causa da falta de funcionários.

“Nós temos um gasto mensal de R$ 325 mil e arrecadamos R$ 199 mil com as aposentadorias das vovós. Então, todos os meses precisamos ir atrás de doações e projetos para cobrir essas R$ 125 mil que faltam”, explica Fin.

A Congregação Filhas de Santa Maria da Providência, que é responsável pelas irmãs que trabalhavam no lar, informou que as duas freiras não estão mais em Santa Maria e não voltam mais a viver na cidade. Elas foram afastadas do contato com idosos até que as investigações sejam concluídas.

A direção da congregação informou que não tem interesse em administrar o lar. Disse ainda, à reportagem da RBS TV, que ficou surpresa com as denúncias, e que tomou conhecimento apenas quando as duas freiras foram chamadas para prestar depoimento no MP.

A congregação acrescentou que auxilia o lar no cuidado das idosas desde a década de 90 e que enviou outras duas irmãs, com formação na área da saúde, para substituir as que estão sendo investigadas.

Fonte: G1