Gratidão tem nome, endereço e família; e tudo começou numa tragédia na RS 118

Por toda ação realizada no dia fatídico, o policial natural de Alegrete, recebeu um e-mail com elogio e gratidão de Everton que lhe foi repassado através de seu Comandante.

Alisson dos Santos Pereira
Alisson dos Santos Pereira

Um gravíssimo acidente. Um homem ao solo, com múltiplas fraturas, uma exposta na perna esquerda e a corrida contra o tempo para salvá-lo. A vítima, de 40 anos, era Everton Ayres, que teve a frente cortada por um homem alcoolizado que dirigia um Palio na RS 118, em Viamão. O acidente foi no dia 3 de abril deste ano.

Everton Ayres
Everton Ayres

Mas a ocorrência, passa a ter um desdobramento muito mais comovente e forte. O acidente que por pouco não foi fatal a Everton, hoje, se apequena pela amizade do policial do Grupo Rodoviário de Gravataí, o alegretense Alisson dos Santos Pereira e vítima. Por toda ação realizada no dia fatídico, o policial natural de Alegrete, recebeu um e-mail com elogio e gratidão de Everton que lhe foi repassado através de seu Comandante. Porém, muito mais do que pontuar que o reconhecimento é algo que marcou, até aqui, sua profissão, o alegretense ressalta que eles se tornaram grandes amigos.

A entrevista

Já no último dia que estava na Terra Natal, de um período de 15 dias de férias, Alisson esteve na redação do PAT e falou sobre a dádiva de ter conquistado um amigo e, mais do que tudo, ter sido um dos responsáveis por ele estar em recuperação, após três meses do gravíssimo acidente.

Há três anos atuando no Grupo Rodoviário de Gravataí, soldado Alisson acrescenta que o trabalho é muito intenso, o Comando é responsável pela RS 118, além da RS 040, RS 020 e RS 030. O trânsito de muito fluxo gera inúmeras ocorrências de vulto e também acidentes com lesões.

Alisson dos Santos Pereira
Alisson dos Santos Pereira

A maioria(dos acidentes), os policiais chegam com o Samu ou até mesmo depois, mas naquela manhã de 3 de abril, ao se deslocar de pela RS 118 com o colega, se deparou com o acidente entre um Palio e uma moto. A vítima da Honda estava com ferimentos graves, múltiplas fraturas e expostas. Naquele momento, sem exitar, o alegretense solicitou que a multidão que estava ali, para filmar e repassar em grupos, se afastasse e passou a fazer contato com a vítima.

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Soldado Alisson descreve a situação de forma minuciosa, parece que foi na semana passada, pois está muito claro em sua memória a luta que foi para manter Everton consciente e, sobretudo, passar segurança para que ele mantivesse a confiança.

“Lembro que me apresentei e passamos a conversar. Eu percebi que os ferimentos dele eram graves, a perna estava com uma fratura exposta, e o pé virado, quase não o percebia na cena. Entre todas as conversas, recordo que ele pediu pra fazer uma ligação para família e também que em um momento que eu pensei que não fosse resistir(ele), perguntei se poderia fazer uma oração comigo, sou evangélico, meus pais, são. Ele aceitou e isso deu muita força, tanto que por poucos minutos me descreveu boa parte da sua vida, inclusive que era pai de quatro crianças” – relembra Alisson.

O motorista embriagado foi encaminhado à Delegacia depois que o socorro chegou e Everton foi levado ao hospital. Sem configurar crime de embriaguez, pois o etilômetro deu abaixo de 0,34 mg/l de álcool expelido pelo pulmão e mesmo com algumas buchas de maconha, no carro, o motorista foi liberado e responde em liberdade.

A busca

Mas a saga de Everton após vencer a luta contra todas as complicações, ter a perna esquerda amputada e outras intercorrências, passou a tentar localizar o soldado que, segundo ele, foi um dos grandes responsáveis por sua segunda chance de vida.

Soldado Alisson recorda que nos primeiros dias buscou saber de Everton mas, depois, com a transferência para outro hospital, perdeu o contato por completo. Entretanto, a vida iria lhe emocionar um mês depois e mostrar que tudo que se faz com amor, técnica e empatia há sempre um retorno. Muito mais do que simplesmente dispersar os curiosos e fazer o seu trabalho com precisão e técnica, soldado Alisson também foi a força e esperança que Everton precisava naquele momento de incertezas.

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Por esse motivo, assim que iniciou uma breve recuperação e saiu da UTI, Everton iniciou a busca pelo policial que atendeu a ocorrência com o desejo de agradecer pessoalmente por toda humanidade. Foram alguns desencontros, até que Everton finalmente conseguiu o número do telefone do alegretense e a conversa no whatsApp foi o início de uma grande amizade. Antes disso, Everton já havia enviado para o Comando do Grupo Rodoviário de Gravataí um e-mail elogiando e agradecendo o salvamento do alegretense.

Reencontro

O primeiro reencontro foi muito comovente. Mais de um mês após o acidente, o soldado foi à residência de Everton onde foi recebido como um herói. Os filhos, a esposa, a família e Everton se emocionaram ao terem a oportunidade de finalmente agradecerem ao soldado Alisson por tudo que representou para a vítima, naquele 3 de abril.

Alisson dos Santos Pereira
Alisson dos Santos Pereira e Everton Ayres

Alisson ressalta que ficou muito feliz e a atitude de Everton e sua família compensa todas as dificuldades da vida e é muito grato por isso. Cita que sempre teve essa conduta de pensar e auxiliar o próximo. Um exemplo foi quando em 2015 trabalhou em um hospital em Caxias do Sul. Lotado em Gravataí, disse que pensa em um dia retornar para sua Terra Natal que tanto ama. E comenta que tão logo passar a pandemia pretende fazer uma confraternização para comemorar a amizade que foi presenteado.

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Sobre a ocorrência, um apelo que o policial faz é para que as pessoas que estão próximas a um acidente ou situação de urgência para atendimento, que saibam se colocar no lugar dos familiares e da vítima. O fato de ter a ânsia em postar imagens e vídeos em grupos, expor uma situação que desconhecem ao invés de salvarem uma vida, é lamentável. Fica o pedido de que, em qualquer local, cidade e estado o amor ao próximo possa se sobressair. Se não for ajudar, que não façam imagens chocantes, não disseminem pelas redes sociais sem terem a mínima ideia do que aconteceu.

Com toda a dificuldade e o tratamento, Everton precisou fazer uma vakinha para adquirir uma prótese e, assim que possível, o desejo é retornar ao trabalho. Ele atuava em uma empresa de bebidas. Quem puder auxiliá-lo pode entrar no link http://vaka.me/2102148 e contribuir com qualquer valor.

Depoimento de Everton

Everton Ayres
Everton Ayres

Por whatsApp, a reportagem falou com Everton e ele narrou um pouco como foi o acidente, lembrou de passagens bem marcantes, como o momento em que visualizou que a perna tinha sido praticamente amputada no local, assim como, o período de hospital cirurgia, bactéria, amputação da perna, dores, depressão e todos os anjos que a vida lhe presenteou. Diante disso, resumiu: “sou grato por tudo, por saber que eu estou aqui e logo, se Deus permitir, vou estar trabalhando. Vejo isso com muita gratidão a todos que passaram na minha vida e ainda estão desde o acidente, pela corrida contra o tempo que foi e também pela minha recuperação que ainda acontece. Naquele dia, o carro não deu arranque, mesmo com a bateria nova, e eu decidi ir de moto pois o destino seria a casa dos meus pais, era véspera de Páscoa. Por tudo, só agradeço e digo que o soldado Alisson é um dos responsáveis por eu estar aqui. Ele atuou para que um pai de família pudesse retornar ao lar.”- concluiu.

Flaviane Antolini Favero

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