Joaquim, o homem trans que luta pelo respeito à opção sexual das pessoas, participa de campanha em Alegrete

Cada letra da sigla LGBTQIA+ agrega um grupo de pessoas que se reconhece por uma orientação sexual ou uma identidade de gênero que vai na contramão àquelas que a sociedade convencionou (orientação heterossexual; gêneros masculino e feminino). Ela é a evolução da sigla GLS (gays, lésbicas e simpatizantes), de GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transexuais) e LGBT.

A retirada do “S” de simpatizante que se referia a héteros que apoiavam a causa, deu-se pelo entendimento de que eles não eram protagonistas do movimento. Já a troca de posições entre o “G” e o “L” foi motivada pela promoção de equidade de gênero entre mulheres e homens.

Essas mudanças na sigla – com inserção de letra, retirada e reposicionamento – demonstram a evolução do movimento pela inclusão das pessoas em suas diferentes orientações sexuais e identidades de gênero.

A reportagem do PAT entrevistou o alegretense Joaquim Mattheus, homem trans de 24 anos. Homem trans, transgénero, ou transexual é uma pessoa que foi atribuída como do gênero ou sexo feminino ao nascer e possui uma identidade de gênero masculina.

O alegretense é estudante de Perícia Criminal e investigação Forense, formado em Administração e fluente em 4 idiomas, além de músico, escritor, barman, garçom, modelo e fotógrafo. Joaquim diz que é considerado um homem multifacetado. A entrevista com Joaquim, acima de tudo, tem um grande objetivo: mostrar para as pessoas que estão sofrendo qualquer preconceito, que elas não estão sozinhas. Ele já sentiu na pele algumas dificuldades e conseguiu superá-las, mas não foi fácil.

(Joaquim criança com os pais)

Há dois anos, ele retornou para Alegrete por motivos familiares. Joaquim estava residindo no Rio de Janeiro, onde ficou por 4 anos e meio e de lá viajou para muitas cidades do país.

“Adquiri conhecimentos importantíssimos com o convívio fora da cidade pequena de interior e com pessoas que me incentivaram ao longo desta jornada. Desde muito novo me sentia preso em uma identidade de gênero que nunca foi a minha. Vivi por alguns anos em depressão até que consegui por meio de muito estudo e dedicação sair de Alegrete”- comentou.

Foi então que, no Rio de Janeiro, conheceu pessoas que mostraram o “caminho” que deveria seguir para começar a sua transição. Hoje, 6 anos após a transição , e com os documentos já retificados como Joaquim, está trabalhando em projetos voltados ao público LGBTQIA+ aqui na cidade.

Juntamente com o fotógrafo Alisson Silveira, seu melhor amigo, e Antônia Monteiro, uma amiga de longa data, lançaram a campanha do Disque 100, que é um canal de denúncia para as pessoas que sofrem qualquer tipo de violência, preconceito e violação dos direitos humanos.

“A campanha foi um sucesso e tivemos o apoio do vereador Paulo Berquó, juntamente com o Jornal Gazeta. Há alguns dias, fechamos parceria com a Loja Kamana, que é a pioneira no nosso novo projeto denominado “ Comércio sem Preconceito”. Foram realizadas fotos com as roupas da loja para chamar atenção na questão do atendimento sem preconceito e o gênero das roupas, pois cada um pode e deve usar o que quiser e o que se sente bem, sem se sentir discriminado em algum estabelecimento”- ponderou.

(Diversas fases de Joaquim)

Depois de algumas divulgações, também fechou parceria com outras lojas para que, desta forma, possam mostrar o respeito e o valor que dão aos seus clientes, independente de gênero, opção sexual, identidade de gênero, etnia ou raça.

Joaquim cita que a campanha vem para tentar melhorar algo que ele mesmo passou na pele, pois a falta de preparo de muitos atendentes em estabelecimentos comerciais e a tentativa dos vendedores de inverter a sua opção de compra o incomodava. Por outro lado, ele percebia que outros clientes não passavam pela mesma situação.

“Estamos elaborando a Arte do Selo que vai estar em todas as lojas que apoiam a causa. O mundo precisa de mais respeito, igualdade e afeto. Há muitas pessoas que se isolam, entram em depressão e até mesmo cometem suicídio pela rejeição, por preconceito e por não se sentirem acolhidas e respeitadas. Eu tenho um grande sonho que é criar um conselho municipal voltado aos direitos da classe LGBTQIA+, para que tenham um atendimento de Saúde voltado para eles, acompanhamento psicológico, oficinas de aprendizagem, rodas de conversas, para que saibam que não estão sozinhos.”- explicou.

Quando a pandemia passar, esse é o maior objetivo do alegretense. Ele diz que vai batalhar muito em cima disso. “Alguns me chamam de sonhador, de louco, mas eu quero estar na linha de frente, lutando pelos direitos e pelo respeito das pessoas que sofrem preconceito e se sentem reprimidas de alguma forma . Saibam que vocês não estão sozinhos . Se alguma loja quiser saber mais sobre o projeto e fazer parte, pode entrar em contato no telefone:
WhatsApp (55) 99647-1456 Joaquin ou no Instagram @ Joaquinmatts”- conclui.

 

(Joaquim com o pai)

(Joaquim com a mãe)

 

Disque 100 – o que é o serviço:

O Disque Direitos Humanos, ou Disque 100, é um serviço de proteção de crianças e adolescentes com foco em violência sexual, vinculado ao Programa Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, da SPDCA/SDH. Trata-se de um canal de comunicação da sociedade civil com o poder público, que possibilita conhecer e avaliar a dimensão da violência contra os direitos humanos e o sistema de proteção, bem como orientar a elaboração de políticas públicas.
A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) fez mudanças no Disque 100 que atendia exclusivamente denúncias de abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes. O serviço foi ampliado, passou a acolher denúncias que envolvam violações de direitos de toda a população, especialmente os Grupos Sociais Vulneráveis, como crianças e adolescentes, pessoas em situação de rua, idosos, pessoas com deficiência e população LGBTT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais).

 

Flaviane Antolini Favero