José Mujica deixa cargo de senador e se retira da ‘linha de frente’ da política no Uruguai

Ele já havia deixado o posto de senador em 2018, antes de ser eleito novamente. Outro ex-presidente, Julio María Sanguinetti, também renunciou à cadeira no parlamento.

O ex-presidente do UruguaiJosé Mujica, de 85 anos, renunciou ao seu mandato de senador pelo país nesta terça-feira (20). Ele disse que a pandemia de coronavírus fez com que ele antecipasse a decisão de por fim à sua atuação num cargo que exige contato constante e direto com a população.

“Esta situação me obriga, com muito pesar, por minha profunda vocação política, a solicitar que se tramite minha renúncia à cadeira que os cidadãos me concederam”, escreveu Mujica, em uma carta lida em sessão extraordinária do Senado.

Mujica acena na sessão em que se despediu do Senado uruguaio — Foto: AFP/Pablo Porciuncula

Mujica acena na sessão em que se despediu do Senado uruguaio — Foto: AFP/Pablo Porciuncula

“Isso não significa o abandono da política, mas sim o abandono da linha de frente por entender que um bom dirigente é aquele que deixa pessoas que o superam com vantagem. Vou agradecido, com muitas recordações e profunda nostalgia. A pandemia me derrubou”, disse.

 

Mujica tem uma doença autoimune chamada Síndrome de Strauss, que, junto com a idade avançada, o coloca no grupo de risco para a Covid-19. Em entrevista ao jornal “El Pais” do Uruguai, ele disse que gosta da política, mas gosta mais de poder viver o máximo que puder.

Julio María Sanguinetti, que foi presidente por dois mandatos, também deixou sua cadeira no parlamento uruguaio. Sanguinetti, de 84 anos, lembrou em sua carta que a renúncia estava prevista desde antes das eleições nacionais realizadas em 2019.

“O que me motiva é principalmente a necessidade de atender a secretaria-geral do Partido Colorado, minhas atividades jornalísticas e correspondentes editoriais”, escreveu Julio María Sanguinetti.

 

Sanguinetti e Mujica em sua sessão de despedida no Senado uruguaio — Foto: AFP/Pablo Porciuncula

Sanguinetti e Mujica em sua sessão de despedida no Senado uruguaio — Foto: AFP/Pablo Porciuncula

Saída anunciada

 

Mujica já havia dito algumas vezes que iria deixar o cargo. No fim de setembro, ao votar em eleições regionais, ele afirmou que a renúncia aconteceria em outubro.

Em entrevista ao jornal argentino “La Nación”, no começo de setembro, ele contou que deixaria o cargo, mas não iria parar de fazer política. O repórter então o lembrou que ele já havia dito isso em outras três ocasiões. “Eu vou para casa, mas não saio da política”, respondeu ele.

Em 2018, ele já era senador e abandonou o cargo para ficar em casa. Durou pouco mais de um ano: nas eleições do ano passado, ele voltou a ser eleito para o Senado.

Conhecido como “o presidente mais pobre do mundo”, Mujica nunca deixou de aparecer em eventos oficiais.

Fonte: G1