
A cada mês deste ano uma mulher é estuprada em Alegrete. O dado é do Observatório Estadual da Segurança Pública, por meio do monitoramento dos indicadores da violência contra a mulher – Lei Maria da Penha.
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No primeiro semestre desse ano, foram 94 casos de ameaça. Só em abril este tipo de crime fez 19 vítimas. De janeiro a junho, foram cometidos seis estupros no município. Em maio, duas mulheres foram vítimas e em junho mais duas. Neste mesmo período do ano passado, foram cometidos 8 casos e o primeiro semestre de 2023, encerrou com 6 feminicídios tentados. Crimes de ameaças totalizaram 138, sendo que em fevereiro do ano passado, teve registro de 31 vítimas.
Neste ano, até junho foram 64 casos de lesão corporal contra mulher, diferente do 1º semestre de 2023, quando a polícia civil teve notificação de 50 ocorrências em 6 meses do ano.
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“Esses dados não refletem exatamente a realidade”, revela a promotora criminal Rochelle Jelinek, do Ministério Público em Alegrete. Ela explica que os estupros, via de regra, são contra crianças, intrafamiliar (praticados por pai, avô, padrasto, tio) em 98% dos casos. E o abuso só vem à tona quando as vítimas já são adolescentes e então tomam coragem de relatar.
“Então os registros de ocorrência, mesmo que feitos este ano, a maioria não são fatos ocorridos este ano”, explica. “Isso não afasta, contudo, que muitos outros estupros foram praticados contra crianças este ano, mas as próprias famílias normalizam ou acobertam e não registram ocorrência”.
A promotora sustenta que esses dados estatísticos correspondem ao número de registros na DP, não necessariamente a realidade. “Às vezes é um registro de ameaça, mas não tem crime nenhum, e sim uma discussão no fim do relacionamento, tem conflito familiar (sobre guarda, filhos, pensão). Mas nem todo fim de relacionamento é violência doméstica”, ressalta.
Existem outros casos, contudo, que são registrados como ameaça, mas na verdade, a promotora destaca, são crimes ainda mais graves, como perseguição, violência psicológica e alguns registrados como lesão corporal configuram tentativa de feminicídio.
“Esses dados são os números que foram registrados na DP. Apenas isso. Não refletem a realidade, como já expliquei. Há inúmeros outros casos que acontecem e não são registrados, seja por medo, vergonha, e até por pressão familiar”, aponta. “Na verdade, os números registrados são ínfimos em relação a tudo que acontece”, finaliza a integrante do Ministério Público.
Para a presidente da Ong Amoras Carolina Freitas de Oliveira Silva, A organização para proteção e acolhimento de mulheres vítimas de qualquer tipo de violência, continua atuando nos acolhimentos afetivos, nas audiências de violência contra a mulher e nos atendimentos que as voluntárias realizam. “Realizamos rodas de conversa nas escolas públicas e privadas, para que este ciclo de violência seja quebrado, através da conscientização”, informa Carolina.
Ela afirma que a rede vem trabalhando para melhorar a infraestrutura e atendimento às mulheres e meninas vitimas de violências, atuado também na capacitação dos agentes públicos para este atendimento especializado.
Procurada pela reportagem, a delegada da 1ª DP Fernanda Graebbin Mendonça, disse que infelizmente, por decisão da assembleia geral dos Delegados de Polícia do RS, novamente está se abstendo de passar informações, de qualquer tipo, à imprensa.
Os números para pedir ajuda, auxílio ou denúncia são:
180 – Central de Atendimento à Mulher
190 – Brigada Militar
55-99651 3166 Ong Amoras
3961 1123 Creas
3422 4783 Ministério Público
3421 2521 Defensoria Pública. As vítimas devem procurar o CRAM na Rua Demétrio Ribeiro, 70, para buscar informações e orientação.