Márcio Rocha: o músico alegretense que busca um recanto de esperança em sua carreira

Que a vida de músico não é fácil, todo mundo sabe. Mas, para o alegretense Márcio José da Silva Rocha, a vida teve vários contornos que até hoje ele tenta encontrar o caminho menos difícil.

Márcio Rocha como é conhecido começou cedo. Logo aos 7 anos, revelou seu talento numa iniciativa da então secretária do governo Rubens Pillar. O mutirão musical promovido por Ana Regina Gorski Rodrigues acabou descobrindo o talento do bairro do Lions Clube, ou melhor da Kennedy.

Envergonhado, o guri dava show na pracinha do bairro. Era lá que se divertia e entre uma brincadeira e outra cantarolava para a vizinhança. Chamava atenção dos vizinhos, seu vozeirão de timbre agudo forte sempre foi um diferencial no guri que cantava na pracinha do bairro.

Os vizinhos Silvestre Melo Iarto “Chamixa” e Verginia dos Anjos Iarto foram os primeiros a incentivar o guri da Kennedy. No Show de Calouros da Rádio Alegrete apresentado pelo radialista Carlinhos Almeida, Márcio mostrou seu talento.

Foi no programa Querência e Sertão que ele soltou a voz. A velha Fiorino de Chamixa foi o meio de transporte do guri até a Rádio Alegrete.

Envergonhado, Márcio com 8 anos na época acabou convidando o primo Rodrigo. Nervoso, cantou o clássico sertanejo “Entre Tapas e Beijos” sucesso na voz de Leandro e Leonardo. O ano era 1990, e ele arrematou um 5º lugar. Márcio não desistiu, ganhou uma bota de gaúcho da mãe, Orlanda da Silva Rocha, e se vestiu tipicamente de cantor sertanejo, caprichou até no cabelo.

Mas, um episódio deixou Márcio sozinho, o primo foi impedido pelo pai de ir junto. Ele não titubeou, pegou o ônibus sozinho atravessou a cidade e foi até a Radio Alegrete.

Na emissora, os jurados eram Flávio Mattes, Wilson Paim, Maestro Pedro Alair Gomes, Joel Oliveira, entre outros.

A música escolhida por Márcio, foi “Quando você ligar o rádio”. Entre diversas duplas, o piá que cantava com a alma em meio aos adultos conquistou o 1º lugar. Márcio relembra o momento inesquecível. “Eu chorei de alegria. Ganhei o troféu e o disco recém lançado do Wilson Paim, “Momentos”.

Márcio ainda gravou “Recanto da Esperança”, junto com outros músicos alegretenses. O talento do guri fez com que o maestro Pedro Alair fosse até a casa dele e numa conversa familiar convidasse Márcio para fazer uma dupla com Pedrinho Filho.

Logo estourou a dupla Tomm e Jerry, Márcio era o Jerry. Juntos cantaram pelos quatros cantos de Alegrete.

Duas crianças cantando de tudo, arrebatavam público por onde passavam. Foram muitas gravações em fita cassete. Márcio recorda do incentivo de músicos como Zolá Duarte e Roberto Joel. A regravação da música “Recanto da Esperança” de Salvador Lamberti, era uma das músicas mais executadas por Jerry.

Com a dupla, Jerry foi até Santa Maria num avião bandeirantes. Pousou na Base Aérea de Santa Maria para um show em uma solenidade militar. Embarcou no antigo Aeroclube de Alegrete e em menos de 45 minutos estava no centro do Estado. Na época foi reportagem especial de um jornal da Cidade Universitária.

A dupla foi descoberta por um casal onde o homem havia visto eles tocarem numa festa de casamento. O cidadão era militar da Aeronáutica e indicou a dupla para abrilhantar a solenidade.

Passado um tempo, Márcio acabou passando por problemas com o maestro Alair Gomes e alguns acontecimentos magoaram o cantor que acabou desistindo da dupla. Um momento que ele prefere esquecer e apagar da memória.

Seguiu carreira solo e, como não toca instrumentos, formou parceria com o músico Ernani Apratto, voz e violão.

Márcio conta que recebeu proposta para sair de Alegrete. Acabou andando pela região cantando para invernadas artísticas.

Em 2000, gravou um CD, Márcio Rocha interpreta Moacir D’avila Severo. Gravou trabalhos com a Banda Farra. Com diversas gravações individuais, Márcio hoje com 40 anos, se culpa por não possuir um acervo musical com suas gravações.

“Dizem que o cavalo encilhado passa só uma vez, e eu perdi essa vez” No entanto, na trajetória de Márcio tem anjos.

Bruno Souza é um deles, amigo que Márcio classifica como fora de série. Hoje ele mora num quarto de hotel. A mãe está num asilo, o pai José Paim Rocha é falecido há quatro anos. Márcio canta na noite da Dom Lagarto e agradece pela força do amigo, o empresário Francisco.

 

“São muitas pessoas que me ajudam. Devo favores para muitos. Recebo ajuda de outros tantos”, agradece Rocha.

Mas ele não se dá por vencido. Mostra força. O filho Cristian Oliveira Rocha com 8 anos é o orgulho do pai. Márcio conta que o guri já canta muita coisa.

O dom divino de cantar rodeia Márcio. Seus tios já falecidos, Dênis e João Arrussul, trovaram ao lado de Gildo de Freitas.

Atualmente, Márcio faz dueto de sucesso com Gil Chaves na Dom Lagarto, agradece o apoio do Toni Carneglutti, Michelli, Emerson Mendonça, Rudi Pinto, Graziane Modas, o Chamixa, Virginia e tantos outros que fazem parte da vida dele.

Márcio aproveita o momento e conta um episódio que acabou em desentendimento. Uma reportagem do Portal Alegrete Tudo chateou o músico e ele acabou se magoando. Na época acabou discutindo com o entrevistado da matéria jornalística e gerou uma situação muito negativa.

Com ajuda de amigos, Márcio gravou um vídeo se desculpando. “Eu usei a página do Portal e acabei extrapolando”, explica o músico.

No dia que foi contatado para essa reportagem, Márcio chorou e se disse redimido pelo erro. Agradeceu a lembrança e contou sua história nua e crua.

Hoje, de um quarto de hotel, continua na luta para vencer na vida. Recluso por conta da pandemia, se diz uma pessoa comum em busca de espaço. Vive momentos duros por não estar em cima do palco.

Quer retornar à vitrine, quer ser lembrado. O guri que cantava na pracinha da Kennedy, cresceu, levantou, caiu e quer levantar voo de novo.

Júlio Cesar Santos                           Fotos: acervo pessoal