Mauricio Goldemberg, testemunha ocular da história de Alegrete

Nascido em 25 de maio de 1929, o alegretense Mauricio Goldemberg, faz parte da história de Alegrete. Aos 90 anos, Goldemberg recebeu a reportagem do Portal Alegrete Tudo para uma entrevista especial.

Final de manhã, e no horário marcado, chegamos ao apartamento onde ele reside, sozinho. No sexto andar, nos recebe com uma jovialidade impressionante para um nonagenário. Já havia feito sua caminhada matinal, e o papo flui numa naturalidade que nos remete logo ao Alegrete antigo.

Seu Mauricio, desde o primeiro contato, entre ligações e agendamento de horário, foi sempre muito solícito. Ponderado ao falar de sua trajetória, resgata datas, acontecimentos e períodos de sua elogiável trajetória.

Iniciou na Gazeta de Alegrete com 15 anos. Foi dos serviços gerais a sócio do jornal mais antigo do RS. Também foi redator da Rádio Alegrete. Mas, depois de um longo período trabalhando no ramo de imprensa, se lançou empresário e dono de uma joalheria, a antiga Joalheria Exposição na Praça Getúlio Vargas.

Primeiro superintendente do Frigorífico Matadouro Alegretense, foi idealizador do empreendimento privado que até hoje é um dos maiores empregadores do município.

Com uma memória privilegiada, lembra do mérito legislativo que recebeu do vereador Oswaldo Chibiaque, numa proposição do vereador Gaspar Cardoso Paines. Também foi agraciado com uma comenda pelo trabalho e dedicação nos governos dos prefeitos Nilo Soares Gonçalves e José Rubens Pillar.

É detentor da comenda do centenário do Centro Empresarial. Atuante em várias frentes, Mauricio auxilia a Santa Casa, APAE, asilos, equoterapia e muitas outras instituições. Atuante no Sindicato Rural, recentemente doou seu carro para a APAE realizar uma rifa. Os valores arrecadados vão erguer outro prédio na entidade filantrópica.

Indagado se nunca foi assediado para entrar na vida política, responde em alto e bom tom – Escolho pessoas, não partidos – justifica Goldemberg, sentado em seu sofá.

Ativo, levanta por diversas vezes em busca de artigos escritos por ele. Na biblioteca, muitas fotos, quadros e livros guardam esse rico acervo.

Em 1993, lançou a segunda edição do Alegrete de Ontem, caderno comemorativo aos 111 anos da Gazeta. Em 1973 foi a primeira tiragem. O caderno resgata uma série de acontecimentos do município, retratados com o garbo de um jornalista que viveu a época e soube descrever os fatos de uma forma muito interessante.

O material é repleto de muitos fatos marcantes. Foi distribuídos em algumas escolas e o valor da tiragem foi revertido para o Asilo São Vicente de Paulo e APAE. Nessa histórica retrospectiva, alguns temas muito relevantes: a chegada da luz elétrica em Alegrete no ano de 1908; o primeiro bacharel do século XX, no Foro local; o primeiro automóvel na cidade em 1911, ano da primeira casa bancária também.

Um farto diário de notícias retrata até o primeiro caso de apendicite diagnosticado e operado em Alegrete. A primeira médica em Alegrete, chegada em 1944. Ganhamos um exemplar e, em primeira mão, seu Mauricio revela que já está escrevendo a 3ª edição.

Atualmente o alegretense se dedica ao ramo agropecuário, administra com os filhos sua propriedade rural. É ele que faz os serviços contábeis do estabelecimento rural. Conta que o Alegrete evoluiu bastante. Sugere mais contribuição da sociedade, mais participação. Pondera que o governo deveria estimular o envolvimento das pessoas. “É preciso mais doação para o coletivo”, diz o experiente jornalista.

“Da grande escola da vida, não se leva nada. A gente tem que ajudar”, destaca Goldemberg. Sonha com mais indústrias em Alegrete, desenvolvimento da mão de obra, ofertas de emprego. Pede mais atenção aos idosos. Ações mais efetivas com o público da 3ª idade.

Adepto à leitura de jornais e sites da cidade, é assíduo nas redes sociais e destaca o heroísmo da imprensa sobreviver no interior. “A imprensa local tem um valor muito grande. A comunidade não valoriza”, argumenta.

A entrevista chega ao final, com a certeza que um dia seria pouco para destacar a trajetória do alegretense que conviveu com Mário Quintana, Sérgio Faraco, Hélio Ricciardi, Samuel Marques e tantos outras ilustres personalidades da história do Alegrete.

Ao final da entrevista, Mauricio Goldemberg ainda recorda quando o então presidente João Figueiredo esteve em Alegrete para inauguração do Matadouro Frigorífico em 1978, e ganhou um cavalo puro sangue. Na ocasião ele menciona que foi oferecido um churrasco para 5 mil pessoas.

Assim é  Mauricio Goldemberg, uma enciclopédia viva do Alegrete.

Júlio Cesar Santos                             Fotos: PAT e reprodução