‘Meu maior sonho é conseguir inspirar as pessoas’, diz jovem do RS que precisou amputar dedos dos pés e das mãos após erro médico

Cláudia Winck teve púrpura trombocitopênica idiopática. Por não ter recebido o tratamento médico correto, desenvolveu trombose, sofreu três AVCs e ficou 45 dias em coma induzido quando era bebê. Hoje, tenta inspirar outros jovens a acreditarem na recuperação.

Cláudia Fontana Winck é uma jovem publicitária de 25 anos, natural de Novo Hamburgo, na Região Metropolitana de Porto Alegre, que sonha em ser influenciadora digital. Mas a história dela não é igual a de tantas jovens que tem o mesmo sonho. Desde bebê, Cláudia enfrenta diversos problemas de saúde. Com pouco menos de 2 anos de idade, precisou amputar dedos das mãos e dos pés.

“Meu maior sonho é conseguir inspirar as pessoas através da minha história. Principalmente na parte das pessoas não se abaterem. Quando se tem, por exemplo, 1% de chance de dar certo, a gente tem que ir lá tentar de diversas formas, e se não der certo na primeira vez, pode dar na próxima ou na outra. Eu poderia ter desistido, e poderia hoje estar numa cadeira de rodas, mas, com perseverança, fui conseguindo fazer minhas coisas”, diz.

A história da Cláudia viralizou nas redes sociais através do TikTok. “Tinha sido uma trend [tendência do momento nas redes sociais] para mostrar o que tinha quase te matado. Eu tinha essas fotos (veja as imagens abaixo) e, quando eu vi, me chocou bastante. Pensei: é só uma trend, vou postar como as outras que eu estava postando”.

Mas ela conta que muita gente começou a questionar o que tinha acontecido e, por isso, decidiu expor.

“No outro dia começou a viralizar e começou a entrar mais seguidores, likes, comentários, pedindo muito pra eu comentar o que realmente tinha acontecido. Se era queimadura, se tinha acontecido alguma outra coisa. Às vezes, as pessoas acham que eu nasci assim e não sabem a real história do que está por trás. Meu pai sempre disse que eu tinha um propósito muito grande na terra, que é o de inspirar pessoas, de mostrar tudo que eu passei, que tudo é possível”.

O que aconteceu

Tudo começou com uma dor de garganta. Levada ao hospital pelos pais com 1 ano e 7 meses, Cláudia foi tratada pelos médicos com amoxicilina, antibiótico usado contra infecções bacterianas. Na bula, um aviso que ela poderia desenvolver púrpura trombocitopênica idiopática (PTI), doença que acabou acometendo a jovem.

A PTI é uma doença geralmente benigna e de causa desconhecida que se caracteriza por baixas contagens de plaquetas levando a defeitos de coagulação.

Depois do tratamento, já em casa, Cláudia começou a apresentar roxos na pele. De volta ao hospital, os médicos resolveram interná-la para fazer testes, já que havia uma dúvida se poderia ser leucemia, lúpus ou púrpura trombocitopênica idiopática.

“Então eles diagnosticaram certo a doença, mas fizeram tratamentos totalmente errados, o que gerou trombose. Meus rins acabaram parando, eu estava fazendo xixi com sangue. Eles me deram alta dizendo que eu já estava melhor, mas eu já estava começando a necrosar os meus dedos, as minhas extremidades”, conta.

Em casa novamente, Cláudia voltou a piorar e precisou ser internada. No hospital, os médicos injetaram líquidos nas mãos e pés para tentar bombear o sangue. “Uma enfermeira parou minha mãe e disse que achava que aquele não era mais o local pra mim. Que seria melhor me levar para outro hospital”.

“Lá, eu já cheguei em coma induzido. Teve um dia específico que os médicos, como meus dedos estavam muito roxos, disseram que eu teria que amputar. Começamos com pequenas amputações. Um dos médicos queria amputar já no pulso, mas o outro médico falou para amputar aos pouquinhos. Fiquei 60 dias e em coma induzido por 45 dias. Comecei a melhorar, mas no hospital mesmo eu tive meu primeiro AVC”, conta.

O tratamento foi rápido, uma vez que Cláudia ainda estava internada. Em casa novamente, ela teve um segundo AVC. Aos 18 anos, teve o terceiro. Foi depois disso que ela começou a melhorar.

Hoje, a jovem ainda tem dificuldade de mobilidade do lado esquerdo. Ela precisou amputar 17 dedos – todos os das mãos e sete dos pés.

“Na infância, eu sofri muito bullying, foi bem complicado, lembro até hoje. Uma vez, eu cheguei em casa, um dos piores dias da escolinha, porque os amiguinhos eles acabavam fazendo piadinhas. Aí, eu cheguei chorando muito porque eu queria muito ter as unhas. Nesse dia, meu irmão, minha mãe e minha irmã estavam sentados junto comigo no sofá, e eles estavam comentando que se pudessem dariam pra mim os dedos deles para não me ver mais chorando”.

Cláudia começou a receber contato de pessoas pelas redes sociais e tenta compartilhar a história de vida dela.

“O que eu mais recebo é que o filho ou filha passou por algo e que teve que amputar, e como que foi essa minha adaptação na infância. Aos pouquinhos eu fui entendendo, mas a minha infância e a adolescência eu era uma criança bem revoltada porque não sabia o que realmente tinha acontecido comigo. Não fiz tratamento psicológico, acredito que deveria ter feito”, destaca.

Fonte: G1

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