Uma professora de uma escola estadual em São Sepé, na Região Central do estado, foi afastada da função após a 8ª Coordenadoria Regional de Educação (8ª CRE) instaurar um procedimento que apura um suposto caso de assédio contra um estudante de 17 anos. O episódio, que aconteceu no dia 6 de dezembro durante uma aula de geografia do 1º ano do ensino médio no Colégio Estadual São Sepé, foi registrado em vídeo.
O g1 conversou com a professora Ana Karla Kraemer por telefone durante a manhã desta sexta-feira (23). Ela disse que só iria se manifestar por meio de um advogado posteriormente.
No vídeo, a professora questiona o aluno: “Minha casa tem seis banheiros! Quantos tem a tua? Quantas casas tu tem? Quantos apartamentos na praia tu tem? Quantos carros tu tem?”. O aluno, que tem 17 anos, responde: “Agora, tu é melhor do que eu porque tu tem mais casas e mais coisas?”. No que a professora retruca: “recalcado! Tu é um recalcado!”. E o registro se encerra com o aluno se desculpando: “Então tá. Desculpa, então, se eu fui aí do teu lado. Não posso chegar do teu lado. Não chego mais”.
A fala do aluno se refere ao que aconteceu momentos antes do que é retratado no vídeo, de acordo com a mãe, que prefere não ser identificada. Por meio de um advogado, ela disse que a professora teria falado ter sentido um cheiro estranho na sala. No dia, cachorro-quente era oferecido pela escola, então, ela suspeita que o cheiro era de tempero do lanche.
Após o começo da aula, o seu filho teria ido até o lixo e ficou perto da professora. Ana Karla, então, teria perguntado por que ele estaria cheirando ela. Ele negou. “Por que eu faria isso? Tenho mais o que fazer”, teria dito, voltando a se sentar no seu lugar.
Em seguida, a professora teria dito que não estava cheirando mal e que tinha vários banheiros na sua casa. O que se segue é o que aparece no vídeo.
Reunião para discutir o caso
A 8ª CRE, com sede em Santa Maria, esteve na escola para conversar com a direção, com a professora e com a mãe do aluno. Foi a partir dessa conversa que se decidiu por instaurar um procedimento administrativo para averiguar o caso, de acordo com o coordenador José Luís Viera Eggres.
“Ela está afastada da função desde a semana em que houve o caso. É um afastamento provisório e deve durar enquanto a apuração estiver em andamento. Caso se entenda que houve a agressão, podemos abrir uma sindicância que pode ensejar com uma punição do servidor, como a exoneração”, explica Eggres.
O procedimento é chefiado por uma Comissão Interna de Prevenção a Acidentes e Violência Escolar (Cipave).
Mãe procurou advogado
A mãe do aluno, que é empregada doméstica, procurou um advogado depois que ficou sabendo do episódio. Ela se disse indignada com o que o filho sofreu em sala de aula.
“Realmente, eu não tenho tudo isso [o patrimônio que a professora disse ter]. Não tenho casas, carros, mas procurei educar os meus filhos dignamente. O que eu consegui hoje, eu consegui com muito trabalho. E, com isso, está sendo o suficiente para eles poderem levar a vida deles [dos seus filhos]”, conta.
Ela tem dois filhos: o de 17 anos e outro, que tem deficiência intelectual. Todos moram com ela junto da avó em uma casa, em São Sepé.
Por orientação de um advogado, ela diz que vai registrar uma queixa na delegacia de polícia. Além disso, vai procurar o Ministério Público (MP). Em paralelo, deve ser ajuizada uma ação na Justiça contra o estado, pelo crime de “submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento”. A ação é contra o estado e não contra a professora, pois, no episódio, ela estava na condição de professora dentro da instituição.
Por Redação, g1 RS