Miriam Suhre, a mulher que mais tempo exerceu o cargo de vereança, agora vai dedicar mais tempo à família

Foram cinco mandatos em prol da comunidade alegretense, alicerçados na fidelidade aos princípios éticos de legislar com zelo e responsabilidade.

Miriam Ost Suhre, natural de Salvador das Missões, esteve por duas décadas na Câmara de Vereadores de Alegrete.

São 46 anos vivendo em Alegrete. Do longínquo ano de 1975, quando chegou na 3ª Capital Farroupilha e por aqui formou família, construiu uma longeva e sólida história. Miriam optou por não concorrer nas últimas eleições. Aos 62 anos, preferiu ficar mais ao lado de sua família, viver intensamente os momentos com o neto e acompanhar mais o cotidiano dos dois filhos que moram longe de Alegrete e principalmente cuidar de sua matriarca.

 

Numa bela manhã de janeiro, a cidadã alegretense recebeu a reportagem em sua casa no Bairro Assunção.

A entrevista na sala ao lado da cozinha foi sugestiva a um lanche. Miriam havia encerrado sua atividade física diária e logo ofereceu uma fruta deliciosa, um cacho de uva muito saboroso.

Iniciamos a conversa sobre o cotidiano da cidade para depois de quase 20 minutos entrarmos no assunto. O esposo, Albano Suhre, apareceu e sem querer atrapalhar a entrevista já contou logo uma história.

Era o início de tudo, quando Mirian aceitou o convite para trabalhar  como diretora no Centro Social Urbano. Seu 1º emprego público foi um trabalho em 1997, no governo Jardim. Lá se foram 3 anos e três meses. De 3 crianças inicialmente no Centro, ela conseguiu deixar o local com mais de 105 crianças.

Implantou o Grupo Fios de Prata, voltado para o pessoal da melhor idade. Na Zona Leste tinha aulas práticas, ela acabou transformando o espaço e em parcerias ganhou doações que sustentava os projetos comunitários.

“Eu gostava de fazer aquilo. Só gratidão a tudo isso. A comunidade sempre apoiou e valorizou o espaço”, destacou Mirian.

Com uns rabiscos em cima da mesa, pergunto logo quantos votos conseguiu em 2000, ano do seu primeiro mandato. Os números estão documentados. Foram 681 votos, entrou como suplente. Detalhe, na época eram 21 vereadores.

Já no 2º mandato, com 10 vereadores eleitos, recebeu 1.643 votos e continuou seu trabalho para comunidade que creditou confiança no seu trabalho.

Miriam é sorridente e de alma leve, diz que pautou sua vida política com trabalho para comunidade dos bairros, trabalhar para pessoas sempre foi seu dom. Mas também focou no agronegócio. Em 2005, lutou e participou da maior mobilização de agricultores e produtores em Brasília. Mais de 30 mil pessoas reivindicaram na Capital Federal e lá estava ela lutando pelos direitos e melhorias.

Atuante nas reivindicações para manutenção das APAE’s do RS, firmou parcerias na comunidade que respaldaram seu trabalho junto ao Legislativo. No último pleito somou 964 votos, e engajada no trabalho social reforçou seu voluntariado junto às instituições que sempre acompanhou.

Foi presidente da Câmara em 2012, e passou por todos os cargos que um vereador na Casa. Atuante em comissões permanentes, se firmou como uma das lideranças de seu partido.

Miriam diz que nunca foi uma barreira como mulher atuar na Câmara, que em sua maioria possui homens legislando. Lamenta muito a perda de representatividade da mulher na Câmara, mas confia nas que lá estão. “Elas devem acreditar nelas. Empoderamento sempre”, diz Miriam.

 

Um trabalho norteado com seriedade, honestidade, muito empenho e diálogo, reflexo da personalidade e índole da, agora, ex-vereadora carismática e gentil. O título de Cidadã Alegretense recebido em 2009, das mãos da colega e amiga Nívia Souza, é guardado num lugar especial em sua sala de estar.

Isso tudo e mais os diplomas de cada um dos mandatos como vereadora são guardados com muito orgulho e amor na parede da sala.
Os 20 anos de serviços prestados ao seu amado Alegrete, como faz questão de frisar, faz dela a mulher que mais vezes exerceu o mandato de vereança na cidade.
Ela é humilde e credita à comunidade essa oportunidade de por tanto tempo representar uma parcela da população na Câmara.

Miriam é muito grata por tudo isso: “Muito diálogo, muito olho no olho, nada de promessas, muito respeito, buscando escutar as necessidades população e transformá-las em projetos e ações. Quero agradecer ao carinho e acolhimento que recebi nesses anos todos, as relações de amizade, confiança, parceria e afeto que construí  que se estenderam além da vida política. Vou carregar tudo isso dentro do meu coração. É um ciclo da minha vida que se encerra, ciclo de muito aprendizado , uma verdadeira escola, os ensinamentos irei levar pra vida”, escreveu no dia de sua despedida do Palácio Rui Ramos.

Ela diz que vai continuar retribuindo através do trabalho voluntário tudo que essa terra lhe deu desde que aqui chegou, há 46 anos. “Gratidão, meu Alegrete”, frisa.

A entrevista ultrapassa boa parte da manhã, as fotos para ilustrar a reportagem são no ambiente do lar e acabamos conhecendo o recanto da alegretense de coração.

Nos despedimos com mais um gole de água mineral e a certeza de que aquela mulher de fibra e sorriso largo, vai continuar fazendo o bem para comunidade que sempre confiou na sua dedicação.

Júlio Cesar Santos