MP quer reconstituir cena de assassinato de menino em Porto Alegre

Episódio, em 2016, tirou a vida de menino de 12 anos. Tio, que é tenente da BM, é réu pelo homicídio do sobrinho.

O Ministério Público quer reconstituir as horas que antecederam a morte de Andrei Ronaldo Goulart Gonçalves, 12 anos, em novembro de 2016. Três anos depois, o caso sofreu reviravolta e o que parecia ser suicídio passou a ser considerado homicídio pelo Ministério Público, como revelou GaúchaZH nesta quinta-feira (5).

Com a reconstituição, a promotora Lúcia Helena Callegari pretende entender de maneira mais precisa a dinâmica do crime e ampliar provas para serem apresentadas à Justiça. Para a Promotoria, o tenente Jeverson Olmiro Lopes Goulart, 54, assassinou o sobrinho para ocultar abusos sexuais e, depois, forjou a cena de suicídio. O oficial virou réu pelo homicídio doloso — quando há a intenção de matar — em janeiro deste ano e responde em liberdade.

Por outro lado, a Polícia Civil concluiu, um ano após o crime, que o caso se tratava de um suicídio ou acidente. Responsável pela investigação na época, a delegada Elisa Souza disse que se aprofundou no caso, mas não conseguiu provar que houve crime.

 Foi apurado de forma bem intensa. Fizemos inúmeras perícias, oitivas. Conversei com peritos. Foi tudo muito aprofundado. Houve participação intensa da mãe — afirmou em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha.

No entanto, a promotora diz ter encontrado indícios de que poderia estar diante de um assassinato. Ela discordou da interpretação de perícias, acreditando que o disparo foi pela parte de trás da cabeça, não compatível com cena de suicídio.

— Para mim, esse tiro foi disparado pelo réu, durante a madrugada, na nuca da vítima — afirma a promotora.

O crime, segundo o MP

Conforme a denúncia, na noite de 29 de novembro de 2016, Andrei ficou sozinho em casa com o tio, quando a mãe e a irmã saíram para uma festa de aniversário. O tenente, que tem casa no Rio de Janeiro, estava morando provisoriamente no apartamento com a família e dividindo quarto com Andrei. Já na reserva da BM, havia assumido cargo em comissão no Ministério Público do Rio Grande do Sul três semanas antes.

Por volta das 23h20min, Cátia retornou para a moradia e conversou com Andrei e com o tenente. Ela declarou que seu filho já parecia estar “estranho e acuado, sem fazer as brincadeiras costumeiras”. Jeverson teria dito que estava com muito sono.

Por volta das 2h, o tenente acordou Cátia no quarto ao lado, dizendo que uma tragédia havia acontecido. A mãe foi até o cômodo e encontrou seu filho morto com as duas mãos segurando a arma do tio pelo cano.

Contrapontos

O advogado Edson Perlin, que defende Jeverson Olmiro Lopes Goulart, afirmou que não vai se manifestar sobre o processo neste momento.

GaúchaZH procurou a Polícia Civil para manifestação sobre a investigação que apontou para o suicídio. A delegada Elisa Souza, titular da 6ª Delegacia de Homicídios à época, está em licença.

O diretor do Departamento de Homicídios naquele ano, delegado Paulo Grillo, comentou que lembra do caso e que recebeu a família no seu gabinete, mas não recorda detalhes da apuração. A reportagem ainda consultou o atual titular da delegacia, Newton Martins, que pediu tempo para analisar o inquérito.

No inquérito policial, ao qual GaúchaZH teve acesso, a delegada Elisa Souza ponderou o depoimento de um familiar de Andrei. Mensagens trocadas entre eles, para a delegada, apontavam que “ele não vinha tão feliz quanto diziam os familiares”. Elisa concluiu:

“De todo o exposto no presente inquérito policial, muito embora possa pairar dúvidas acerca da participação de terceiro no caso ora investigado, o fato é que, do conjunto probatório levantado nos autos, há fortes indícios de duas hipóteses: ou houve um acidente com a arma de fogo enquanto Andrei manuseava o instrumento, ou Andrei desejou tirar a própria vida”.

O IGP respondeu aos questionamentos da reportagem informando que foram realizadas 17 perícias a pedido da polícia. O órgão também diz que existe apenas um laudo em aberto, na seção de balística. Justificou que a “demora no atendimento deve-se ao grande volume de demandas solicitadas e ao reduzido efetivo”.

Fonte: Gaúcha/ZH