No Setembro Amarelo, psiquiatra alerta que a pandemia é um agravante na questão do suicídio

Mês de setembro há mais de seis anos se “veste” de amarelo por um motivo muito importante. Setembro Amarelo é uma campanha mobilizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e Conselho Federal de Medicina (CFM) que acabou se tornando muito mais ampla e não aborda apenas o suicídio, mas a saúde mental como um todo.

Neste ano, a reportagem do PAT entrevistou o médico psiquiatra Fernando Uberti Machado. O profissional atua em consultório e também no CAPS AD, preceptor da residência médica em Alegrete e coordenador do Núcleo de Psiquiatria do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul.

O médico ressalta que, em razão de todos os reflexos da pandemia do novo coronavírus, a campanha ganha uma importância ainda maior em 2020.

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Pelo fato do suicídio ser resultado do agravamento de doenças relacionadas à saúde mental, todas as limitações impostas pelas medidas de segurança adotadas podem acabar agravando ou gerando quadros de ansiedade ou depressão que merecem atenção.

Fernando acrescenta que por ano, no Brasil, ocorre cerca de 12 mil suicídios e mais de um milhão por ano no mundo. Essa é uma estatística muito grave a cada 40 segundos alguém comete suicídio.

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O médico disse que houve um aumento na procuro por atendimento psicológico e psiquiátrico nos últimos anos especialmente entre os pacientes mais jovens, o que também, resultou em um aumento na estatística nesta idade em relação aos suicídios.

“Dentre as causas, mais de 95% tem uma doença psiquiátrica associada, mas também, tem àqueles(suicídios) por atos impulsivos como traições, atos irracionais e perdas. Porém, em primeiro lugar vem a depressão, depois transtornos bipolares e em terceiro o uso de substâncias como álcool e drogas”- explicou.

O psiquiatra continua a explicação evidenciando que uma questão muito importante a ser destacada são os mitos  em relação ao suicídio. ” Quando se fala em livre arbítrio, isso não existe. Não é uma decisão de cada um, pois quando a pessoa está passando por um processo de sofrimento psiquiátrico, isso afeta a percepção da realidade, ela está fora do juízo crítico. Outro mito é relacionado a questão de que as pessoas que falam em cometer suicídio não têm coragem ou não vão concluir o ato. Geralmente as pessoas que cometeram suicídio, procuraram por ajuda médica pouco tempo antes ou procuraram por familiares, amigos que não falavam há tempos, além de cartas. A pessoa que comete suicídio fala sobre o assunto. É importante valorizar esses sinais e encaminhá-las para um atendimento especializado, seja com psiquiatra ou psicólogo” – explicou.

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Na sequência, Fernando esclareceu que estamos na quarta onda da pandemia que está associada aos transtornos psiquiátricos. Ele cita que teve uma aumento considerável de pessoas que procuram a rede pela primeira vez, assim como, a desestabilização de quem já realizava tratamentos. “É um período que muita coisa mudou. Determinados comportamentos sinalizam um quadro perigoso e que necessita de cuidados. Entre essas situações estão isolamento emocional e social, ausência de comunicação, irritabilidade atípica, alterações no sono entre outros. Nesse momento, também é importante dedicar atenção especial aos idosos. Por serem o maior grupo de risco para a Covid-19, são os que mais experimentaram perdas durante a pandemia, e isso pode refletir também na saúde mental, além do fato de que muitos sofrem com a aposentadoria, a solidão e tudo isso gera ansiedade”- falou.

Assim como os problemas financeiros, o medo da doença para si e para os familiares, a alteração da rotina, muitas pessoas passaram a ficar mais tempo em casa, a perda do contato social e a preocupação com os filhos.

Além de ter essa preocupação muito latente, pois o grupo mais jovem de crianças e adolescentes também são os mais afetados durante esse período, principalmente devido às mudanças do dia a dia. O contato escolar, além da socialização também auxiliava para fazer amizades e o contato com o externo.

O médico enfatiza que no mês de Setembro Amarelo existe esse caráter diferente e com uma atenção ainda maior à saúde Mental. Pois todos estão alterados em diversos níveis. É difícil lidar com a imprevisibilidade de não saber até quando o vírus vai ser uma ameaça e a pandemia vai permanecer, desta forma, as limitações.

Rede de Saúde do Município

Em relação à rede de saúde do Município. Dr Fernando disse que o trabalho é muito intenso no CAPS AD, CAPS II e CAPS infantil.  Cada um com um atendimento mais específico, como o Caps Ad que atende pacientes dependentes do álcool e drogas, Caps II que são casos mais relacionados à esquizofrenia , transtornos bipolares e depressão, além do Caps infantil que realiza uma atendimento a crianças e adolescentes. Assim como, a disponibilidade de 20 leitos psiquiátricos com a aprovação para expandir para 30 na Santa Casa de Alegrete. Também há o Residencial Terapêutico.

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O médico acrescenta que Alegrete tem tradição na Saúde Mental, pois foi uma das pioneiras no Brasil, na década de 80. “Alegrete foi uma das primeiras cidades a implementar o Caps. Isso vem a somar e o serviço só se fortaleceu. Também tem a residência médica em psiquiatria que forma profissionais psiquiatras que vão trabalhar em todo País. Aqui é um sistema diferenciado em relação a outras cidades do estado e do País. É um serviço bem organizado no sentido de ter um acesso rápido e qualificado. É claro que há carências de infraestrutura, que são próprias do SUS. Algumas coisas precisam avançar nesta parte, mas tem uma qualidade muito grande em recurso humano de profissionais qualificados” – comentou.

Para minimizar os efeitos negativos da pandemia na saúde mental, alguns hábitos podem ser adotados. Dormir bem garantido pelo menos oito horas de sono, praticar exercícios, manter uma alimentação saudável, buscar novos aprendizados, planejar bem as tarefas diárias, entre outras mais, são exemplos de atividades que podem ajudar.

 

Flaviane Antolini Favero