Nos embalos do Carnaval 2023: o ritmo dos sambas-enredo de Alegrete

Os sambas-enredo surgiram no Rio de Janeiro em 1930 e nem sempre foram como conhecemos hoje.

Fonte: clipe Nós os Ritmistas

Até os anos 1935, era composto por improviso, de acordo com as perspectivas do puxador, até que começou a se aperfeiçoar, juntamente com as escolas e elaboração dos desfiles.

Uma coisa nunca mudou: os sambas-enredo sempre tentaram passar mensagens ao público, sejam elas críticas sociais ou reprodução de eventos importantes para a comunidade.

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Fonte: clipe Nós os Ritmistas

O samba-enredo 2023 de Nós Os Ritmistas – Ìyálodè

Oxum,

Deságua o amor, a ancestralidade

A resistência, a busca da igualdade

Matizes negras, filhas de Oyó

Legado da espiritualidade

Flora,

Não quis ao filho o destino escravizado

Floresceu pra renascer no reino abençoado

Nas águas Kalunga chorou, as dores o rio levou

E desse axé a voz da liberdade ecoou

Mãe Araci

A luz da umbanda

Salve os caboclos, o tambor da “pioneira”

Maria Teresinha, professora Dadá

Primeira voz do povo, abençoada

Mãe Araci, a luz da umbanda

Salve os caboclos, o tambor da pioneira

Maria Teresinha, professora Dadá

Primeira voz do povo, abençoada

Capoeira na ginga no vento de Oyá

Bailarina, Dandara menina a brilhar

Mais uma história de superação

Quem sonha pode, a vitória está em suas mãos

São elas, deusas soberanas, orixás

E ela que vossa verdade germinou

Noema Domingues, um lar de fé e generosidade

Pra sempre vou te amar,

Tesouro da comunidade.

Não brinca com as forças das pretas

Nós Os Ritmistas queremos respeito

Dona do poder, Yválodè

O nosso canto vem da força da mulher

Não brinca com a força das pretas

Nós Os Ritmistas queremos respeito

Dona do poder, Yválodè

O nosso canto vem da força da mulher

A canção tem como compositores Alan Vinícius, Bico Doce, Jefinho Rodrigues e Léo Peres, o intérprete é Bico Doce. A composição exalta a importância da mulher preta na sociedade, sua força e reforça a luta contra o preconceito. Para acentuar a magnitude da mulher negra alegretense, relembram alguns nomes de destaque. São elas Flora, uma mulher escravizada, que não quis viver as injustiças da escravidão, então, matou suas duas filhas e, em seguida, cometeu suicídio. Maria Terezinha Leal Santos foi a primeira vereadora negra de Alegrete e do Rio Grande do Sul. Noêmia Domingues trouxe a religiosidade da umbanda, oriunda de crenças de matriz africana. Dandara Amorim Veiga é uma bailarina alegretense que atualmente atua e reside em Nova Iorque.

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Algumas palavras são importantes no samba-enredo, como ìyálodè, que exibe o título, significa aquela que lidera as mulheres, dona do poder feminino. A entidade oxum também representa o feminismo, pois é uma orixá, considerada rainha da água doce, rios e cachoeiras, simboliza o poder feminino. Oyó diz respeito ao império estabelecido pelo povo iorubá no século XVII. A religiosidade permanece presente na figura dos caboclos, que são espíritos honestos e leais que visam a prática da caridade.

O samba-enredo da escola Nós Os Ritmistas versa sobre questões feministas e também de raça, a religiosidade está presente na umbanda, com seu vocabulário e fé, tudo isso com um ritmo cadenciado e alegre.  

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