Polícia pede quebra de sigilos bancário e fiscal de vereador de Porto Alegre e de dois investigados

Defesa de André Carús (MDB) encaminhou pedido de soltura à Justiça. Segundo diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), um dos presos, na terça-feira (1), prestou esclarecimentos à polícia. Parlamentar permaneceu em silêncio.

A Polícia Civil pediu a quebra dos sigilos bancário e fiscal do vereador de Porto Alegre André Carús (MDB) e de outras duas pessoas, nesta quinta-feira (3). O parlamentar, um assessor e um ex-funcionário da financeira foram presos durante uma operação, na terça (1). Carús é suspeito de obrigar assessores a tirar empréstimos consignados e entregar o dinheiro para ele.

Segundo o diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), delegado Marcus Viafore, os três presos prestaram depoimento, na quarta (2).

“O vereador Carús e um dos presos se mantiveram em silêncio. O outro, prestou esclarecimentos à polícia”.

O delegado não informou o conteúdo do depoimento para não atrapalhar a investigação.

De acordo com Viafore, também foi solicitada a quebra dos sigilos bancário e fiscal de outros investigados. A polícia não vai divulgar quem são e nem quantos são.

Na operação, foram cumpridas três ordens de prisão e 10 de busca e apreensão, inclusive no gabinete do parlamentar, na Câmara de Vereadores da Capital, e na casa dele e de assessores.

Ao G1, a defesa de Carús informou que pediu a soltura do vereador, na quarta. De acordo com o assessoria de imprensa do advogado Jader Marques, as buscas já foram feitas e as testemunhas ouvidas, o que contribuiria para que Carús fosse solto.

O Tribunal de Justiça ainda não informou se o pedido foi aceito.

Em entrevista à RBS TV, na segunda-feira (30), Carús negou as acusações. “Nunca fiz isso, jamais. Jamais, nem tenho notícia de que isso pode ter acontecido no meu gabinete. Para mim é novidade”.

A defesa do vereador pediu afastamento do cargo na Câmara de Vereadores da Capital. A licença é por tempo indeterminado.

Investigação

Na operação, foram cumpridas três ordens de prisão e 10 de busca e apreensão, inclusive no gabinete do parlamentar, na Câmara de Vereadores da Capital, e na casa dele e de assessores.

Em entrevista à RBS TV, na segunda-feira (30), Carús negou as acusações. “Nunca fiz isso, jamais. Jamais, nem tenho notícia de que isso pode ter acontecido no meu gabinete. Para mim é novidade”.

As buscas também atingem uma financeira e os departamentos de Água e Esgotos (Demae) e de Habitação (Demhab) da prefeitura da Capital, onde trabalham cargos comissionados indicados por Carús.

A polícia investiga se outras pessoas também eram beneficiadas.

Esquema revelado por ex-assessora

“Estamos investigando, em princípio, o crime de concussão, que é exigir vantagem indevida a partir do seu cargo público, valendo-se do cargo público, e também associação criminosa”, disse o delegado responsável pela investigação, Max Ritter.

O esquema foi revelado por uma ex-assessora, que além de procurar a polícia, contou os detalhes da fraude à reportagem da RBS TV, que realizou investigação independente.

Uma mulher, que trabalhava com o vereador desde 2017, fez três empréstimos que somam R$ 100 mil. À reportagem, ela disse que entregou todo o dinheiro a Carús, e que a maior parte do salário de R$ 14 mil era usado para pagar as parcelas do empréstimo. Ela decidiu fazer a denúncia depois de ter sido demitida.

“No início ele dizia que eram dívidas que ficaram da campanha que ele tinha que pagar e ele não tinha como. Que isso, na verdade, ficaria no primeiro ano de mandato e depois isso findaria, mas só que nunca teve fim. Cada vez foi só aumentando a dívida”.

Em uma gravação com câmera escondida, um funcionário da financeira que fez os empréstimos mostra que a empresa sabia do esquema. Ele cita o nome do vereador e diz que a ex-assessora não ficará com o “nome sujo”.

“Acho que tu falou com o vereador André Carus também, né? Falei com o vereador também, por telefone, e mais, a diretoria está sabendo de tudo. Então, ficou garantido que vamos liquidar, na medida do possível, todo o teu CPF, sem nunca te trazer nenhum problema para o teu CPF”, disse, sem saber que estava sendo gravado.

“Não podemos descartar essa hipótese que outras pessoas também tenham se locupetado [enriquecido] de alguma forma a partir do valor desses empréstimos que foram contraídos juntos a esta instituição financeira, se, com alguma parte ou com o valor integral de cada um desses empréstimos. É isso que, a partir das provas que apreendemos na data de hoje, vamos verificar”, disse o delegado.