Psicóloga alegretense fala sobre isolamento social direto da Espanha

A segunda edição da série de três reportagens especiais com três alegretenses que vivem em países diferentes e estão convivendo em meio à pandemia do coronavírus traz a jovem Luiza Elesbão Sbrissa.

Ela estudou parte do ensino fundamental na Escola Estadual Demétrio Ribeiro e completou os estudos no Colégio Divino Coração.

Formada em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Maria em 2015, ingressou no Mestrado na mesma universidade, com especialização em Psicologia Social, área da psicologia que se interessa pelos contextos sociais, culturais, históricos e políticos na constituição afetiva e psíquica do ser humano.

Em 2018, Luiza voltou a Alegrete e colaborou com a ONG Amoras. Ainda 2018, acabou se mudando para a cidade de Barcelona, na Espanha, onde iniciou Doutorado no Programa “Pessoa e sociedade no mundo contemporâneo”, no Departamento de Psicologia Social da Universidade Autonoma de Barcelona.

A alegretense investigou coletivos autogestionados formados por mulheres migrantes, ajuda mútua e articulação política.

A experiência da quarentena: 

– O primeiro caso de Covid-19 foi confirmado na Espanha em 31 de janeiro. Hoje, enquanto escrevo aqui, já foram confirmados mais de 102 mil casos, 9 mil mortes e 22 mil casos curados (2 de Abril de 2020).

A Espanha se tornou o 3º país com mais casos detectados, ultrapassando a China. Destaco estes números elevados porque eles estão fortemente relacionados com o movimento tardio de adoção das medidas de higiene e de distanciamento social.

A semana mais difícil que vivi aqui foi a que antecedeu o decreto de confinamento e abertura apenas dos serviços de primeira necessidade (como mercados, farmácias e serviços de saúde), no dia 15 de março.

Foram dias de bastante confusão, de tentar entender a dimensão e seriedade do que estava acontecendo, pois até então, estávamos circulando normalmente pelas ruas, segundo o que eu vi a partir da minha experiência em Barcelona.

As medidas restritivas de circulação de pessoas, assim como, as medidas individuais de higiene foram adotadas quando o sistema de saúde já se encontrava colapsado, e é esta a situação delicada que agora o país enfrenta, com previsão de superar a Itália em um curto período de tempo.

O Brasil está tendo a oportunidade de ver os erros e acertos e de agir antes, preventivamente, pois esta é a única forma de conter o avanço da pandemia e evitar um colapso. O Brasil está há duas ou três semanas atrás da Espanha em relação ao ciclo de contágio, e se a população não estivesse tomando as precauções que está tomando agora, o Brasil estaria atingindo ou superando os países mais afetados, como reafirma Dr. Átila Iamarino, biólogo e cientista brasileiro. Por isso é importante manter as medidas de isolamento e distanciamento social agora.

Mensagem aos alegretenses:

Passar um tempo em casa não é o mesmo que passar um tempo em casa durante uma crise de proporção mundial. É normal que esta situação de incerteza gere ansiedade, medo e cansaço, assim como, ter altos e baixos em um mesmo dia, ou ainda, que se experimente estados emocionais/psicológicos que se pensava haver superado. Foque no que é possível fazer agora.

O que tu tem controle e o que não tem como tu controlar? Seja responsável pelo teu próprio distanciamento social e fique em casa, caso precise sair – ou para quem está saindo para trabalhar – adote as medidas simples de higiene que foram orientadas.

Estamos isolados mas não precisamos passar por isso sozinhos. Falar desse mal-estar com outras pessoas ajuda, e também dizer quando uma conversa está gerando muito desconforto para que se mude um pouco de assunto. Também é normal que se fale do mesmo tema porque estamos todos tentando processar e integrar esta situação nova e inesperada, mas também é importante se permitir desligar para não se sentir tão sobrecarregado e fazer alguma outra coisa que gere prazer e descanso.

Pode também buscar ajuda de um profissional, a maior parte continua oferecendo uma atenção por telefone ou online. Não te cobra para fazer tanta coisa neste período de quarentena ou que tu deveria estar te sentindo de uma maneira determinada. O que cada um de nós precisa neste momento vai ser diferente.

Júlio Cesar Santos                               Foto: reprodução