PUCRS digitaliza acervo da Gazeta de Alegrete

PUCRS, por meio do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social e do Delfos – Espaço de Documentação e Memória Cultural, iniciou em abril a digitalização do acervo completo do jornal Gazeta de Alegrete, fundado no ano de 1882, em Alegrete (RS), pelo Barão de Ibirocay.

O título foi conferido a Luís de Freitas Vale, em 1888, pela Princesa Isabel, decorrente da batalha travada por Freitas Vale, via Gazeta de Alegrete, contra o regime escravocrata. O periódico, com 132 anos de circulação ininterrupta, é o terceiro mais longevo do Brasil, atrás apenas do Diário de Pernambuco e do Estado de São Paulo. Em língua portuguesa, é o sexto mais antigo, e no RS, o primeiro. Na primeira edição, em 1º de outubro de 1882, faz grandes críticas ao regime escravocrata, que vigorava ainda no País, e as primeiras edições tratam da abolição da escravatura.

O trabalho de digitalização está sendo realizado por bolsistas ligados ao Grupo de Pesquisa História da Imprensa Gaúcha, coordenado pela professora da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) Beatriz Dornelles. Segundo Beatriz, o acervo está bem conservado. “São aproximadamente oito metros lineares de jornais encadernados. Os mais antigos datam de 1905 e há jornais de todos os anos seguintes até 2015. Também constam edições históricas variadas”, afirma. “Os exemplares anteriores a 1945 estão mais frágeis, e precisamos ter um grande cuidado no manuseio, por isso a nossa preocupação em digitalizá-los”, completa.

jornal profi

Suas páginas são um retrato da história da fronteira. Constam matérias sobre o primeiro automóvel que chegou ao município, as doenças que afrontavam a região, o sindicalismo, a arquitetura da cidade e textos de personalidades importantes, como o poeta Mário Quintana, que trabalhou no jornal na década de 50, e o também poeta e jornalista Hélio Ricciardi, que foi diretor da publicação. Além deles, são citados muitas vezes os feitos de políticos alegretenses de representação internacional, como Oswaldo Aranha e Demétrio Ribeiro.

A diretora da Gazeta, Lilia Ricciardi, vê na história do jornal a história do próprio município. “Em cada página, em cada edição, estão registrados os hábitos e costumes da nossa gente, que entre nascimentos e óbitos, foi construindo os fatos que resultaram ao que hoje somos como cidade. A Gazeta é a cara de Alegrete. Folhear as Gazetas antigas é viajar pelo tempo”. O editor-chefe da publicação, jornalista Paulo Antônio Berquó Farias, adianta que a digitalização é a primeira parte de um projeto. “Queremos também restaurar os originais e, mais adiante, lutarmos pela construção do Memorial Gazeta de Alegrete. Mas nenhum caminho pode ser percorrido sem o passo crucial, que está sendo dado pela iniciativa da professora Beatriz, através da PUCRS”. Diplomado pela Famecos, Berquó se diz comovido pela iniciativa da Universidade. “A Faculdade está colaborando de forma decisiva para recuperar a memória da minha cidade, através da digitalização do arquivo histórico do jornal mais antigo do Rio Grande do Sul e a quem me dedico há cerca de dez anos”, finaliza.

jornal velho

Um tesouro para a cidade

O arquivo tem dados sobre a vida pública da cidade, suas políticas sociais, culturais, questões de fronteira, história da saúde e da educação, do sindicalismo rural e da agricultura, além da importação e exportação agrícola. O professor do Programa de Pós-Graduação em História da PUCRS, Charles Monteiro, entende que o jornal é uma fonte inestimável para a pesquisa sobre a cidade, o movimento abolicionista, os debates intelectuais e políticos travados no século 20. “Os jornais diários e as revistas tornaram-se uma das fontes privilegiadas para os historiadores, pois, através deles, é possível refletir sobre a formação de uma esfera de opinião pública e sobre os grandes embates políticos e sociais. Tornar acessíveis as informações dessa fonte e preservá-las tem grande valor acadêmico e social, pois contam uma parte da história da sociedade sul-rio-grandense e brasileira”, reflete. “Ao digitalizar este arquivo, a PUCRS oferece um presente inestimável à nossa cidade e nos impulsiona para outros projetos ainda mais audaciosos”, analisa a diretora da publicação.

História da Comunicação

Segundo Beatriz, o periódico retrata as mudanças no jornalismo ao longo do tempo, tanto do ponto de vista ideológico, como na forma de produção da notícia. “A Gazeta registra, por exemplo, a história de transição da tipografia para a linotipia e, mais tarde, para o Offset”. Outro estudo importante é a análise da prática jornalística no interior, revelando as transformações pelas quais a profissão passou em 100 anos. “Alegrete era uma referência jornalística na Fronteira Oeste. Por vários anos não havia nenhum veículo que concorresse com a Gazeta. Depois é que surgiram periódicos importantes, como A Plateia, de Santana do Livramento”, explica a pesquisadora.

jornal digital

Após a digitalização, o acervo será devolvido à cidade, para a construção de um Memorial. Todo o material ficará disponível para consultas no acervo on-line da Biblioteca Central Irmão José Otão (www.pucrs.br/biblioteca). Alegrete mantém hoje, além da Gazeta, mais três veículos de comunicação impressos: O Diário de Alegrete, o Expresso Minuano e o Em Questão.

Bianca Garrido – Assessoria de Comunicação Social – PUCRS

Fotos: Camila Cunha