Renascido do submundo das drogas e prostituição, esse alegretense hoje salva pessoas

Do submundo das drogas e violência, alegretense renasce depois de dar um tiro na própria cabeça, no auge da dependência química e alcoolismo.

Vanderlan Marques Pereira
Vanderlan Marques Pereira

Hoje, Vanderlan Marques Pereira – conhecido como Mano Pereira de 49 anos, leva seu testemunho de vida para a Célula que tem em Lajeado e, por muitas vezes já salvou vidas, como um dia foi salvo por Deus, como ele descreveu.

A partir de uma postagem de superação do vício, das drogas em sua rede social, a reportagem do PAT entrou em contato com Mano Pereira e soube de toda a sua superação que serve de inspiração para muitas pessoas. Acompanhe desde o início, da infância com violência, da inserção ao mundo das drogas, prostituição até o tráfico e a grande virada de tudo.

O início

O alegretense que viveu até os 22 anos no bairro Canudos, disse que tudo iniciou na infância. Numa casa com pai e tios alcoólatras, ele era obrigado a buscar cachaça, nos “famosos” bolichos de bairro. Ali, diante da violência que sofria no âmbito familiar, passou a “provar” a bebida alcoólica a cada compra e isso era rotineiro. Também, diante das compras de cigarro para a avó, desde muito pequeno fazia uso do cigarro e da cachaça. Não demorou muito para iniciar com outras drogas e, assim, conheceu o chamado Loló, cola de sapateiro e a maconha.

Em casa, com o ambiente conturbado e o histórico de violência só faziam crescer ódio e a revolta. O refúgio, que à época pensou que seria a melhor opção foram drogas, álcool e cigarro. “quando as coisas estão ruim, tudo conspira para que a tendência só vá piorando e aquela situação me fazia “fugir da realidade” – disse Mano.

Ainda na infância, ele enfrentou a depressão, mas a doença não era diagnosticada, tampouco, tratada. Mano passou ater pensamentos negativos e tentou várias vezes tirar a própria vida. Ele cortava os pulsos e também ingeriu venenos. Tudo, segundo ele, pelo ambiente familiar destruidor que vivia, sofrendo na pele a violência e crescendo o sentimento de raiva e vingança.

O Quartel

Chegou o alistamento e o quartel. Assim que chegou na Unidade militar, passou a fazer amizades e a usar a maconha. A diferença de padrão da sociedade já era algo que ele tinha muito claro e as oportunidades cada vez menos favoráveis. Sem estudo, ficou no Exército por dois anos e depois resolveu sair de Alegrete.

A saída de Alegrete

Com 22 anos, foi a primeira vez, que Mano decidiu encarar o mundo e chegou em Lajeado. Lá, o trabalho inicial foi em um restaurante à noite. O amigo e colega de empresa, apresentou a cocaína. Não demorou muito para ele entrar no tráfico. Naquele período, tudo parecia lindo e fora da realidade que até então tinha vivido.

Mano, se” jogou” em tudo, drogas, álcool, cigarro, casas de prostituição. entre outros. Ele resume, “me afundei em um abismo de tudo que poderia existir de ruim e me afundei cada vez mais. Eu traficava, mas também consumia muito”.

O alegretense ressalta que eram muitas noites de festas. Mas chegou o momento em que perdeu tudo e, os “amigos” sumiram. Ele foi morar na rua e, para comer tinha que comprar droga para as pessoas. A situação ficou tão ruim que ele teve que fugir de Lajeado e retornou ao Baita Chão.

Retorno para Alegrete

Em 1995, Mano chega à Terra Natal e pensa em recomeçar diferente. Fazer do seu caminho uma nova jornada, porém, não conseguiu emprego e reencontrou amizades. Nesse momento, Mano acrescenta que tudo piorou. O que parecia impossível aconteceu e ele se envolveu com a droga e brigas. “Me afundei na cocaína e no sentimento de raiva, negativo e vingativo. Sem emprego, fui fazer jogo do bicho e, entre as minhas brigas e noitadas se passou um bom tempo. Saí de Alegrete em 2000, quando não dava mais para ficar no Baita Chão”- comenta.

São Jerônimo

O que parecia o início da mudança, ocorreu em 2000 quando chegou em São Jerônimo na casa de um tio que era muito severo e o fez estudar, fazer um curso de vigilante patrimonial e a vaga de emprego era em Lajeado. Foi o momento de retornar.

Novamente Lajeado

O retorno foi para trabalhar e mudar de vida. Assim ele começou a trilhar a nova jornada. Mas a noite, não foi sua aliada e as velhas amizades o influenciaram novamente. Embora trabalhando e com uma profissão, o mundo das drogas, as casas de prostituição, o álcool, o cigarro e a violência eram companhias diárias.

Com o tempo, tudo voltou e ele também teve uma crise de depressão, onde ficou um período trancado em um quarto escuro, pensando em tirar a vida. Porém, essa fase passou e ele retornou ao trabalho, em um supermercado, onde conheceu a esposa, em 2004.

Eles iniciaram um relacionamento e ele estava feliz. Contudo, não se livrava de tudo que carregava de negativo. Dois anos depois do começo do relacionamento, ele foi em uma festa e abusou de tudo que poderia ter de ruim, todas as drogas e acabou manuseando uma arma de fogo, numa brincadeira “boba” e deu um tiro contra a própria cabeça. O projétil foi parar próximo à coluna.

Quando acordou no hospital em Santa Cruz, viu a esposa chorando ao seu lado. Ele recorda que a primeira coisa que falou foi pedir para que ela não contasse nada para sua mãe. Mano enfatiza que, diante de tudo que fazia de errado, o sentimento mais forte que ele carregava era de que a mãe não ficasse sabendo do quanto ele estava, à época, “perdido”. Passado alguns dias no hospital, foi para casa onde a esposa era o seu suporte diante daquele momento com sonda para se alimenta, entre outros cuidados.

Foram meses de recuperação até que ele, por um milagre, se recuperou bem e retornou ao trabalho. Naquele estabelecimento atuou como vigilante por 13 anos.

A mudança

Quando voltou ao trabalho, Mano recorda que já estava diferente. Ele tinha vivido uma experiência forte espiritual, mas até então, não tinha essa compreensão. Foi assim que um policial militar que também trabalhava no supermercado como segurança(à paisana), se aproximou e começou a falar em Jesus. No início, o alegretense disse que fugia. Não queria ouvir.

Contudo, diante da insistência do policial militar para que ele fosse conhecer uma Célula, ele resolver ir na Igreja. Para sua surpresa, ao chegar no local, identificou muitos ex-amigos. Pessoas que também estavam mergulhadas no submundo das drogas e ali davam os seus testemunhas de glória. Aquela nova realidade mudou a sua forma de pensar.

Mas nada foi fácil. O alegretense lembra que o começo foi muito doloroso. A abstinência das drogas, do álcool e do cigarro foi um grande desafio. Ele passou por momentos de guerra consigo mesmo, foi horrível e doloroso – explica.

“Foi aí que eu percebi que precisava de ajuda, não apenas no físico, mas no espiritual. Comecei a frequentar a Igreja. Eu sou um milagre, de estar aqui. Uma pessoa que desde a infância teve acesso a tudo que é de errado, tentou tirar a vida várias vezes, vomitava pedaços do fígado, sangrava pelo nariz como se fosse uma vertente – tinha tudo para não estar aqui, para não dar esse testemunho. Hoje, eu tenho uma Célula com 11 pessoas, já ajudei muitas famílias. Me emociono só em pensar que fui responsável por salvar alguém, eu fiz isso. Com um pessoa que estava em depressão. Posso afirmar que todos têm salvação.  Fiz da minha dor, da minha revolta e da minha raiva uma transformação e tudo se tornou em esperança para outras famílias. Eu consegui perdoar meu pai, muitas pessoas. Tudo isso, só foi capaz porque eu busquei Deus. As vezes falamos em Deus, mas isso não é o suficiente, precisamos buscar Deus e fazer o bem.”- completou.

Mano Pereira, se emociona em dizer que trabalha na empresa Expresso Azul em Lajeado, a esposa atua em um hospital, a enteada de 11 anos, atualmente o vê como uma referência. Tem a sua casa, sua família e um projeto chamado Fazer o Bem Lajeado onde ajuda muitas famílias carentes. Em datas comemorativas como Páscoa, Dia Das Crianças, Natal entre outras, ele presenteia famílias e crianças carentes. O projeto é conhecido e respeitado na cidade onde ele tem muitos parceiros. Inclusive lembrou que, na enchente de 2017 foi responsável por enviar um caminhão de doações entre alimentos, colchões e roupas para Alegrete. Uma vida que não tem semelhança alguma com a destruição do passado. “Eu venci 18 de vício e hoje sou exemplo dentro da minha casa. As pessoas precisam acreditar que isso é possível. Minha vida é um dia de cada vez, na minha fé em Cristo Jesus  que é tudo nessa minha existência. Somente “Ele” foi capaz de me salvar” – conclui.

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