A capacidade de se identificar com outra pessoa, compreendê-la emocionalmente ou o simples fato de colocar-se no lugar dela, imaginando-se nas mesmas circunstâncias, independentemente do momento, se são casos de dor ou alegria. Nos dias atuais, com o advento da tecnologia, o dia-a-dia cada vez mais atribulado de afazeres, responsabilidades e todas as preocupações, são inúmeras situações que passam despercebidas. Muitas vezes, as pessoas só conseguem parar, refletir e dar atenção quando a situação chega no seu limite, em casos extremos, no leito de morte de um ente querido ou em outros casos de dor.
Mas, também, há olhares humanos, corações fraternos, almas iluminadas. Seres humanos que por onde passam irradiam amor, compaixão e a paz, há pessoas que enxergam muito além, isto pode ser em atividades rotineiras como uma fila na padaria, no supermercado, no restaurante, na farmácia ou em tantos outros lugares.
Foi assim que a sensibilidade da alegretense, Denise Antunes Aurélio, emocionou muitas pessoas que tiveram acesso ao seu perfil no facebook. Na última quinta-feira(28), a educadora foi no supermercado Peruzzo. Era para ser apenas mais um ato comum, de praxe, entretanto foi um momento que ficará para sempre marcado em sua vida.
No post que colocou em seu perfil pessoal ela descreveu uma linda narrativa sobre um encontro com uma quase centenária.
“Eis que eu chego no mercado Peruzzo no intuito de comprar uma torta e vejo que a fila na padaria está enorme. Ao olhar em direção ao balcão, na frente das tortas, uma senhora atentamente olhava os preços e tentava ver qual sabor e valor poderiam melhor lhe agradar. Fui para fila e a senhorinha ali, atenta sem chamar atenção e de uma forma que os atendentes não eram capazes de perguntar no que poderiam lhe ajudar. Foi que chegou minha vez de ser atendida e pedi ao rapaz que primeiro atendesse aquela idosa. Ela cautelosamente escolheu a torta que achou com tamanho, sabor e valor ideais. Antes de sair, olhou e me disse:amanhã estou de aniversário e ganhei 60 reais para comprar um bolo, a casa vai estar cheia. Ali, já iniciou minha emoção, era visível a felicidade nos olhos daquela humilde senhora. Eu a cumprimentei e continuei em minhas compras.” – descreveu Denise.
Na sequência do texto, a educadora narra mais uma passagem que a deixou ainda mais sensível com a humildade e simplicidade de uma quase centenária. “Ao chegar no caixa, lá estava ela, feliz! Novamente fui ao seu encontro e perguntei. – Quantos anos a senhora fará amanhã? Ela então respondeu: 99, estou ficando velha!
E, mais uma vez repetiu: ganhei 60 reais para comprar meu bolo. Bom, desta vez, precisei respirar fundo para conter a emoção, quase um século de existência e ali comprando seu próprio bolo de aniversário.” completou.
Entretanto, aquela situação teria um desfecho ainda mais imprevisível e lindo. Depois que a idosa pela segunda vez, fez o relato sobre o valor e seu aniversário, eis que surgiu uma terceira pessoa. Denise a descreveu como uma mulher linda que certamente havia se sensibilizado com a senhora assim como ela.
A mulher que muito mais que a beleza externa também deixou visível o quanto era bela em sua essência, perguntou a idosa se poderia pagar o bolo de aniversário, como um presente de aniversário. Mesmo que jamais tenha passado por ela em outros momentos. Foi então que de forma muito humilde a explicou que tinha o dinheiro que havia ganhado.
(Imagem ilustrativa)
“Então, eu insisti. Deixa ela pagar esta fazendo de coração”- falou Denise. Assim, a “mulher bonita” pagou com alegria o bolo e disse para que comprasse outro presente com o dinheiro. ” Eu fiquei sem ação e não contive as lágrimas que teimosamente caiam em meu rosto. A felicidade de quem ganhava um bolo para comemorar seus 99 anos. A alegria de quem fazia o bem sem olhar a quem. Senti naquele momento a incrível presença de Deus ali estampada em minha frente e guardo em minha lembrança uma idosa que agradecendo várias vezes e na sequência, foi saindo com o bolo de seus 99 anos entre as mãos. E a mulher que pagou o bolo? Não sei quem era, mas Deus certamente a usou e vai lhe recompensar.” ressaltou.
Denise destacou que fez o registro por duas razões a 1ª porque ainda existe despreparo nos atendentes de lojas e mercados para com os idosos e a 2ª é porque ficou a certeza de que o mundo não está perdido, ainda, existem pessoas com grande amor no coração.
Ao entrar em contato com a educadora quando questionada sobre o que realmente mais a deixou emocionada naquele final de tarde, a resposta foi a seguinte:
“Olha primeiramente eu percebi que a senhora ( humilde…morena) já estava ali e talvez há tempo olhando aqueles bolos e nenhum dos atendentes foi capaz de chegar a ela, mesmo assim, aguardava fora da fila pacientemente. Foi quando resolvi intervir no momento que chegou minha vez de ser atendida. Era visível a alegria dela,algo que vinha de dentro,estava estampado em seus olhos. Quando a vi novamente na fila pra pagar fui até ela e soube da idade . Imaginei que, talvez poucas vezes ela teve um bolo de aniversário ou talvez nem fosse acostumada com tal situação pela importância e felicidade em ter ganho os 60 reais para o bolo.
Foram duas situações distintas. Primeiro a paciência e o encanto com os bolos que ela poderia comprar com o valor referente àquela compra. Ela nem deu-se conta de que os atendentes nunca iriam chegar até ela, pois não estava na fila, apenas olhava atenta para o balcão. Segundo, a senhora que surgiu do nada ( talvez tivesse prestado atenção em tudo) e se ofereceu para pagar ( ela também não sabia quem era essa idosa ), isto é tão raro que emociona. O bem, a solidariedade, o amor, isso me toca profundamente.” – concluiu.
Flaviane Antolini Favero