Vídeo produzido pela Fifa que divulga as sedes da Copa do Mundo gera polêmica

Um vídeo produzido pela Fifa para divulgar as cidades-sede da Copa do Mundo no Brasil gerou polêmica no Rio Grande do Sul, como mostra reportagem do Teledomingo, da RBS TV (veja o vídeo abaixo). A produção, lançada recentemente, destaca os hábitos e tradições do estado, entre elas, o rodeio, e compara os gaúchos aos cowboys americanos.

A comparação dividiu opiniões. De um lado, tradicionalistas garantem que não se ofenderam com a comparação, mas afirmam que, além do cavalo, o gaúcho tem pouco a ver com os cowboys. De outro lado, historiadores argumentam que existem mais semelhanças entre as duas culturas do que se imagina. Presidente do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore e pai do músico Borghettinho, Rodí Pedro Borghetti dá a sua opinião.
“Nós não somos cowboys americanos. A semelhança que temos com eles é mais no que diz respeito às lidas do campo, que são parecidas. O grande vínculo é o cavalo, que é usado aqui e é usado lá. Na verdade, nós, gaúchos, temos uma cultura popular gauchesca muito própria, fruto de uma etnia da formação do nosso povo desde o índio, que foi o primeiro habitante da nossa terra”.
Os músicos Marco Lima e Juliano Machado também entraram no debate. “A forma de lidar com o gado é diferente. A música, a cultura e a forma de assar a carne também são diferentes. O cavalo é a única comparação”, afirma Marco. Juliano concorda, mas diz que, de certa forma, se sentiu honrado. “Não me sinto ofendido, me sinto até honrado pela lembrança, mas a única coisa que nos assemelha é estar em cima do cavalo e no campo”.
O historiador Cesar Augusto Guazelli concorda que o Rio Grande do Sul possui uma cultura própria, mas argumenta que ela é parecida com culturas de diversas partes do mundo. O trato com os animais do campo, segundo ele, é uma tradição compartilhada com mongóis, cossacos, beduínos, chilenos e mexicanos. “São pessoas que lidam a cavalo, lidam com animais e, portanto, precisam desenvolver habilidades muito grandes no tratamento, no domínio da equitação e, em sequência, no trato com o gado. Esses são hábitos comuns”.
Segundo o historiador, cowboys e gaúchos possuem outro ponto importante em comum: o Texas, estado norte-americano de origem do cowboy, se tornou independente quase no mesmo período em que, em terras gaúchas, acontecia a Revolução Farroupilha.
Mesmo semelhantes, culturas também possuem diferenças
Um aspecto não menos importante, porém, diferencia os gaúchos dos cowboys. O vaqueiro americano, segundo a historiadora Carla Renata de Souza Gomes, sempre teve boa fama. O gaúcho, no entanto, não era visto com bons olhos antigamente.
“A palavra ‘gaúcho’ não é dicionarizada. Para nós, hoje, significa a pessoa que nasce no Rio Grande do Sul. Embora a pessoa seja Rio-Grandense, ela tem o apelido de gaúcho, apelido regional que nós adotamos. No século 19, porém, náo era assim. O primeiro termo dicionarizado, em 1852, dizia ‘índio do campo, sem domicílio certo, teatino, que não tem domicílio em lugar algum’. Era o bandido do campo. Era o vagabundo, ele não era o peão da estância”.
Antes da palavra ‘gaúcho’ se tornar sinônimo de alguém corajoso, que tem orgulho e luta por sua terra, a figura do cowboy já era conhecida, sempre de forma positiva, seja pela imprensa, pela literatura e, mais tarde, pelo cinema.
“O cowboy tem esse glamour porque foi incorporado e construído como uma figura glamourosa. Ao contrário da América do Sul, onde o gaúcho foi considerado bandido pelo menos até o final do século 19. Nos Estados Unidos, essa ideia da barbárie não existe, os cowboys são considerados os pais da pátria”, explica Guazelli.
Mesmo assim, apesar de ser conhecido mundialmente, vale lembrar que o gaúcho surgiu antes do cowboy. “Se nós somos como os cowboys americanos? São os cowboys americanos que são como nós, eles só fizeram propaganda primeiro”, brinca Borghetti.
Fonte: G1