Vítimas da pirâmide financeira Unick, em Alegrete, relatam prejuízos

Na manhã de sexta-feira(18), duas mulheres de 48 e 41 anos, registraram na Delegacia de Polícia de Alegrete, que investiram entre as duas, mais de 55 mil reais na instituição financeira ilegal de São Leopoldo suspeita de movimentar R$ 40 milhões por dia e que fez inúmeras vítimas.

As alegretenses ficaram sabendo que tinham caído em um golpe, quando acompanharam reportagens, na quinta-feira, sobre uma operação realizada pela Polícia Federal que resultou na prisão de dez pessoas envolvidas com o esquema de estelionato.

Segundo a PF, a Unick Academy tinha mais de um milhão de clientes no Brasil e outros países. O prejuízo de cada investidor, no entanto, é difícil de dimensionar.

A primeira vítima, de 41 anos, falou que no mês de maio deste ano ficou sabendo sobre a financeira através de um amigo. O primeiro investimento em torno de 7.500 reais foi tranquilo, como previsto houve o resgate. Foi então que ela voltou a investir, com um depósito de quase 7 mil em 11 de junho e 3.500 em 13/6.  Desta vez, na conta da empresa Unick S.A Capital em benefício da S.A Capital. Após isto recebeu alguns valores e reinvestiu boa parte do dinheiro.  Em agosto, o site parou de funcionar e foi alegado que teria ocorrido tentativa de fraude. Por esse motivo, quando o sistema foi reativado a pessoa teria que esperar um ano para a devolução dos valores investidos ou poderia pedir o cancelamento do investimento e a devolução no ato. A alegretense pediu o cancelamento, mas os valores que somam mais de 15 mil reais ainda não foram devolvidos. Os advogados da empresa, não são claros e objetivos, ficam “enrolando”, diz a vítima.

Já a outra mulher lesada, também alegretense, teve um prejuízo bem maior, valor superior a 40 mil reais. Ela disse aos policiais que soube da financeira através de um amigo que também era investidor e assim como ela está no prejuízo. O primeiro depósito foi em 07/07 deste ano, no valor de 12.949 reais. Na sequência realizou outro de quase 30 mil reais. Desta aplicação, a garantia seria de 100% de lucro no final de seis meses. Os investimentos foram para a empresa já citada, localizada em São Leopoldo. Entretanto, há um certo período não consegue contato com a financeira e, através das reportagens na última quinta-feira, percebeu que também havia caído em um golpe. Ao tentar ser mais incisiva com os advogados da Unick, foi bloqueada.

 

Se o ganho for fácil, desconfie

A Unick atraía clientes com a promessa de retorno rápido com a garantia de receber de volta 100% do que fosse aplicado. O especialista em investimentos Wagner Salaverry diz para desconfiar desse tipo de ganho muito acima do normal.

“Uma expressão que costumamos dizer: ‘não existe almoço grátis'”, brinca, antes de emendar com a explicação. “A primeira coisa que o investidor tem que entender é que a Taxa Selic é a remuneração central, a referência de mercado. Qualquer retorno muito superior à Taxa Selic, vai envolver algum tipo de risco. Não tem como pensar nisso sem que esteja correndo um risco.”

Se o investimento for em forma de pirâmide financeira, o alerta é desconfiar mais ainda. Esse foi o esquema investigado pela Polícia Federal e que pode ter lesado investidores que colocaram dinheiro na Unick.

“No esquema de pirâmide financeira, quem paga normalmente são os investidores que estão entrando, por isso que não se sustenta. Os novos clientes estão pagando aos antigos retornos que não vão se repetir, a menos que continuem entrando novos investidores. Esse tipo é muito conhecido. A humanidade já vê isso sendo praticado há muito tempo, só que os investidores, por uma série de razões, acabam caindo, achando que vão ser até mais espertos do que outros que entram depois”, avalia Wagner.

Por isso, para se proteger de fraudes, é importante checar se a empresa tem autorização para operar no mercado financeiro. Quem regulamenta esse setor é a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Na página da CVM, dá para consultar se a corretora está ativa e até se tem algum alerta de fraude contra ela.

“Geralmente essas pirâmides são feitas através de redes de pessoas que se valem de empresas de fachada, oferecendo um ganho muito elevado e que se torna muito atrativo, e as pessoas se sentem seduzidas por esse rendimento muito superior ao do mercado, com ganho de capital rápido. Além de ser de alto risco, e de haver uma grande possibilidade de a pessoa perder o seu capital, também há uma ilegalidade de quem pratica isso, pois estão operando como uma instituição financeira sem a devida autorização de órgãos reguladores como o Banco Central e a Comissão de Valores Mobiliários”, explica o superintendente da PF, Alexandre Isbarrola.

Outra dica é ficar de olho no que o mercado chama de “escada de risco”. Quanto maior o retorno, maior o risco. Confira abaixo como atuava o esquema de pirâmide operado pela Unick Academy e revelado pela Polícia Federal:

  • Os clientes eram captados de duas formas: ou pela internet, em uma página na qual era possível baixar um boleto, com o valor escolhido para o investimento, e iniciar a aplicação; ou por captação direta por líderes da empresa, em encontros que ofereciam o produto da Unick. Conforme a PF, esses líderes recebiam bonificação.
  • O valor mínimo era de R$ 90.
  • O investidor ganhava acesso a uma página ou aplicativo em que poderia acompanhar a evolução do seu investimento.
  • O dinheiro era repassado para empresas laranjas, que investiam de diferentes formas.
  • Fintechs, bancos virtuais ou contas em nome de pessoas físicas ou jurídicas eram usadas para movimentar os valores das aplicações.
  • Parte era transformada em bitcoins ou outra moeda virtual, e em outros tipos de aplicação que ainda estão sendo apuradas pela PF. Somente em bitcoins, a PF conseguiu detectar R$ 48 milhões ligados à Unick Academy.
  • A aplicação começava a render para os clientes. Alguns tiveram retorno no início das aplicações, por meio de cashbacks [sistema que devolve parte do dinheiro investido pela internet
  • Porém, os pagamentos eram financiados pelos valores obtidos com novos clientes que eram atraídos para a Unick Academy. Isso, afirma a PF, caracteriza pirâmide financeira.
  • Havia um seguro oferecido aos investidores, que a PF apurou ser ligado a uma empresa garantidora. O dono desta empresa é um dos presos, e não tem patrimônio para garantir o ressarcimento desses seguros.

Com informações G1