Com quase 30 anos de dedicação ao esporte, lutador e árbitro no jiu-jitsu avalia busca da modalidade por espaço nas Olimpíadas

O cenário pode não ser considerado fácil por alguns envolvidos, mas não têm faltado esforços por parte de muitos desportistas dedicados à modalidade

Esse é o caminho que tem sido percorrido pelo milenar jiu-jitsu, na busca de a arte marcial tornar-se esporte olímpico – quem sabe em um futuro não muito distante.

Assim como muita história e dedicação de seus apaixonados, não tem faltado para o jiu-jitsu números responsáveis por explicar bem o crescimento da modalidade nos últimos anos. Em 2024, por exemplo, um evento internacional em Las Vegas, nos Estados Unidos, reuniu aproximadamente 10 mil competidores, das mais diversas faixas etárias.

O Brasil, maior país da América Latina, é um dos símbolos do crescimento. Estados Unidos e Japão são outros celeiros. O Japão, aliás, conforme a principal doutrina voltada à história desse esporte, é onde a modalidade teria sido lapidada. Ainda na Ásia, a populosa Índia teria sido o berço daquele que hoje se tornou um dos protagonistas quando o assunto é a indústria esportiva pelo mundo.

Falando no Brasil, uma estimativa aponta que mais de duas milhões de pessoas estariam praticando o esporte no país atualmente. Em 2023, um evento no Rio de Janeiro reuniu um número quase igual ao número reunido em Las Vegas no ano passado. Em nível mundial, também conforme as estimativas, seriam cerca de seis milhões de praticantes.

Posto isso, o que faltaria, então, para que o jiu-jitsu se torna-se esporte olímpico? Como já mencionado, esse tem sido foco não somente nas discussões, mas também de questões na prática inseridas nesse meio. As explicações para o atual cenário e crenças as quais dizem respeito a desfechos são várias. Contudo, é necessário pontuar primeiramente que algumas premissas são básicas.

“Para o esporte ganhar o status de esporte olímpico é preciso preencher algumas diretrizes dadas por uma espécie de cartilha do Comitê Olímpico Internacional [COI]. A primeira e principal dessas diretrizes é sobre a proporção na qual a modalidade está difundida pelo mundo. O número precisa ser de 75 países ao menos, em quatro continentes. Em 40 deles, a adesão pelas mulheres também precisaria ser registrada. Ou seja, alcançar mais localidades é um passo estratégico necessário dentro dessa busca.”

A explicação é detalhada por Roberto Nunes Salomão. Ele começou na modalidade aos 15 anos. Ao todo, são 28 anos de dedicação ao jiu-jitsu. Atualmente, o desportista, além de faixa preta nos tatames competitivos, é certificado para atuar como árbitro, tanto no jiu-jitsu quanto na luta livre.

Quando adolescente, o brasileiro era morador do Méier, região da zona norte do Rio de Janeiro, com índices consideráveis de criminalidade. Roberto Nunes Salomão viu nos tatames a chance de não apenas driblar tais adversidades como também de ser referência naquilo que optou por fazer. Dentre as conquistas de maior destaque, são 14 pódios em nível internacional, nove deles no lugar mais alto.

“Transformar uma modalidade em um esporte olímpico, independentemente da característica dela, é destinar a essa modalidade um outro olhar. Para ela, normalmente, é a chance de um crescimento ainda mais exponencial. No caso do jiu-jitsu, poderia ser a oportunidade de amplificar um potencial que já foi demonstrado, mas, com certeza, ainda há mais potencial represado, com muito a oferecer para muitos, assim como ofereceu para mim, quando eu tinha 15 anos, no subúrbio do Rio de Janeiro. Não é apenas descobrir novos talentos, não é apenas enfatizar o lado competitivo, é gerar oportunidades direta e indiretamente, seja dentro dos tatames ou por meio da indústria esportiva.”

Listadas algumas das principais vantagens por Roberto Nunes Salomão, há outro ponto que pode ser destacado nessa busca do jiu-jitsu por se tornar esporte olímpico. É uma outra diretriz apresentada pela cartilha do COI, dada como crucial e sempre ressaltada nessa discussão inerente ao contexto.

As modalidades postulantes a uma vaga no cenário dos Jogos Olímpicos precisam ter regras unificadas e serem representadas por uma entidade central em nível mundial. A realidade atual do jiu-jitsu seria de uma necessária adequação a essas diretrizes. A principal entidade em nível internacional tem como sede o Brasil.

A partir disso, a modalidade poderia ser convidada para os Jogos Olímpicos da Juventude (JOI), em uma espécie de teste nas “categorias de base” das Olímpiadas. Os JOI costumam anteceder os Jogos principais e receberam modalidades que ganharam espaço no palco principal, ainda que de forma experimental. Diante dessas perspectivas, Roberto Nunes Salomão destacou mais alguns avanços que podem ser sonhados por meio da conquista de uma vaga olímpica.

“Ainda sobre esse outro e novo olhar recebido, o tratamento passa a ser diferente por parte de apoiadores, patrocinadores e até da esfera pública. É possível sonhar com investimentos em novos centros de treinamentos, por meio de políticas públicas engajadas com a modalidade. Isso representaria mais chances para professores, treinadores e para interessados em praticar o esporte e quem sabe chegar a uma Olimpíada. Vemos que, mesmo que sem esses atrativos, a modalidade já tem crescido, então a gente pode imaginar como seria diante desse cenário de avanços no campo olímpico.”

Mais êxitos na carreira

Em 2023, Roberto Nunes Salomão veio de visita aos Estados Unidos, para assistir a algumas lutas. Foi convidado pela Griffin Academy – Pedro Sauer para fazer parte do corpo de professores, ensinar brasileiros e participar de competições lutando pela bandeira Pedro Sauer, no estado de Utah.

Logo na sua primeira competição, garantiu a medalha de ouro, conquistando o primeiro lugar no podium nos Estados Unidos: Campeão AGF América, juntamente com os seus alunos, somando um total de conquistas de 14 medalhas no campeonato.

Em 2024, Roberto Nunes Salomão conquistou um dos maiores campeonatos em nível mundial: conhecido como NAGA. Nele, conquistou o cinturão na categoria master – superpesado. Hoje, ele contabiliza mais de 20 títulos nos Estados Unidos em dois anos. Dentre esses títulos, mais da metade foram como campeão gi & no gi [com ou sem quimono, respectivamente]. Por fim, o jiu-jitsu tem sido visto como principal base para lutadores do MMA, outra modalidade que tem crescido e alimentado uma grande indústria em seu entorno.

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