“Pena que perdemos tempo ao escutar música sem emoção, música sem sentimento”. Com essa mensagem, o Nenhum de Nós inaugura seu 16º disco, Sempre É Hoje. “Milagre” é uma espécie de protesto poético contra a música feita em fórmulas. “Muita gente vem fazendo [canções] como se fosse um produto que a gente coloca na prateleira do mercado”, explica o vocalista e compositor Thedy Correa.
O problema, segundo ele, é que não há foco na diversidade. “Acho que hoje a gente vive a ditadura de um estilo, do sertanejo”, afirma o gaúcho. “É resultado de profissionalismo, os caras trabalham superbem, mas tem que fazer a autocrítica de que não é um estilo que presa pela originalidade. Tem muitas fórmulas”.
O milagre, a letra, explica, é fugir disso. É “lutar contra o tempo”, seguindo o que acredita. Faz sentido para uma banda que, entre altos e baixos, completa quase 30 anos de carreira com uma formação sólida. Diferente de muitas da sua geração, o Nenhum de Nós mantém uma produção constante, com um disco a cada dois ou três anos. “Fazemos um trabalho absolutamente coletivo, todo mundo colabora. Os últimos que entraram já têm mais de vinte anos [na banda]“.
Para Thedy, no entanto, a mídia não expressa muito interesse no rock. “É aquela coisa de sair da zona de conforto”. Não é que o público tenha deixado o estilo, tão popular nos anos 1980, quando a banda surgiu, de lado. Mas, segundo ele, grande parte da imprensa foi, gradualmente, deixando estilos mais contestadores para trás. “Você imagina o Renato Russo na banheira do Gugu? Não, ele ocupava outro tipo de espaço”, argumenta o músico. “Fora algumas exceções, como o Altas Horas, que dá lugar para todo mundo, a grande mídia não quer nada que tenha qualidade, quer o que tem apelo popular”.
O disco, lançado no meio deste ano, é um tributo ao argentino Gustavo Cerati, do Soda Stereo. O vocalista de uma das bandas mais populares do rock latino-americano morreu em setembro do ano passado, depois de quatro anos em coma em consequência de um acidente vascular cerebral (AVC). “A gente, como homenagem direta, traduziu o título de um disco dele [Siempre Es Hoy, 2002]“, explica Thedy.
Thedy conta que a gravação do disco não teve muitos ensaios, “foi tudo feito do uma forma orgânica”. A transição do tempo, o amor, relacionamentos e outros temas comuns à obra da banda refletem o álbum que está sendo apresentado em todo o país em uma turnê nacional.