
Corpo de Rafael Mateus Winques, de 11 anos, foi encontrado na segunda (25). Segundo a polícia, mãe admitiu ter dado medicamentos ao menino e mostrou onde deixou o cadáver. Advogado da mulher alega homicídio culposo, quando não há a intenção de matar.
Com pouco mais de 10 mil habitantes, a cidade de Planalto, na Região Norte do estado, está em choque após a morte do menino Rafael Mateus Winques, de 11 anos. A professora Ladejane Ravagió, que deu aulas para Rafael no ano passado, quando o menino estava no 5° ano, relata que ele “era um exemplo de aluno”.
“Ele era muito estudioso, tinha boas notas. Um aluno de bom comportamento. Era meigo, era tímido, reservado, carismático com os colegas, um guri de fácil amizade”.
“Estamos todos estarrecidos com o que aconteceu, foi muito chocante, ninguém nunca imaginou algo assim, um desfecho tão triste e tão trágico, principalmente, pelo envolvimento da mãe. Ninguém esperava isso, até pelo comportamento dela durante todos esses anos, de ter muito cuidado com os dois filhos dela”, afirma.
A criança, que estava desaparecida desde o dia 15 de maio, foi encontrada morta na segunda-feira (25). Segundo a polícia, a mãe Alexandra Dougokenski admitiu ter dado medicamentos ao filho e mostrou o local onde deixou o corpo.
Um dos advogados de Alexandra, Jean Severo, disse à RBS TV que ela “admite que o menino morreu e que foi um homicídio culposo, ela não teve, em nenhum momento, intenção de matar o filho. Ela deu um remédio, pelo que consta, do irmão, e o menino, para ela, veio a óbito naquele momento”.
No entanto, o laudo do Posto Médico-Legal de Carazinho concluiu, na terça (26), que Rafael morreu por asfixia mecânica por estrangulamento.
Segundo a educadora, a criança parecia ter um bom relacionamento com a mãe, e nunca suspeitaram de qualquer indício de violência familiar.
“Ela sempre muito cuidadosa com o menino, mandava ele para o colégio sempre acompanhando ele, sempre limpinho, bem vestido. Um guri bem cuidado pela mãe”, conta.
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Comunidade está abalada com o acontecimento — Foto: Juliano Castro/RBS TV
A professora disse que a comunidade ajudou nas buscas pelo menino quando ele estava desaparecido. Grupos foram criados com o objetivo de encontrá-lo.
“Toda a comunidade chora, comunidade está muito triste, desolada, é algo horrível o que aconteceu, ninguém consegue acreditar”.
Pela cidade, cartazes de luto foram colocados.
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Mensagens de luto foram colocadas pela cidade de Planalto — Foto: Juliano Castro/RBS TV
Relato da mãe
Inicialmente, a mãe divulgou que o filho havia desaparecido. A Polícia Civil começou a investigar o caso. Alexandra chegou a dar entrevista à RBS TV, dizendo que queria o filho de voltasse para casa.
Na última segunda-feira, em um novo depoimento à polícia, a mãe confessou que havia dado medicamentos para Rafael se acalmar. Segundo ela, ele estava agitado porque ela havia tirado o celular dele.
“Teria dado dois comprimidos de Diazepam para que ele dormisse com tranquilidade. Na madrugada, ela teria acordado e verificado, segundo ela, que a criança estava morta. Como que ela tinha a certeza que a criança estaria morta e não apenas desmaiada? Ela enrolou a criança no lençol, colocou fios em alguma parte do corpo e foi arrastando, segundo ela, até a residência ao lado”, afirma o delegado Joerberth Nunes, diretor do Departamento de Polícia do Interior (DPI).
Após a confissão da mulher, agentes encontraram o corpo da criança em uma casa abandonada a cerca de cinco metros da residência que o menino morava com a mãe.
A mulher foi então presa temporariamente, após a Justiça aceitar o pedido da Polícia Civil. Ela está agora no sistema penitenciário.
O advogado da mãe disse ainda que “na realidade, não existe motivo, foi uma tragédia, uma fatalidade”. Ele acrescentou que provavelmente ela vai ser ouvida novamente nesta quarta (27).
“Isso é um processo psicológico que acontece com o ser humano. Ela não queria ser presa, ela não queria ficar longe do filho, ela não queria ter esse pré-julgamento que ela está tendo da sociedade. Isso é compreensível”, acrescenta Severo.
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Mãe de Rafael Mateus Winques confessou morte do filho, disse a polícia. — Foto: Polícia Civil/Divulgação
‘Muito serena e muito tranquila’, diz polícia sobre a mãe
O delegado Joerberth contou que a mãe foi ouvida diversas vezes, e algumas questões começaram a intrigar os investigadores.
“Com o número de depoimentos que tínhamos, nós voltamos nosso radar para o comportamento da mãe. Primeiramente, o estado anímico da mãe. Desde o primeiro contato com a Polícia Civil, até o último contato que ela teve, uma pessoa muito serena e muito tranquila em relação aos fatos”, explica.
A chefe da Polícia Civil, delegada Nadine Anflor, disse que desde o início, as autoridades suspeitavam da participação de alguém da família, caso houvesse um possível homicídio.
“Homicídio que foi cometido pela mãe, mas que não se pode, até então, afirmar se somente por ela. Temos que apurar ainda vários fatos do que aconteceu na noite do crime”, relata a delegada.
A polícia informou que viu semelhanças entre a morte de Rafael e o caso do menino Bernardo Boldrini, morto em 2014, em Três Passos. O pai e a madrasta de Bernardo, e mais duas pessoas, foram condenados pelo homicídio no ano passado.
“Começamos a analisar o caso Rafael com o do menino Bernardo. Fizemos contato imediato com a doutora Caroline Bamberg [delegada do caso Bernardo], e na data de hoje ela já estaria se dirigindo para analisar os fatos. Ela disse: ‘Olha, isso é muito similar ao caso Bernardo'”.

‘Muito dolorido uma mãe fazer isso com um filho’, diz pai do menino
Rodrigo Winques, o pai de Rafael, mora em Bento Gonçalves. Segundo o delegado Ercílio Carletti, ele tinha pouco contato com o filho e com a ex-companheira.
“Com o filho, eram visitas esporádicas, pagava a pensão alimentícia e conversava às vezes. Não era próximo”, diz Carletti.
Em entrevista à RBS TV, Rodrigo afirmou que o menino era tranquilo, estudioso e que deixa muitos amigos na comunidade. Ele explica que falava por WhatsApp com Rafael, mas que a mãe não gostava do contato entre eles.
“Acho muito dolorido uma mãe fazer isso com um filho”, lamenta.
Já o irmão mais velho de Rafael, que tem 16 anos, foi retirado da casa e levado para a casa de parentes. O Ministério Público irá acompanhá-lo, já que o pai é falecido.
No momento do crime, segundo a polícia, o adolescente estaria dormindo e não teria testemunhado nada.
Perícia na casa
O Instituto Geral de Perícias (IGP) de Passo Fundo fez testes com luminol, que revela a presença de sangue, na sexta-feira (22), na residência onde o menino residia com a mãe, na casa da avó dele e também em um carro que estava na casa da mãe.
Conforme a perícia, foram encontrados vestígios do que parece ser sangue no veículo, que foram colhidos e enviados para análise em Porto Alegre, para confirmar se é sangue humano. O IGP e a polícia aguardam os resultados.
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Rafael Mateus Winques tinha 11 anos. — Foto: Polícia Civiçl/Divulgação
Fonte: G1