Sérgio Moro anuncia saída do governo Bolsonaro

Ex-ministro da Justiça considerou ofensivo ato que terminou com exoneração de diretor-geral da PF.

 

Sergio Moro não é mais ministro da Justiça. Com um discurso forte, permeado por revelações importantes, o anúncio da saída foi feito nesta sexta-feira, em Brasília, horas depois da confirmação da demissão do diretor-geral da Polícia Federal. Moro é o segundo ministro a deixar o governo federal em pouco mais de uma semana.

O discurso de saída de Sergio Moro começou elencando os seus principais feitos à frente da pasta do Ministério da Justiça e Segurança Pública, a exemplo do que então ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta fez na sua manifestação de despedida.

Aos poucos, Moro começou a deixar claro que já não era mais bem-vindo no cargo de ministro da Justiça, com sinalizações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro. A principal questão citada por ele foi a autonomia da Polícia Federal e a razão para uma troca na diretoria-geral. Segundo o agora ex-ministro, o chefe de Estado admitiu que a exoneração de Valeixo era uma interferência política e que o desejo era ter no cargo alguém mais próximo. “O presidente me disse, mais de uma vez, que ele queria alguém com quem tivesse o contato direto, que pudesse ligar, obter relatórios de inteligência e informações. E este não é papel da Polícia Federal revelar este tipo de coisa. A autonomia da PF é um valor fundamental que precisa ser preservado no estado de direito”, disse Moro.

Moro afirmou que não tinha problema em trocar o diretor-geral da Polícia Federal, mas explicou que precisava de um motivo. “Sempre disse que não tinha problema, mas eu precisava de uma causa. Mau desempenho, um erro grave. O que eu observava, porém, era um bom desempenho, um bom trabalho. As operações e as quedas nos índices de criminalidade indicavam isso. Não é uma questão de nome, até porque existem outros bons nomes. O grande problema de trocar era que haveria a violação de uma promessa”, argumentou citando que havia recebido carta branca de Bolsonaro antes do começo da gestão no Ministério da Justiça.

O ex-ministro ainda recordou que a interferência na PF não havia ocorrido em gestões anteriores. “Não tinha uma causa e haveria uma interferência na Polícia Federal, caindo assim a credibilidade da instituição. Iria gerar uma desorganização. Isso não aconteceu na Lava Jato, a despeito de todo os casos de corrupção”, lembrou.

Pedidos por trocas em outros cargos 

Sergio Moro esclareceu ainda que, anteriormente, Bolsonaro já havia solicitado mudanças em superintendências da Polícia Federal, em especial a do Rio de Janeiro. “Houve o desejo de trocar o superintendente da PF no Rio e eu não via motivo para isso. Acabou que o próprio superintendente manifestou o desejo de sair. Então, em conversa com o (Maurício) Valeixo, acabei concordando. Não é meu papel indicar pessoas para estes cargos. Sempre dei autonomia ao pessoal que trabalha comigo para que eles fizessem as melhores escolhas. Isso é uma equipe e não há subordinados”, argumentou.

Nome preferido 

Jornais do centro do país indicam que o atual ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Jorge Oliveira, homem de confiança de Bolsonaro, pode ser o novo ministro da Justiça. Oliveira é ex-policial militar e advogado.

Jorge Oliveira também foi assessor jurídico do então deputado federal Jair Bolsonaro e chefe de gabinete do deputado federal Eduardo Bolsonaro. Em 1 de janeiro de 2019, assumiu a subchefia de Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República no governo Bolsonaro. No dia 21 de junho de 2019, assumiu a função de ministro-chefe da Secretaria Geral.

 

Fonte: Correio do Povo