A pequena Lelê passou depressa pela vida e voou como um passarinho para o céu

A história a ser relatada, a seguir, vai ser semelhante a de muitas mães que infelizmente perdem seus filhos. Uma inversão da ordem natural da vida, onde nascemos, crescemos envelhecemos, perdemos nossos pais e depois de idosos, morremos. A ideia é que aconteça desta forma, mas nem sempre é assim e, muitas vezes na trajetória da existência de cada um, muitas surpresas podem acontecer, dentre elas, tragédias familiares.

 

A história da pequena Leandra Nunes Bueno foi como aquelas visitas que nos enchem de alegria quando chegam, mas partem logo e nos enchem de uma saudade eterna. A menina tão linda, gerada com tanto amor dentro do ventre de sua mãe não resistiu às complicações de um parto prematuro e passou feito passarinho pelos céus e deixou os olhos lacrimejados de tristeza de sua mãe, pai e irmãos.

“É impossível descrever a dor da minha alma e entendo que a mesma devia ser sentida e chorada com veemência a cada semana posterior de sua partida. Às vezes estou bem, mas o choro vem e não consigo controlar. Ainda não consegui aceitar, doí muito, porque sei o quanto ela foi amada e seria ainda mais” – disse Pamela Nunes.

Mesmo muito emocionada, ela aceitou falar com a reportagem depois da perda da pequena “Lelê”, como carinhosamente chamava a filha Leandra que lutou pela vida durante cerca de um mês e quatro dias na UTI NEO em Santa Cruz do Sul.

Pamela conta que a princesa nasceu prematura, de seis meses, com pouco mais de 600g. Mas foi valente e resistiu a uma cirurgia realizada em um hospital de Santa Cruz depois de uma transferência de urgência em razão de uma bactéria que perfurou o intestino da bebê. ” Saímos daqui, com tudo organizado pela Dra Marilene, que foi sensacional. Fomos de avião com a equipe da Unimed, um atendimento que é impossível descrever em palavras pelo acolhimento e carinho. Quando chegamos em Santa Cruz, uma equipe já nos aguardava e, logo que chegamos no hospital, já falamos com o médico e, no mesmo dia, minha Lelê fez a cirurgia. Ela saiu super bem, durante oito dias teve uma recuperação maravilhosa, estava até mesmo ganhando peso. Minha pequena chegou atingir mais de 900g. Eu esgotava o leite pra ela” – comentou.

Mas depois desse período, houve um imprevisto e a princesa foi diagnosticada com pneumonia e, infelizmente não resistiu. Ela faleceu na madrugada de domingo do último dia 12. ” Neste dia, meu marido iria pra lá, mas não chegou a tempo de vê-la com vida, pois ela partiu na madrugada. Até ele chegar, eu fiquei perdida, não tinha quem abraçar, no ombro de quem chorar, porque os profissionais da área de saúde fizeram muito por mim. Mas aquela dor, eu tive que sentir sozinha.

Enquanto aguardava a liberação do corpo da minha pequena, resolvi deixar uma carta no mural da UTI Neo, pois ali estavam muitos relatos, inúmeras fotos, mas de mães que saíram de lá com seus pequenos nos braços e, eu, não tive essa oportunidade. Imaginei que eu poderia ser a primeira a deixar uma mensagem. Na carta escrevi: hoje queria abraçar todos vocês, desde a faxineira até o médico. Todos aqueles que durante todo o período que estive aqui, mais de um mês, foram muito acolhedores, recebi carinho, amor e muita força de cada um a cada grama que minha princesa ganhava. A comemoração não era só minha, era de todos, de uma equipe inteira. Não tenho como colocar o nome de todos, mas quero que vocês sintam-se abraçados por mim e minha princesa Lelê” – disse Pamela como uma forma de agradecimento por toda atenção e amparo que recebeu naqueles dias que foram inteiros de esperança e que precisou ficar sozinha, pois o esposo estava em Alegrete com os outros filhos.

“Meu conforto está em atirar-me nos braços da fé, buscando consolo em algo maior e no amor da família. Arranquei forças de dentro de mim que não imaginava existir e tenho gratidão a Deus pelo tempo que ela esteve aqui. Mas ao mesmo tempo, me questiono, o motivo que ela foi arrancada de mim, se tem muitos pais que maltratam e matam os filhos. Nossa Lelê foi amada desde o primeiro dia em que soube da gravidez e tudo estava se ajustando para recebê-la. As roupinhas, as reformas na casa, tudo era pensado nela, por mim, pelo pai e os irmãos”- citou.

Durante o período em que esteve hospitalizada, aqui em Alegrete foi realizada uma pastelada para ajudar, também estamos organizando uma outra ação pois o funeral não foi pago, apenas uma entrada para a Funerária Angelus, que também, nos acolheu. A equipe fez todo trabalho para que nossa pequena tivesse o funeral, mas ainda precisamos concluir o pagamento, pois ela veio de Santa Cruz para Alegrete em um transporte que de longe. Eu nunca na minha existência pensei em passar por isso. Ela foi apressada, nasceu prematura, mas não iria jamais me sentir cansada por ficar dias e noites no corredor do hospital esperando por notícias dela, embora ela tivesse que ficar por mais um mês lá. O mais importante seria trazê-la em meus braços” – falou emocionada.

 

Para ser mãe de prematuro é preciso muita fé, mas o luto te leva ao desespero e parece que é só você e Deus. “Enquanto ela estava na UTI Neo, era joelho no chão pedindo por um milagre. Acredito que somente a fé é o alicerce maior para as mães que são perseverantes, resilientes, lutadoras e frágeis a ponto de desabar a qualquer momento, mas, paradoxalmente com uma força absurda”- concluiu.

Toda a força que talvez venha de um útero vazio antes do tempo, também demonstra que a vida é algo inexplicável. Não importa se os filhos viverão 9 meses e 3 dias ou 93 anos, o mais importante é que eles sintam o amor puro e verdadeiro, que desde o primeiro momento sejam inundados de carinho, afeto e que em qualquer circunstância sejam acolhidos pelos pais.

Pamela reside no bairro Promorar com o esposo Leandro de Freitas Bueno e os outros filhos Renata 21 anos, André 19 anos, Gabriel 16 anos, Emily 8 anos, Matheus 11 anos e Tiago 7 anos.

“Matheus e Tiago são meus filhos do coração são apenas filhos do meu marido, mas os recebi com muito amor. Renata, André, Gabriel e Emily são apenas meus. Quando iniciei relacionamento com meu esposo ele já estava viúvo.

Nossa princesa Lelê como a gente chamava, veio pra aumentar nossa grande família. Hoje nossa estrelinha brilha no céu, era meu melhor sonho agora é minha maior saudade” – completou.

Flaviane Antolini Favero