
Cada nome naquele abaixo-assinado carregava não apenas apoio, mas também esperança de que outras famílias não enfrentem o que ele enfrentou.
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João, presidente da Escolinha Cruzeiro e trabalhador autônomo, perdeu a esposa Maria Santa da Silva, de 53 anos, no dia 3 de junho, após 24 dias de internação em Uruguaiana. A história começou no dia 9 de maio, quando o casal estava em uma loja no centro de Alegrete. Maria Santa queixou-se de uma forte dor de cabeça. “Ela falava, caminhava, parecia algo simples. Mas eu senti que não era”, contou ele ao Alegrete Tudo, emocionado. João a levou imediatamente para a UPA, onde foi diagnosticada com aneurisma cerebral. Ainda estável, foi transferida para Uruguaiana, referência no atendimento.
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Foram quatro dias em Alegrete e mais de três semanas em Uruguaiana. Dias que João descreve como os piores de sua vida. A cirurgia estava prevista para o 13º dia de internação. Ela ficou de jejum, aguardando. Mas, pouco antes do horário previsto, o médico informou que por um imprevisto não poderia realizar o procedimento naquele dia. “Minha esposa esperou, sem comer, ansiosa, e naquela noite convulsionou. O quadro dela piorou muito e pouco tempo depois foi constatada morte cerebral”, relatou. Com a voz embargada, completou: “Não sei se a cirurgia teria mudado o resultado. Mas a dor maior é saber que ela esperou um procedimento que não aconteceu por um motivo que nunca nos explicaram.”
Foi dessa dor que João tirou forças para agir. Durante 30 dias, percorreu empresas da cidade buscando assinaturas para reivindicar um neurocirurgião em Alegrete. Para ele, era uma forma de transformar sua perda em solidariedade. “Se eu puder evitar que outra família passe pelo que a minha passou, já valeu a luta.”
Por coincidência, no mesmo dia da entrega do abaixo-assinado no Ministério Público de Alegrete, a Santa Casa de Alegrete anunciou a contratação do neurocirurgião César Ajala Vieira. Formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com residência médica no Instituto de Neurocirurgia de Porto Alegre, ele passou a atender tanto pelo Sistema Único de Saúde (SUS), via Tratamento Fora de Domicílio (TFD), quanto pelo Carisaúde, cartão de descontos do hospital.
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No primeiro dia de atuação, a agenda do neurocirurgião foi preenchida completamente, demonstrando a alta demanda reprimida. “É um profissional que chega para somar e reduzir filas de espera, antes encaminhadas para Uruguaiana”, informou a Santa Casa, destacando seu atendimento humanizado.
João conversou, durante o período de coleta de assinaturas, com o prefeito Jesse Trindade e com o provedor da Santa Casa, Roberto Segabinazzi. Ele reconhece que a contratação não foi resultado exclusivo de seu abaixo-assinado, mas acredita que cada gesto de cobrança fortalece a mudança. “A luta é individual, mas se torna mais leve quando há empatia. Minha esposa se foi, mas talvez a vida de outra pessoa seja salva aqui mesmo em Alegrete.”
Em meio ao luto, João carrega a certeza de que sua dor não foi em vão. Uma frase resume seu sentimento: “Nem toda perda pode ser evitada, mas toda vida merece ter a chance de lutar até o fim.”