Casos graves de coronavírus não precisam ser tratados somente com respiradores, afirma especialista

Em simpósio, um dos pioneiros no tratamento da covid-19 no país destacou série de medidas que auxiliam na recuperação.

Um dos pioneiros no tratamento de pacientes com coronavírus no Brasil, Barros Franco, pneumologista e professor da Escola Médica da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), afirmou que ventiladores mecânicos não precisam ser a primeira opção de tratamento para pessoas internadas por covid-19. O especialista reforçou que esse recurso mais invasivo pode ser substituído pelo que ele denomina de boa prática médica.

A declaração tem fundamentação teórica em estudos internacionais e também na prática do grupo de cinco médicos que, assim como Barros Franco, tratam pacientes graves positivados para covid-19 desde a chegada da pandemia ao Brasil. Para o pneumologista, a mudança no tratamento de indivíduos em situação crítica fez aumentar a sobrevivência das pessoas, justamente, porque foram introduzidas técnicas menos agressivas e invasivas no rol de alternativas.

— Essas práticas dizem respeito à orientação para que o paciente fique em prona (de barriga para baixo), para que deite sobre lado do corpo que tenha o pulmão menos danificado pela doença, e também que faça uso de administração de oxigênio a alto fluxo nasal, fisioterapia e ventilação por máscara — exemplifica.

Franco ressalta que parte dos internados apresentarão agravamento do quadro de saúde e precisarão do auxílio do respirador. Sua ressalva, porém, diz respeito à utilização deste método como primeira opção de tratamento:

— Esta técnica expõe o paciente, deixando-o mais sujeito, por exemplo, a pneumonia bacteriana, associada à ventilação mecânica. Além disso, o paciente precisa ser sedado para fazer uso de ventilador, e isso pode causar uma alteração neurológica. Por fim, doentes entubados podem desenvolver insuficiência renal e precisar de diálise (procedimento que mantém o equilíbrio do seu corpo, por meio da correção dos níveis de substâncias tóxicas presentes no sangue).

O hematologista Daniel Tabak, membro da Academia Nacional de Medicina e organizador do simpósio, aborda outras descobertas que foram feitas ao longo dos meses.

— Pessoas do grupo sanguíneo A tiveram reação mais grave à doença, porque não apresentam as defesas que outros tipos têm. E um Estudo da Sociedade Europeia de Cardiologia apontou que há mais receptores do coronavírus no sangue masculino, o que facilita a infecção das células do corpo — afirma.

Tabak pontua que essas respostas auxiliam na busca por tratamentos mais eficazes para a covid-19:

— Temos de lidar com fatos para prescrever alternativas corretas. Um estudo equivocado pode fazer com que uma decisão ou recomendação errada seja tomada e isso seria de um prejuízo enorme. Indicar medicamento “X”, mesmo que não tenha apresentado resultado positivo, é um erro, porque faz com que as pessoas acreditem que ele funcione, saiam ainda mais de casa e deixem de lado o uso da máscara e os cuidados básicos de higiene.

Fonte: Gaúcha/ZH