Com Presídio Central interditado, presos de facções rivais brigam em celas de delegacia

Delegacias da Região Metropolitana estavam com 48 detidos e conseguiu transferir a maioria após relutância da Justiça

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Uma briga irrompeu ao meio-dia desta quarta-feira entre os 17 presos que estão no xadrez da 2ª Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (2ª DPPA), na Avenida Ipiranga, coração de Porto Alegre.

Nenhum preso deveria estar ali, nas celas. O normal é que sejam detidos e, horas depois, conduzidos ao Presídio Central de Porto Alegre. Desde meados da década de 80 os presos do Rio Grande do Sul só ficam em presídios e nenhuma delegacia é autorizada a guardá-los, até por falta de condições sanitárias e de segurança.

O problema é que a penitenciária da Capital não está recebendo novos detentos desde o fim da tarde de terça-feira. O motivo é uma interdição automática da Justiça, acionada quando a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) não consegue transferir quem está na casa prisional há mais de 24 horas.

A transferência não aconteceu porque não há vagas no sistema prisional. Num efeito cascata, todos que foram presos desde terça passaram a noite nas delegacias da Capital.

O tumulto na 2 ª DPPA aconteceu por dois motivos: presos de facções diferentes acabam se encontrando — e têm contas a acertar. E, também, porque quase duas dezenas estão amontoados numa cela pequena, sem banho e sem visitas. Estavam também sem comida, mas a Susepe providenciou almoço nesta quarta-feira.

No Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), os sete presos numa operação realizada pela Delegacia de Roubo de Cargas também ficaram sem comida. Penalizado, um policial civil tirou dinheiro do bolso e comprou um cheeseburguer para dividir entre os mais famintos.

— Essa situação não pode durar. Delegacia não é presídio, policial não é carcereiro, e os presos precisam de situação minimamente digna — reclama o delegado Juliano Ferreira, da Delegacia de Roubo de Cargas.

Ao todo são 48 detidos que estavam em delegacias da Capital nesta quarta: sete no Deic, 17 na 2ª DPPA (Avenida Ipiranga), dois na 3ª DPPA (Rua Comendador Tavares, Zona Norte) e os demais espalhados em DPPAs de Canoas, Viamão, Alvorada e Gravataí. A imensa maioria são de presos em flagrante delito.

Responsável pelas DPPAs, o delegado Marcelo Moreira diz que conseguiu, junto ao juiz Sidinei Brzuska, permissão para “excepcionalmente” transferir ao Presídio Central todos os presos provisórios (que não têm condenação). Foram transferidos 32 dos 39 que ele abrigava. Foram sendo enviados em grupos de dois, em viaturas da própria Polícia Civil.

— Os demais vão ficar conosco, por enquanto, mesmo que não tenhamos condições mínimas para isso — pondera o delegado.

Neste final de tarde ainda estão em delegacias 16 presos, na maioria condenados.

 

Fonte: Zero Hora