Enterros das vítimas de Covid-19 tornam a separação muito mais dolorosa

Em tempos de pandemia do novo coronavírus, o risco de contágio faz com que a mudança seja drástica no momento do luto. Caixões lacrados impõem nova forma de encarar a morte e a dor da perda do ente querido.

A despedida, diante da morte, ao longo dos séculos sempre foi um ritual de dor, mas uma necessidade para aplacar a dor da separação.

Com a covid -19, esses rituais, que tinham função apaziguadora não estão acontecendo, e isso pode representar um risco para o luto, pois vai ficar a lacuna da despedida. Em muitos relatos de famílias que perderam seus familiares, a dor muitas vezes é transformada em oração. ” Das famílias que conversaram com a reportagem, a mensagem foi a mesma: é preciso conscientização, cuidado e empatia. O vírus está aí e já está mostrando de forma veloz e cruel a sua força. Quem puder deve ficar em casa, fazer sua parte na higienização e no uso da máscara” –  salientaram.

Em Alegrete, a reportagem acompanhou uma funerária em um dos enterros.

A transmissão de doenças infecciosas, como a COVID-19, também pode ocorrer por meio do manejo de corpos. Por isso, é fundamental que todos os profissionais que realizam o trabalho estejam com EPI individual. Desta forma, estarão protegidos da exposição de fluidos corporais, objetos ou outras superfícies contaminadas.

 

Em conversa com o gerente da Funerária Angelus, Marcelo Silva da Luz, ele esclareceu que o corpo já saí embalado, de forma que o trabalho dos agentes é somente colocar na urna até o Cemitério. Toda a preparação é feita pela Santa Casa, ala Covid-19.

Os agentes têm todos os EPIs indicados pela OMS, que corresponde  ao macacão, luvas, botas específicas, máscara com carvão ativo e óculos. Após a remoção, um higieniza o outro para tirar a roupa, por isso, sempre ocorre em duplas. É feita a pulverização de kiboa e álcool 70% para tirar a roupa. Na sequência, o funcionário faz a higienização com um banho para ficar ainda mais seguro. Todos tiveram treinamento rigoroso.

Marcelo explica que a preparação dos funcionários, se dá antes e depois da remoção do corpo. Também é realizada a higienização em todo o veículo.” Todo o macacão que é usado é descartado. A roupa não pode ser reutilizada” – comenta.

Os cuidados são muito rigorosos, também, no Cemitério. O administrador Carlos Romeiro  falou com a reportagem e descreveu que os cuidados são minuciosos. A equipe que trabalha no sepultamento está totalmente equipada. O local onde é feito o enterro é em uma área específica no Cemitério para pessoas suspeitas ou positivadas com novo coronavírus. O protocolo começa quando a equipe é comunicada e, posteriormente, são feitos todos os contatos entre funerária e Cemitério. A van que transporta o corpo entra por um portão lateral e vai direto para o espaço reservado.

Em Alegrete, há três funerárias, Angelus, Santa Clara e Paraíso. Todas estão cumprindo todas as medidas de segurança para este momento que está sendo ainda mais difícil para os familiares.

A despedida e os velórios são rituais que fazem parte do luto. Sem ter como ver ou estar nos últimos momentos com os entes queridos, a dor da perda pode ser ainda mais complexa.

Até o momento, em Alegrete, houve cinco enterros na área Covid-19, de pessoas positivadas e outro de uma pessoa com suspeita. Neste caso, ocorreu todo o protocolo de cuidados,  posteriormente chegou o resultado e o teste deu negativo.

 

Flaviane Antolini Favero